São Paulo, domingo, 07 de março de 2010

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Crise encolhe o cachê antecipado de astros do cinema

Queda nas vendas de DVDs e resultados mais fracos nas bilheterias levam a corte no salário de atores de Hollywood

Estúdios têm insistido para que artistas abram mão de pagamentos iniciais em troca de porcentagem dos lucros dos filmes

MICHAEL CIEPLY
DO "NEW YORK TIMES", EM LOS ANGELES

Os astros do cinema, que não muito tempo atrás disputavam salários de US$ 20 milhões ou até US$ 25 milhões por filme, viram seus pagamentos iniciais encolher nos últimos anos, devido à queda nas vendas de DVDs, aos tropeços de algumas grandes produções nas bilheterias e às medidas de cortes de custos cada vez mais firmes adotadas pelos estúdios.
A maioria das cerca de três dúzias de atores que receberam créditos como protagonistas nos dez títulos que disputam o Oscar de melhor filme hoje, entre os quais grandes sucessos de bilheteria como "Avatar" e "Up - Altas Aventuras", parecem ter recebido cachês comparativamente minúsculos.
Combinados, os salários estimados para todos os dez indicados ao prêmio de melhor ator e atriz representam valor apenas um pouco mais alto que os US$ 20 milhões que Julia Roberts embolsou por "Erin Brockovich, Uma Mulher de Coragem", candidato a melhor filme em 2001, ou que o salário de Russell Crowe por "Mestre dos Mares", indicado em 2004.
Peter Dekom, advogado especializado em cinema que coescreveu um livro sobre as tendências futuras de Hollywood, atribui a desvalorização geral dos astros de cinema à falta de interesse dos espectadores mais jovens por eles.
"Astros não importam muito para a turma que se interessa acima de tudo pela próxima onda", teoriza Dekom.
"Eles atraem mais uma audiência acima dos 30 anos, que reduziu suas idas ao cinema devido à crise econômica."
Os salários e os termos de contrato específicos são notoriamente difíceis de descobrir.
O filme "Amor sem Escalas", estrelado por George Clooney, foi realizado por cerca de US$ 25 milhões. Isso só foi possível porque Clooney, de acordo com pessoas familiarizadas com os aspectos financeiros da produção, mas que pediram que seus nomes não fossem mencionados, aceitou um cachê inicial de cerca de 10% dos US$ 20 milhões que Leonardo DiCaprio, ator frequentemente indicado ao Oscar, vinha recebendo por filme no passado recente.
Houve tempo em que os maiores astros eram recompensados com contratos que lhes propiciavam porcentagem sobre a receita bruta de um filme, antes mesmo que o estúdio envolvido recuperasse o dinheiro investido na produção.
Agora, os estúdios muitas vezes insistem para que os astros abram mão de pagamentos em troca de uma porcentagem dos lucros, paga depois.
A forma de contrato preferida hoje em dia leva o apelido "CB zero" e se refere a um arranjo pelo qual o astro ou o diretor começam a receber participação nos lucros assim que o estúdio recupera seus custos de produção.

Contratos lucrativos
Contratos como esse podem ser imensamente lucrativos, caso ofereçam aos astros uma parcela substancial nas receitas de venda de DVDs.
Por isso, Sandra Bullock, que reduziu seu cachê habitual de US$ 10 milhões à metade para fazer "Um Sonho Possível", outro dos indicados deste ano, vai lucrar US$ 20 milhões ou mais com a produção, devido ao sucesso conquistado.
Clooney também deve faturar alguns milhões adicionais quando a receita final de "Amor sem Escalas" for calculada.
Raros astros, e em raras circunstâncias, continuam a conseguir contratos como os vigentes cinco anos atrás.
Na lista de indicados ao Oscar de melhor filme deste ano, o astro que parece ter conquistado o maior cachê é Brad Pitt, por sua participação em "Bastardos Inglórios".
Pessoas informadas sobre a estrutura financeira da produção afirmam que ele levou US$ 10 milhões em cachê e que pode faturar ainda mais com sua participação nos lucros.
Mas os coastros de Pitt e os astros de filmes impressionantes como "Guerra ao Terror", que emergiu como o maior favorito ao Oscar, muitas vezes trabalharam por remuneração bem próxima do piso sindical.
Em geral, os cachês mínimos estipulados sob o contrato coletivo entre o Screen Actors Guild e os estúdios são da ordem de US$ 65 mil para um ator que protagonize um longa-metragem. Pagamentos adicionais por horas extras são negociáveis. O estúdio precisa cobrir os custos de alimentação do ator e lhe propiciar repouso.
Os cachês de alguns dos atores de "Distrito 9", "Um Homem Sério" e "Educação" eram equivalentes ao piso sindical. Já "Avatar", um filme de orçamento imenso, parece ter reservado seu maior cachê a Sigourney Weaver, embora seja praticamente seguro que ela tenha embolsado apenas uma fração dos US$ 11 milhões que teria recebido por "Alien: A Ressurreição", de 1997.
"Todo ator tem medo de ficar sem trabalho", disse o ator Sam Worthington, de "Avatar", em entrevista ao jornal "Herald Sun", da Austrália, em janeiro.
Ele continuou a trabalhar regularmente, em projetos que serão lançados em breve como "Fúria de Titãs" e "The Texas Killing Fields". "Isso é melhor que ficar sentado esperando que o telefone toque; melhor trabalhar, porque tenho contas a pagar", disse.
"Recebi o pagamento padrão pelas sessões", afirmou Ed Asner, o veterano ator que emprestou sua voz ao idoso aventureiro Carl Fredricksen em "Up - Altas Aventuras", um dos candidatos ao Oscar de melhor filme.
Tipicamente, as oito ou dez sessões requeridas de um ator para um papel em filme de animação valem cachê da ordem de US$ 50 mil, mas apenas se o ator negociar uma garantia que eleve seu pagamento com relação ao piso sindical, que só atinge um terço desse valor.
Ainda assim, Asner diz que terminou recebendo muito mais, porque a divisão Pixar da Disney, a produtora do filme, reforçou seu pequeno cachê inicial com bonificações relacionadas ao sucesso da produção, que faturou mais de US$ 723 milhões nas bilheterias. "Quando o filme se sai bem, você se sai bem", concluiu Asner.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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