São Paulo, segunda-feira, 07 de maio de 2007

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Problema é o dólar, não o real valorizado, dizem banqueiros

Moeda norte-americana deve ser a estrela do debate sobre economia mundial que presidentes de BCs fazem na Suíça

Meirelles participa de encontro na Basiléia e diz que Brasil "felizmente" não é notícia, em razão da boa situação econômica do país

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BASILÉIA

Os banqueiros centrais de cerca de 30 países, entre eles o presidente do Banco Central do Brasil, Henrique de Campos Meirelles, entram hoje para uma reunião sobre a economia global com a mais firme convicção de que o problema não é a sobrevalorização desta ou daquela moeda (real inclusive), mas um fenômeno global, representado pela desvalorização do dólar em relação a um grande número de moedas.
Por isso mesmo, o dólar ou mais amplamente a economia norte-americana tende a ser a estrela do debate na Basiléia durante o encontro sobre a economia global, realizado a cada dois meses por um grupo de banqueiros centrais de cerca de 30 países, na sede do BIS (sigla em inglês para Banco de Compensações Internacionais, uma espécie de banco central dos bancos centrais).
O Brasil participa sempre, mas, agora, segundo Meirelles, "não é felizmente notícia", ao contrário do que aconteceu na sua primeira intervenção, em 2003, quando o país estava sob o impacto dos desajustes provocados pelos temores do mercado em relação à política econômica a ser adotada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Queixa generalizada
Agora, nem as queixas sobre o real sobrevalorizado fazem o Brasil virar notícia, até porque líderes de países mais relevantes mundialmente também reclamam de seus respectivos bancos centrais sobre o excesso de valor das moedas.
Caso, por exemplo, do presidente eleito da França, Nicolas Sarkozy, que culpa o BCE (Banco Central Europeu) pela perda de competitividade da economia francesa, justamente porque a cotação do euro em relação ao dólar está batendo recordes sucessivos.
O fenômeno global de queda do dólar também afeta a competitividade de setores da economia brasileira, mas menos do que seria natural em outros momentos de real forte. Como o dólar se desvaloriza ante muitos outras moedas, "os preços relativos entre elas não se alteram tanto", conforme a avaliação que se faz no BIS.
O problema tomaria outra dimensão, eventualmente catastrófica, se os preços ficassem fixos em dólares, o que, com a desvalorização da moeda norte-americana, provocaria uma deflação mundial, ou seja, uma queda generalizada de preços.
Não é visivelmente o que está acontecendo, na medida em que os preços em dólar das commodities em geral, mas também de manufaturas, se elevam -o que, por sua vez, ameniza ou até elimina o efeito, sobre as exportações brasileiras, de uma moeda valorizada.
Dólar fraco à parte, a situação da economia brasileira é tão positiva que Meirelles chegou ontem à Basiléia sem se sentir compelido a falar hoje, embora a palavra do Brasil seja usual nesse tipo de reunião.

Bernanke
Exatamente por ser a desvalorização do dólar um fenômeno global, a expectativa está concentrada na fala de Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve, o banco central norte-americano, e também na de Jean-Claude Trichet, o francês que preside o Banco Central Europeu. Até porque Trichet dará a entrevista coletiva, habitual após a reunião sobre economia global, apenas algumas horas depois de seu crítico, Sarkozy, ter sido eleito presidente da França.
Da Basiléia, Meirelles segue para Londres, para uma reunião com um grupo grande de investidores e analistas da City londrina, o principal centro financeiro da Europa.


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