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Problema é o dólar, não o real valorizado, dizem banqueiros
Moeda norte-americana deve ser a estrela do debate sobre economia mundial que presidentes de BCs fazem na Suíça
Meirelles participa de encontro na Basiléia e diz que Brasil "felizmente" não é notícia, em razão da boa situação econômica do país
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BASILÉIA
Os banqueiros centrais de
cerca de 30 países, entre eles o
presidente do Banco Central do
Brasil, Henrique de Campos
Meirelles, entram hoje para
uma reunião sobre a economia
global com a mais firme convicção de que o problema não é a
sobrevalorização desta ou daquela moeda (real inclusive),
mas um fenômeno global, representado pela desvalorização
do dólar em relação a um grande número de moedas.
Por isso mesmo, o dólar ou
mais amplamente a economia
norte-americana tende a ser a
estrela do debate na Basiléia
durante o encontro sobre a economia global, realizado a cada
dois meses por um grupo de
banqueiros centrais de cerca de
30 países, na sede do BIS (sigla
em inglês para Banco de Compensações Internacionais, uma
espécie de banco central dos
bancos centrais).
O Brasil participa sempre,
mas, agora, segundo Meirelles,
"não é felizmente notícia", ao
contrário do que aconteceu na
sua primeira intervenção, em
2003, quando o país estava sob
o impacto dos desajustes provocados pelos temores do mercado em relação à política econômica a ser adotada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Queixa generalizada
Agora, nem as queixas sobre
o real sobrevalorizado fazem o
Brasil virar notícia, até porque
líderes de países mais relevantes mundialmente também reclamam de seus respectivos
bancos centrais sobre o excesso
de valor das moedas.
Caso, por exemplo, do presidente eleito da França, Nicolas
Sarkozy, que culpa o BCE (Banco Central Europeu) pela perda
de competitividade da economia francesa, justamente porque a cotação do euro em relação ao dólar está batendo recordes sucessivos.
O fenômeno global de queda
do dólar também afeta a competitividade de setores da economia brasileira, mas menos
do que seria natural em outros
momentos de real forte. Como
o dólar se desvaloriza ante muitos outras moedas, "os preços
relativos entre elas não se alteram tanto", conforme a avaliação que se faz no BIS.
O problema tomaria outra
dimensão, eventualmente catastrófica, se os preços ficassem
fixos em dólares, o que, com a
desvalorização da moeda norte-americana, provocaria uma
deflação mundial, ou seja, uma
queda generalizada de preços.
Não é visivelmente o que está
acontecendo, na medida em
que os preços em dólar das
commodities em geral, mas
também de manufaturas, se
elevam -o que, por sua vez,
ameniza ou até elimina o efeito,
sobre as exportações brasileiras, de uma moeda valorizada.
Dólar fraco à parte, a situação
da economia brasileira é tão
positiva que Meirelles chegou
ontem à Basiléia sem se sentir
compelido a falar hoje, embora
a palavra do Brasil seja usual
nesse tipo de reunião.
Bernanke
Exatamente por ser a desvalorização do dólar um fenômeno global, a expectativa está
concentrada na fala de Ben
Bernanke, o presidente do Federal Reserve, o banco central
norte-americano, e também na
de Jean-Claude Trichet, o francês que preside o Banco Central Europeu. Até porque Trichet dará a entrevista coletiva,
habitual após a reunião sobre
economia global, apenas algumas horas depois de seu crítico,
Sarkozy, ter sido eleito presidente da França.
Da Basiléia, Meirelles segue
para Londres, para uma reunião com um grupo grande de
investidores e analistas da City
londrina, o principal centro financeiro da Europa.
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