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Fundo soberano começa com até US$ 20 bi
Parte da verba será destinada ao BNDES para que o banco financie as operações de empresas brasileiras no exterior
Mantega diz que recursos virão em boa parte de "poupança fiscal" e fundo terá caráter "anticíclico" de contração do gasto público
VALDO CRUZ
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O fundo soberano brasileiro
que deve ser lançado no final de
junho pode contar com até US$
20 bilhões em caixa e ter como
uma das fontes de financiamento parte da arrecadação de
tributos, "um fundo de poupança fiscal", disse à Folha o
ministro da Fazenda, Guido
Mantega.
Segundo ele, a prioridade do
fundo soberano será apoiar
vendas e investimentos de empresas brasileiras no exterior e,
em segundo lugar, "ajudar a enxugar o excesso de dólar no
mercado". Nos dois casos, o objetivo é conter a deterioração
das contas externas, a maior
preocupação do Ministério da
Fazenda no momento.
Com lançamento previsto
para o final do próximo mês,
Mantega disse que o fundo será
a princípio formado por algo
equivalente a entre 5% e 10%
das reservas internacionais.
"Mas não virá das reservas
atuais do Banco Central [US$
196 bilhões], é além, e pode
chegar a US$ 20 bilhões", disse
o ministro.
Inicialmente, boa parte dos
recursos será destinada a comprar debêntures do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social),
para que a instituição tenha recursos destinados a financiar
empresas brasileiras no exterior. "Seria um funding externo
para o BNDES financiar operações brasileiras lá fora", afirmou Mantega.
O objetivo de transferir esses
recursos para o BNDES, segundo Mantega, é aumentar as linhas de financiamento à exportação do banco. Atualmente, o BNDES financia cerca de
US$ 4,5 bilhões a US$ 5 bilhões
por ano para exportação. Com
o fundo, esse montante vai se
ampliar significativamente.
Eximbank nacional
Mantega afirmou que o
BNDES teria um papel semelhante ao do Eximbank nos
EUA, cuja principal missão é financiar os exportadores americanos. "O financiamento à exportação é fundamental e o
BNDES pode fazer esse papel
de Eximbank", disse Mantega.
Outra vantagem, segundo
Mantega, é o fato de as aplicações em debêntures do BNDES
renderem mais do que as feitas
com o dinheiro da reserva cambial. O debênture do BNDES
pode render 11% ao ano ou IPCA mais 6,2%, dependendo do
tipo de aplicação escolhida. As
aplicações da reserva rendem
no máximo 4,5% ao ano.
Mantega disse que o "objetivo do fundo é utilizar melhor
essa abundância de recursos
externos e apoiar ações do país
no exterior". Desde a obtenção
do selo de "investment grade",
o governo tem debatido o que
fazer para evitar que o aumento
da entrada de recursos estrangeiros no país valorize ainda
mais o real e provoque déficit
nas contas externas brasileiras.
Mantega disse que, ao ter como fonte de financiamento
parcela da arrecadação de impostos, o fundo terá um "caráter anticíclico" -promove uma
contração do gasto público em
um momento de expansão.
Segundo ele, será uma "reserva de poupança fiscal, o fundo recebe parte de um tributo,
não gasta e cria uma reserva" a
ser aplicada em operações no
exterior.
O ministro explicou ainda
que o governo criará regras seguras para aplicação dos recursos do fundo soberano. "Vai ter
um parâmetro de solidez, ou
seja, ele não pode comprar títulos que não tenha avaliação elevada. Vamos estabelecer um
padrão de qualidade. No caso
do BNDES, é totalmente seguro, é o próprio governo que garante", afirmou.
Segundo o ministro, o fundo
não poderá ser usado para bancar gastos correntes, mas apenas operações no exterior.
Não está nos planos do governo Lula, disse Mantega, usar
o mecanismo para comprar
empresas no exterior como estão fazendo outros países, como China. "Nosso governo não
iria comprar empresas, mas poderemos comprar ativos no exterior."
O governo ainda não definiu
se criará o fundo por meio de
medida provisória ou um projeto de lei -nesse caso, seria
por regime de urgência, para
que seja aprovado no início do
segundo semestre. A intenção
de Mantega, no entanto, é encaminhar um projeto de lei para o Congresso. "O fundo será
criado com a maior transparência possível", afirmou.
A idéia do fundo soberano foi
muito criticada por economistas de diversas tendências.
Mantega considera essas críticas injustas. "O fundo soberano
é um desdobramento natural
dos países que acumulam muita reserva", diz. Ele lembra, por
exemplo, que países como China, Arábia Saudita, Rússia e Índia possuem um fundo soberano e ninguém os critica por
causa disso. "Não vejo nenhum
problema em o Brasil também
criar o seu fundo soberano."
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