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Boom "high-tech" segura Israel na crise
País, que atravessou turbulência sem grandes arranhões, só perde para os EUA em número de novas empresas inovadoras
Com apenas 7 milhões de habitantes, Israel tem 4.000 empresas de tecnologia e o maior índice per capita do mundo de engenheiros
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Sentado em seu escritório, situado num grande shopping
center a poucos metros do mar
Mediterrâneo, o israelense Tal
Keinan abre um sorriso confiante ao ser indagado aonde
pretende chegar com a empresa de tecnologia que fundou
com um amigo em 2006, quando tinha apenas 27 anos.
"Quero ser Google", responde à Folha o jovem de cabelos
longos e jeito de surfista, sonhando com o dia em que o
programa de pesquisa on-line
de sua empresa se torne tão difundido quanto o mecanismo
de busca mais popular da rede.
A ambição de Keinan é um
retrato do setor de tecnologia
de Israel, destaque de uma economia que passou sem grandes
arranhões pela crise global e foi
uma das primeiras a sair dela.
Segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), o país deve crescer 2,4% em 2010, uma
das taxas mais altas entre países desenvolvidos.
Confinada a publicações especializadas ou ofuscada pelas
notícias do conflito, é uma história de sucesso com alguns
números que devem impressionar os empresários brasileiros que acompanharão o presidente Lula em sua visita a Israel, daqui a uma semana.
Israel tem o segundo maior
número de "startups" (empresa iniciante que aposta em novas tecnologias) do mundo em
termos absolutos, só atrás dos
EUA. É de longe o país estrangeiro com mais empresas cotadas no Nasdaq (60), a Bolsa de
Valores eletrônica dos EUA.
Sob condições históricas
sempre adversas, em Israel o
encontro da necessidade com
planejamento e espírito empreendedor produziu um celeiro de inovação que atrai investimentos em maior escala do
que em qualquer outro país.
Em 2008, as empresas de
tecnologia israelenses receberam 2,5 vezes mais capital de
risco (per capita) do que os
EUA e 30 vezes mais que a Europa. Não falta financiamento
para jovens empreendedores e
com boas ideias, como Keinan.
E eles são muitos. Existem
cerca de 4.000 empresas de
tecnologia em Israel e mais de
cem fundos de capital de risco.
Inovações desenvolvidas no
país incluem o pioneiro serviço
de mensagem instantânea ICQ,
vendido por US$ 407 milhões à
AOL, o chip Pentium (Intel) e a
pílula de vídeo que permite a
visão dos intestinos sem necessidade de cirurgia.
Por trás dessa profusão de
ideias está uma mistura de fatores históricos que produziram uma cultura atraída por
tudo o que é novo e com baixíssima aversão ao risco. Um temperamento muitas vezes definido com a quase intraduzível
palavra judaica "chutzpah", algo entre a audácia, o atrevimento e o despudor.
"Está no nosso DNA", explica Gil Hirsch, 37, um dos fundadores da empresa Face.com,
que criou um programa destinado aos usuários da rede de
relacionamento Facebook que
querem localizar fotos suas
postadas por terceiros na rede.
"Chutzpah é não aceitar não
como resposta."
O DNA ajuda, mas o empreendedorismo israelense
também se beneficiou de um
significativo empurrão estatal.
Nos anos 90, o governo criou
um programa que impulsionou
o setor de capital de risco no
país com uma proposta tentadora: o Estado entrava com
50% do capital, e o investidor,
com 100% do lucro.
Na mesma década, uma onda
de imigrantes da antiga União
Soviética ampliou a oferta de
mão de obra qualificada no
país. Israel tem hoje o maior
índice per capita de Ph.Ds e engenheiros do mundo.
Para muitos, entretanto, o
principal catalisador do que já
foi chamado de "milagre econômico israelense" é o Exército. Não são poucos os companheiros de quartel que se tornaram sócios em "startups"
após largarem a farda.
Além de investir pesadamente em pesquisa tecnológica, o
Exército dá a jovens soldados
(a maioria serve pelo menos
dois anos) a chance de receber
formação técnica de ponta com
atributos que toda empresa
busca, como liderança e trabalho em equipe.
Para Keinan, que fez o serviço militar na principal unidade
de computação do Exército, o
que mais marcou foi o "choque
de responsabilidade".
"Você se vê cercado de garotos, tendo que resolver problemas de gente grande", diz Keinan. "Isso cria uma capacidade
de resolver problemas que
nunca mais o abandona."
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