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São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2003

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Brasil teme que conferência em Cancún venha a ser um fracasso

DO COLUNISTA DA FOLHA

Para o governo brasileiro, a "doença" da OMC é mais grave do que dão a entender os técnicos da organização e os funcionários de outros países. "Agricultura é central para essa rodada", afirma o chanceler Celso Amorim, ao esboçar seu teorema sobre o impasse na negociação agrícola.
"A rodada foi inventada para dar moldura para um avanço mais ambicioso na área agrícola. Sem ele, o nível de ambição cai dramaticamente", diz o ministro.
Nota oficial do Itamaraty a respeito do prazo perdido na negociação agrícola é uma oitava acima do tom habitualmente suave empregado pelos diplomatas brasileiros em negociações comerciais. Diz: "Uma vez que a negociação agrícola representa o elemento fundamental da rodada de Doha, o não-cumprimento dos prazos terá consequências negativas nas demais frentes negociadoras, o que coloca em dúvida as próprias perspectivas de chegar-se a um acordo sobre o conjunto de temas da rodada que faça sentido para os países em desenvolvimento".
Parece uma insinuação de que a Conferência Ministerial de Cancún, marcada para setembro, caminha para um fracasso igual ao ocorrido em 1999 em Seattle, quando desacordos entre países-membros impediram o lançamento do que então se chamava Rodada do Milênio (ficou para Doha, dois anos depois e já não se chamou "Milênio").
Amorim não acredita em nova Seattle. "Seattle ocorreu em um momento em que se tentava dar à OMC o caráter de grande organismo da globalização. Cancún é só uma negociação comercial nem sequer conclusiva", diz.
É uma avaliação idêntica à que a Folha obteve no gabinete de Panitchpakdi: "O desfecho em Cancún não é binário. Não estaremos lançando ou concluindo uma rodada".
De todo modo, as expectativas para Cancún se reduziram tanto que o ministro brasileiro da Agricultura, Roberto Rodrigues, define a conferência marcada para o balneário mexicano como "a crônica do empate anunciado".
"Vamos chegar a Cancún com o marcador em 0 a 0 e sair de lá em 0 a 0", diz Rodrigues.
Previsão referendada por Gary Hufbauer, o especialista do IIE (Instituto para a Economia Internacional), em brincadeira com o repórter da Folha: "Traga a animação do Carnaval brasileiro para Cancún. Será necessária".
A delegação norte-americana leva outro tipo de animação se não para Cancún para o conjunto das negociações comerciais em andamento.
A Folha perguntou, no gabinete de Robert Zoellick, se havia um "plano B" ante a estagnação das negociações no âmbito da Organização Mundial do Comércio.
Resposta: "Esta administração deixou claro, desde o início, que defende a liberalização do comércio globalmente, regionalmente e bilateralmente".
Permite a seguinte leitura: se a reunião de Cancún não desbloquear as negociações na OMC (as globais), os Estados Unidos poderão pôr mais ênfase na regional, representada pela Alca (Área de Livre Comércio das Américas), que, no fundo, é uma negociação entre os EUA e o Mercosul.
Se essa leitura é ou não correta, só o tempo dirá. Mas o funcionário consultado pela Folha fez questão de lembrar que "Miami é logo depois de Cancún".
Miami será a sede em novembro da Conferência Ministerial da Alca, instância máxima da negociação. (CLÓVIS ROSSI)

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