UOL


São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MERCADO

Bancos estreitam relações em casas de striptease e toleram uso de drogas, mas comportamento começa a mudar

Wall Street reavalia sua cultura machista

DAVID WELLS
DO "FINANCIAL TIMES"

O sucesso em Wall Street tem tudo a ver com relacionamentos. Banqueiros de investimentos e corretores passam horas em restaurantes e bares e, sim, às vezes em clubes de striptease, conversando com clientes e aproximando-se de colegas.
Quando John Mack trabalhava no Morgan Stanley, seu local preferido para cultivar relacionamentos era o campo de golfe. Sabendo que isso irritava várias de suas colegas mulheres, que se sentiam excluídas por não saber jogar, Mack, hoje presidente do Credit Suisse Group, pediu para sua mulher organizar uma clínica de golfe. Mas nem todas as mulheres do Morgan Stanley se sentiram bem-vindas.
O banco é objeto de um processo por preferência de gênero movido pela Comissão de Oportunidades Iguais no Emprego do governo dos EUA. A comissão abriu o processo depois de uma queixa feita por Allison Schieffelin, uma ex-corretora de títulos que disse ter sido preterida injustamente para um cargo de gerência.
Embora seja o primeiro desses processos com alta repercussão contra uma firma de Wall Street, o caso é apenas um exemplo dos excessos resultantes da cultura de alta tensão e altos salários do centro financeiro mundial.
Os escritórios e salas de reuniões dos bancos de investimentos são famosos pelas frequentes discussões aos gritos. Corretores trocam insultos para liberar a pressão. Os chefes dão broncas nos empregados mais jovens. Wall Street também é famosa por minimizar os comportamentos inadequados -uso de drogas e casos amorosos- de funcionários que gerem bons lucros.
Um dos casos mais famosos de comportamento impróprio em Wall Street durante os anos 90 envolveu o escritório da Smith Barney em Long Island. Funcionárias alegaram que foram submetidas a comentários e gestos obscenos e sugestivos, alguns feitos em festas numa parte do escritório conhecida como "Boom-Boom Room".
Outro caso ligado a sexo envolveu James McDermott, o ex-presidente da Keefe, Bruyette & Woods, um banco de investimentos de Nova York. McDermott foi condenado em 2000 por ter dado dicas para sua amante -uma estrela pornô- sobre futuras aquisições de companhias financeiras. Mais recentemente, os e-mails de Jack Grubman, um antigo analista da Salomon Smith Barney, apreendidos como parte de uma investigação no setor de pesquisas, incluíam francas conversas sobre sexo.
Mas os tempos estão mudando. Hoje os bancos retêm os e-mails e gravam telefonemas para atender aos reguladores, assim incentivando uma linguagem mais limpa entre seus empregados. Os executivos-chefes sabem que muitos tomadores de decisão nas companhias que eles atendem são mulheres ou gays, por isso precisam promover pessoas capazes de se conectar a eles.
A Lehman Brothers chegou a criar o cargo de "executivo-chefe de diversidade global". Anne Erni, que foi escolhida para o cargo em 2001, tem a missão de tornar mais aberto o local de trabalho da Lehman. Ela cria redes de funcionários ensinando-lhes a se mover através das divisões, a ser promovidos e a captar negócios.
A Lehman está levando a sério a tarefa. Em vez de contratar alguém de fora, que conhecesse questões sociais, mas não os negócios, selecionou Erni, que passou dez anos em equipes de venda de renda fixa e ações e outros cinco anos em finanças corporativas.


Tradução de Luiz Roberto Gonçalves


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Turismo financeiro: Dívida argentina vai virar tema de museu
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.