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análise
Finanças sólidas não bastam para o desenvolvimento
DO "FINANCIAL TIMES"
Para o Brasil, a classificação da dívida do país como
grau de investimento, obtida
na semana passada, foi, nas
palavras do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, "um
momento mágico". Os investidores parecem concordar.
Os mercados brasileiros ganharam ainda mais força nos
últimos dias. Mas, em meio à
euforia, é necessário que todos mantenhamos a perspectiva.
Afinal, as agências de classificação de créditos como a
Standard & Poor's simplesmente avaliam a capacidade
de um devedor para pagar
suas dívidas. E o grau de investimento torna os títulos
de dívida de um país mais
atraentes para os grandes
fundos de pensão e as seguradoras. Não se trata de um
distintivo de desenvolvimento.
Devemos admitir que a
realização do Brasil impressiona. Seis anos atrás, o país
era visto em quase todos os
quadrantes como à beira da
falência. A dívida interna, denominada em moeda local,
continua alta. Mas a S&P
acredita que isso seja mais do
que compensado pela redução na dívida externa e pela
firmeza da gestão econômica, sustentada pelo desenvolvimento de instituições
mais confiáveis. Empresas
privadas dinâmicas como o
conglomerado de mineração
Vale já estavam classificadas
como papéis de investimento e ajudaram a transformar
as perspectivas brasileiras.
Em termos mais amplos, a
promoção do Brasil marca
uma tendência mais ampla
entre os países de mercados
emergentes que ainda são
devedores.
Nos últimos 12 anos, a S&P
elevou a classificação de 14
governos de países emergentes, da Polônia ao Cazaquistão, para o grau de investimento. O Brasil agora desfruta de status semelhante
ao de Índia, Rússia e China,
os três outros gigantes emergentes com os quais integra o
chamado grupo dos Brics e
cujo crescimento vem transformando a economia mundial.
Mas isso não justifica complacência no clube cada vez
mais populoso dos países
classificados com o grau de
investimento. A classificação
BBB- conferida ao Brasil (e à
Índia) é a mais baixa entre os
graus de investimento. Os
critérios de classificação da
agência sugerem que países
devedores assim qualificados continuam vulneráveis a
mudanças de curso causada
por circunstâncias externas,
como uma recessão mais
profunda que a esperada nos
Estados Unidos ou uma queda acentuada nos preços das
commodities.
Além disso, classificações
podem mudar. Diversos países -o mais recente dos
quais foi o Uruguai, em
2002- conquistaram, o grau
de investimento e depois o
perderam. Acima de tudo, finanças sólidas são condição
necessária mas não suficiente para um desenvolvimento
econômico mais amplo. Países emergentes como China
e Chile têm classificações
bem mais altas que a brasileira e ainda assim não propiciam aos seus cidadãos padrão de vida semelhante ao que é visto como norma nas
nações desenvolvidas.
O Brasil pode, como Lula
disse na semana passada,
alegar justificadamente que
se tornou "um país sério".
Mas isso não deveria ser visto como desculpa para complacência política. Como os
demais Brics, o Brasil ainda
tem muito trabalho difícil a
executar antes de ingressar
nas fileiras do Primeiro
Mundo.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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