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Patentes aceleram acordo sobre algodão
Pressão de laboratórios, que se viram ameaçados por retaliação cruzada, levou governo dos EUA a buscar entendimento
Conselho Nacional do Algodão dos EUA divulga nota em que afirma que viu o acordo entre os países como "avanço significativo"
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK
Ao celebrar o que os negociadores mais céticos chamam de
"pré-entendimento" com os
EUA na contenda sobre os subsídios de Washington ao setor
algodoeiro, a diplomacia brasileira festeja o sucesso de sua tática: forçar lobby contra lobby
no Congresso americano.
O Itamaraty voltou sua mira
para a propriedade intelectual
-ponto dos mais sensíveis no
comércio americano, sobretudo no que toca a patentes de remédios- desde que obteve da
Organização Mundial do Comércio o direito de aplicar a
"retaliação cruzada", que permite impor sanções contra outros setores que não o diretamente envolvido na disputa.
A ideia não era retaliar, coisa
que o chanceler Celso Amorim
sempre descreveu como última
opção e que o Itamaraty admitia nos bastidores ser uma operação complexa e de benefício
questionável em termos econômicos. Era neutralizar a poderosa bancada agrícola dos EUA
com uma força equânime: o
lobby farmacêutico.
Mas isso só daria certo quando a indústria de medicamentos passasse a crer no risco iminente. Como o direito obtido é
inédito, a questão se tornou nevrálgica para Washington, temeroso de criar o precedente.
Foi só quando o Brasil publicou para consulta pública os
itens que seriam alvo de uma
retaliação cruzada que a Casa
Branca sentiu a água bater e enviou ao Brasil a vice-representante de Comércio com as primeiras propostas a serem lidas
como tais pelos brasileiros.
Antes de se sentir de fato na
berlinda, os americanos tentaram implodir a ação por dentro,
acenando a alguns setores da
indústria brasileira envolvidos
na elaboração da demanda com
incentivos e propostas de
maior abertura ou parceria e
assustando outros com ameaças de "contrarretaliação".
Na descrição de um diplomata à Folha, para reverter esse
espírito, era preciso que o Congresso americano começasse a
ser cobrado por outro setor poderoso. Se as propostas vão virar acordo de fato, ainda é algo
vago no horizonte, mas o Itamaraty mostra mais otimismo.
Nos EUA, a negociação foi
recebida com bons olhos. O
Conselho Nacional do Algodão
dos EUA, que representa sete
setores algodoeiros de 17 Estados e vinha criticando a atitude
do Brasil, divulgou nota em que
afirma que viu o acordo como
"avanço significativo".
"O acordo é um desdobramento positivo nessa longa disputa e sinaliza um avanço para
EUA e Brasil", afirmou o presidente da entidade, Eddie
Smith. "Ele impede efeitos
imediatos prejudiciais à economia no caso de uma retaliação e
coloca a discussão sobre mudanças no programa algodoeiro americano no Congresso."
Mesmo o deputado Frank
Lucas, líder dos republicanos
na Comissão de Agricultura da
Câmara e que questionara a
suspensão da retaliação, mostrou-se otimista. "É o primeiro
passo no processo de criação de
resolução de longo prazo e reconhece que mudanças nesses
programas [de subsídios ao algodão] só podem ser consideradas na próxima autorização
do Orçamento [em 2012]."
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