São Paulo, domingo, 07 de fevereiro de 2010

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Feiras do Nordeste crescem com renda maior

Com preços baixos, comércio avança tanto em eventos tradicionais, como o de Caruaru, como em localidades menores

Bolsa Família, ampliação do crédito, aumento do salário mínimo e da oferta de emprego são alguns dos motivos para o crescimento

DA AGÊNCIA FOLHA

O aumento do poder de compra das classes de menor renda provocou um crescimento das feiras livres, principalmente nas regiões metropolitanas do Nordeste. Além de alimentos, as feiras vendem roupas e artesanato a preços inferiores aos do comércio formal.
Muitos dos produtos vendidos nas ruas são feitos pelos próprios feirantes e por suas famílias, em pequenas fábricas montadas em casa. Com margens de lucro mínimas, geradas na informalidade, as peças de roupa são vendidas a menos de R$ 20.
O crescimento foi sentido tanto nas feiras pequenas, nas regiões metropolitanas das capitais, como nas tradicionais, como a de Caruaru (a 136 km de Recife), que vende boa parte das roupas produzidas no polo têxtil local. Na de Juazeiro do Norte (a 585 km de Fortaleza), o número de comerciantes (hoje, há mais de 1.800 feirantes cadastrados) cresceu 30% em cinco anos.
Em Simões Filho (região metropolitana de Salvador), a prefeitura registrou aumento de 60% no número de comerciantes informais nos últimos quatro anos. O crescimento desordenado fez a prefeitura transferir os comerciantes para o mercado municipal. Eles ocupam agora o estacionamento, onde foram improvisadas tendas e os 936 boxes ficaram lotados.
Em Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza, a prefeitura estuda construir um mercado para abrigar os feirantes. Segundo a prefeitura, o aumento do comércio popular se intensificou a partir de 2007.
"O crescimento das feiras cria alguns problemas para a circulação das pessoas, mas dá emprego e movimenta a economia, mesmo na informalidade", disse o secretário da Administração de Caucaia, José Castelo Branco Crisóstomo.
Em Itaitinga, também na região metropolitana de Fortaleza, os feirantes cadastrados na prefeitura passaram de 77 para 110, entre 2008 e 2009.
Em Cascavel -que tem uma das maiores feiras do Ceará, na qual é possível comprar desde galinha até bicicleta-, a prefeitura aumentou no ano passado o número de feirantes em 5% na comparação com 2008.
Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico, Cláudio Hagihara, o aumento só não foi maior por falta de espaço para acomodar as barracas. "Gente comprando, tem."
No bairro Ouro Preto, em Olinda (PE), há fila de espera com cerca de cem interessados em participar da feira de confecções. Criada há quatro anos com apenas dez barracas, a feira possui hoje 80 comerciantes.
Segundo pesquisa da Federação do Comércio do Estado do Ceará, o faturamento do comércio varejista informal no Estado cresceu 10% ao ano, em média, nos últimos cinco anos.
Em 2009, mesmo com crise econômica, a estimativa é que o aumento tenha ficado em 9%. Para o economista Alex Araújo, superintendente da Fecomércio-CE, grande parte desse crescimento foi motivada pelo aumento do consumo da classe C, que concentra o maior número de consumidores do Ceará, e da classe D/E.

Bolsa Família
Segundo ele, as políticas de proteção social -como o programa Bolsa Família- e o aumento real no salário mínimo e na oferta de emprego, além da ampliação do crédito, favoreceram a entrada de novos consumidores no mercado. "É como se fosse descoberto um país novo de consumidores", disse.
Em 2009, o Bolsa Família despejou R$ 12,4 bilhões na economia de todo o país, aumento de 13,8% em relação a 2008. Só no Ceará, R$ 1,01 bilhão foi repassado a 917 mil famílias. Na Bahia, foi distribuído R$ 1,66 bilhão, e, em Pernambuco, R$ 1,06 bilhão.
"Programas de transferência de renda como o Bolsa Família incentivam, indiretamente, o empreendedorismo, já que criam um poder de compra em classes populares que precisam ser atendidas por um comércio local", disse Ricardo Oliveira Lacerda de Melo, professor de economia da Universidade Federal de Sergipe e especialista em desenvolvimento regional.
(SÍLVIA FREIRE, MATHEUS MAGENTA e FÁBIO GUIBU)



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