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Crise encolhe o cachê antecipado de astros do cinema
Queda nas vendas de DVDs e resultados mais fracos nas bilheterias levam a corte no salário de atores de Hollywood
Estúdios têm insistido
para que artistas abram mão de pagamentos iniciais em troca de porcentagem
dos lucros dos filmes
MICHAEL CIEPLY
DO "NEW YORK TIMES", EM LOS ANGELES
Os astros do cinema, que não
muito tempo atrás disputavam
salários de US$ 20 milhões ou
até US$ 25 milhões por filme,
viram seus pagamentos iniciais
encolher nos últimos anos, devido à queda nas vendas de
DVDs, aos tropeços de algumas
grandes produções nas bilheterias e às medidas de cortes de
custos cada vez mais firmes
adotadas pelos estúdios.
A maioria das cerca de três
dúzias de atores que receberam
créditos como protagonistas
nos dez títulos que disputam o
Oscar de melhor filme hoje, entre os quais grandes sucessos
de bilheteria como "Avatar" e
"Up - Altas Aventuras", parecem ter recebido cachês comparativamente minúsculos.
Combinados, os salários estimados para todos os dez indicados ao prêmio de melhor ator
e atriz representam valor apenas um pouco mais alto que os
US$ 20 milhões que Julia Roberts embolsou por "Erin Brockovich, Uma Mulher de Coragem", candidato a melhor filme
em 2001, ou que o salário de
Russell Crowe por "Mestre dos
Mares", indicado em 2004.
Peter Dekom, advogado especializado em cinema que
coescreveu um livro sobre as
tendências futuras de Hollywood, atribui a desvalorização
geral dos astros de cinema à falta de interesse dos espectadores mais jovens por eles.
"Astros não importam muito
para a turma que se interessa
acima de tudo pela próxima onda", teoriza Dekom.
"Eles atraem mais uma audiência acima dos 30 anos, que
reduziu suas idas ao cinema devido à crise econômica."
Os salários e os termos de
contrato específicos são notoriamente difíceis de descobrir.
O filme "Amor sem Escalas",
estrelado por George Clooney,
foi realizado por cerca de US$
25 milhões. Isso só foi possível
porque Clooney, de acordo com
pessoas familiarizadas com os
aspectos financeiros da produção, mas que pediram que seus
nomes não fossem mencionados, aceitou um cachê inicial de
cerca de 10% dos US$ 20 milhões que Leonardo DiCaprio,
ator frequentemente indicado
ao Oscar, vinha recebendo por
filme no passado recente.
Houve tempo em que os
maiores astros eram recompensados com contratos que
lhes propiciavam porcentagem
sobre a receita bruta de um filme, antes mesmo que o estúdio
envolvido recuperasse o dinheiro investido na produção.
Agora, os estúdios muitas vezes insistem para que os astros
abram mão de pagamentos em
troca de uma porcentagem dos
lucros, paga depois.
A forma de contrato preferida hoje em dia leva o apelido
"CB zero" e se refere a um arranjo pelo qual o astro ou o diretor começam a receber participação nos lucros assim que o
estúdio recupera seus custos de
produção.
Contratos lucrativos
Contratos como esse podem
ser imensamente lucrativos,
caso ofereçam aos astros uma
parcela substancial nas receitas
de venda de DVDs.
Por isso, Sandra Bullock, que
reduziu seu cachê habitual de
US$ 10 milhões à metade para
fazer "Um Sonho Possível", outro dos indicados deste ano, vai
lucrar US$ 20 milhões ou mais
com a produção, devido ao sucesso conquistado.
Clooney também deve faturar alguns milhões adicionais
quando a receita final de "Amor
sem Escalas" for calculada.
Raros astros, e em raras circunstâncias, continuam a conseguir contratos como os vigentes cinco anos atrás.
Na lista de indicados ao Oscar de melhor filme deste ano, o
astro que parece ter conquistado o maior cachê é Brad Pitt,
por sua participação em "Bastardos Inglórios".
Pessoas informadas sobre a
estrutura financeira da produção afirmam que ele levou US$
10 milhões em cachê e que pode
faturar ainda mais com sua participação nos lucros.
Mas os coastros de Pitt e os
astros de filmes impressionantes como "Guerra ao Terror",
que emergiu como o maior favorito ao Oscar, muitas vezes
trabalharam por remuneração
bem próxima do piso sindical.
Em geral, os cachês mínimos
estipulados sob o contrato coletivo entre o Screen Actors
Guild e os estúdios são da ordem de US$ 65 mil para um
ator que protagonize um longa-metragem. Pagamentos adicionais por horas extras são negociáveis. O estúdio precisa cobrir
os custos de alimentação do
ator e lhe propiciar repouso.
Os cachês de alguns dos atores de "Distrito 9", "Um Homem Sério" e "Educação" eram
equivalentes ao piso sindical.
Já "Avatar", um filme de orçamento imenso, parece ter reservado seu maior cachê a Sigourney Weaver, embora seja
praticamente seguro que ela tenha embolsado apenas uma
fração dos US$ 11 milhões que
teria recebido por "Alien: A
Ressurreição", de 1997.
"Todo ator tem medo de ficar
sem trabalho", disse o ator Sam
Worthington, de "Avatar", em
entrevista ao jornal "Herald
Sun", da Austrália, em janeiro.
Ele continuou a trabalhar regularmente, em projetos que
serão lançados em breve como
"Fúria de Titãs" e "The Texas
Killing Fields". "Isso é melhor
que ficar sentado esperando
que o telefone toque; melhor
trabalhar, porque tenho contas
a pagar", disse.
"Recebi o pagamento padrão
pelas sessões", afirmou Ed Asner, o veterano ator que emprestou sua voz ao idoso aventureiro Carl Fredricksen em
"Up - Altas Aventuras", um dos
candidatos ao Oscar de melhor
filme.
Tipicamente, as oito ou dez
sessões requeridas de um ator
para um papel em filme de animação valem cachê da ordem
de US$ 50 mil, mas apenas se o
ator negociar uma garantia que
eleve seu pagamento com relação ao piso sindical, que só atinge um terço desse valor.
Ainda assim, Asner diz que
terminou recebendo muito
mais, porque a divisão Pixar da
Disney, a produtora do filme,
reforçou seu pequeno cachê
inicial com bonificações relacionadas ao sucesso da produção, que faturou mais de US$
723 milhões nas bilheterias.
"Quando o filme se sai bem, você se sai bem", concluiu Asner.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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