São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COLAPSO DA ARGENTINA

Taxa volta a dois dígitos; em quatro meses, alta é de 21,1%, mais que os 15% previstos para 2002

Inflação até abril já estourou meta anual

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

A inflação voltou a atingir um número de dois dígitos na Argentina após mais de uma década. O Indec (o IBGE local) divulgou ontem que os preços ao consumidor dispararam 10,4% em abril, contra 4% em março.
No quadrimestre, a inflação acumula alta de 21,1% e supera a previsão do governo para o ano todo. De acordo com o projeto de Orçamento, os preços subiriam 15% em 2002.
Segundo relatório da Fundação Mercado, as projeções para maio também não são animadoras. A consultoria fixou um piso de 5% para a inflação deste mês apenas por conta de aumentos feitos em abril mas que ainda não tiveram impacto no bolso do consumidor.
Para não perder o controle sobre os preços, o ministro da Economia, Roberto Lavagna, prometeu um controle rígido das despesas do governo e a estabilização da cotação do dólar.
O governo não divulga um preço de referência para o dólar, mas operadores de mercado afirmam que o Banco Central vai fortalecer as intervenções sempre que a moeda norte-americana se distanciar da cotação de 3,20 pesos.
Ontem, o dólar fechou a 3,25 pesos nas casas de câmbio argentinas, com queda de 1,2%. O recuo foi explicado pela maior oferta de moeda por parte das empresas, que precisavam liquidar divisas para pagar os salários aos funcionários.
Além disso, o mercado esteve mais tranquilo porque o governo conseguiu a promessa do Congresso de que as leis exigidas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) -de Falências e de Subversão Econômica- serão votadas nesta semana.
O governo também tomou ontem uma importante medida para evitar que a inflação tenha mais efeitos negativos para a população.
O presidente Eduardo Duhalde assinou o decreto que elimina o CER como índice de indexação para contratos de hipotecas, financiamento habitacional, crédito pessoal e aluguéis. O CER tinha como referência o índice de inflação. A partir de 2003, esses contratos passarão a ser reajustados por um índice de variação salarial.

Novo plano
Já o ministro Lavagna confirmou que serão divulgados nesta semana os detalhes do novo "plano Bonex", que prevê a devolução dos depósitos congelados com bônus. O governo ainda negocia uma forma de dividir com os bancos a responsabilidade pelo pagamento destes bônus.
Além disso, Lavagna também estaria estudando flexibilizar o congelamento já a partir deste mês. Segundo a imprensa argentina, o governo poderia aumentar gradualmente o teto para o saque em contas correntes e cadernetas de poupança -que hoje está em 1.200 pesos por mês- até eliminar completamente as restrições em agosto ou setembro.
Duhalde ainda espera fechar nesta semana parte dos acordos para a redução do déficit das Províncias. No entanto alguns governadores reclamam que o governo acumulou, no primeiro quadrimestre, dívida de 338 milhões de pesos em repasses de verbas não-realizados às Províncias, o que pode dificultar os acordos.
Também foi divulgado ontem que as duas principais operadoras de telefonia do país -a Telecom Argentina e a Telefónica- desligaram neste ano cerca de 800 mil linhas, ou 10% da planta. A inadimplência foi usada com justificativa para os cortes.



Texto Anterior: Bebidas: Lucro da Ambev cai 9,2% e fecha o primeiro trimestre em R$ 222,8 mi
Próximo Texto: País virou um "Afeganistão", diz porta-voz
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.