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Feiras do Nordeste crescem com renda maior
Com preços baixos, comércio avança tanto em eventos tradicionais, como o de Caruaru, como em localidades menores
Bolsa Família, ampliação do crédito, aumento do salário mínimo e da oferta de emprego são alguns dos motivos para o crescimento
DA AGÊNCIA FOLHA
O aumento do poder de compra das classes de menor renda
provocou um crescimento das
feiras livres, principalmente
nas regiões metropolitanas do
Nordeste. Além de alimentos,
as feiras vendem roupas e artesanato a preços inferiores aos
do comércio formal.
Muitos dos produtos vendidos nas ruas são feitos pelos
próprios feirantes e por suas famílias, em pequenas fábricas
montadas em casa. Com margens de lucro mínimas, geradas
na informalidade, as peças de
roupa são vendidas a menos
de R$ 20.
O crescimento foi sentido
tanto nas feiras pequenas, nas
regiões metropolitanas das capitais, como nas tradicionais,
como a de Caruaru (a 136 km de
Recife), que vende boa parte
das roupas produzidas no polo
têxtil local. Na de Juazeiro do
Norte (a 585 km de Fortaleza),
o número de comerciantes (hoje, há mais de 1.800 feirantes
cadastrados) cresceu 30% em
cinco anos.
Em Simões Filho (região metropolitana de Salvador), a prefeitura registrou aumento de
60% no número de comerciantes informais nos últimos quatro anos. O crescimento desordenado fez a prefeitura transferir os comerciantes para o mercado municipal. Eles ocupam
agora o estacionamento, onde
foram improvisadas tendas e os
936 boxes ficaram lotados.
Em Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza, a prefeitura estuda construir um
mercado para abrigar os feirantes. Segundo a prefeitura, o aumento do comércio popular se
intensificou a partir de 2007.
"O crescimento das feiras
cria alguns problemas para a
circulação das pessoas, mas dá
emprego e movimenta a economia, mesmo na informalidade",
disse o secretário da Administração de Caucaia, José Castelo
Branco Crisóstomo.
Em Itaitinga, também na região metropolitana de Fortaleza, os feirantes cadastrados na
prefeitura passaram de 77 para
110, entre 2008 e 2009.
Em Cascavel -que tem uma
das maiores feiras do Ceará, na
qual é possível comprar desde
galinha até bicicleta-, a prefeitura aumentou no ano passado
o número de feirantes em 5%
na comparação com 2008.
Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico,
Cláudio Hagihara, o aumento
só não foi maior por falta de espaço para acomodar as barracas. "Gente comprando, tem."
No bairro Ouro Preto, em
Olinda (PE), há fila de espera
com cerca de cem interessados
em participar da feira de confecções. Criada há quatro anos
com apenas dez barracas, a feira possui hoje 80 comerciantes.
Segundo pesquisa da Federação do Comércio do Estado do
Ceará, o faturamento do comércio varejista informal no
Estado cresceu 10% ao ano, em
média, nos últimos cinco anos.
Em 2009, mesmo com crise
econômica, a estimativa é que o
aumento tenha ficado em 9%.
Para o economista Alex Araújo,
superintendente da Fecomércio-CE, grande parte desse
crescimento foi motivada pelo
aumento do consumo da classe
C, que concentra o maior número de consumidores do Ceará, e da classe D/E.
Bolsa Família
Segundo ele, as políticas de
proteção social -como o programa Bolsa Família- e o aumento real no salário mínimo e
na oferta de emprego, além da
ampliação do crédito, favoreceram a entrada de novos consumidores no mercado. "É como
se fosse descoberto um país novo de consumidores", disse.
Em 2009, o Bolsa Família
despejou R$ 12,4 bilhões na
economia de todo o país, aumento de 13,8% em relação a
2008. Só no Ceará, R$ 1,01 bilhão foi repassado a 917 mil famílias. Na Bahia, foi distribuído
R$ 1,66 bilhão, e, em Pernambuco, R$ 1,06 bilhão.
"Programas de transferência
de renda como o Bolsa Família
incentivam, indiretamente, o
empreendedorismo, já que
criam um poder de compra em
classes populares que precisam
ser atendidas por um comércio
local", disse Ricardo Oliveira
Lacerda de Melo, professor de
economia da Universidade Federal de Sergipe e especialista
em desenvolvimento regional.
(SÍLVIA FREIRE, MATHEUS MAGENTA e FÁBIO GUIBU)
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