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MERCADO
Bancos estreitam relações em casas de striptease e toleram uso de drogas, mas comportamento começa a mudar
Wall Street reavalia sua cultura machista
DAVID WELLS
DO "FINANCIAL TIMES"
O sucesso em Wall Street tem
tudo a ver com relacionamentos.
Banqueiros de investimentos e
corretores passam horas em restaurantes e bares e, sim, às vezes
em clubes de striptease, conversando com clientes e aproximando-se de colegas.
Quando John Mack trabalhava
no Morgan Stanley, seu local preferido para cultivar relacionamentos era o campo de golfe. Sabendo que isso irritava várias de
suas colegas mulheres, que se sentiam excluídas por não saber jogar, Mack, hoje presidente do
Credit Suisse Group, pediu para
sua mulher organizar uma clínica
de golfe. Mas nem todas as mulheres do Morgan Stanley se sentiram bem-vindas.
O banco é objeto de um processo por preferência de gênero movido pela Comissão de Oportunidades Iguais no Emprego do governo dos EUA. A comissão abriu
o processo depois de uma queixa
feita por Allison Schieffelin, uma
ex-corretora de títulos que disse
ter sido preterida injustamente
para um cargo de gerência.
Embora seja o primeiro desses
processos com alta repercussão
contra uma firma de Wall Street,
o caso é apenas um exemplo dos
excessos resultantes da cultura de
alta tensão e altos salários do centro financeiro mundial.
Os escritórios e salas de reuniões dos bancos de investimentos são famosos pelas frequentes
discussões aos gritos. Corretores
trocam insultos para liberar a
pressão. Os chefes dão broncas
nos empregados mais jovens.
Wall Street também é famosa por
minimizar os comportamentos
inadequados -uso de drogas e
casos amorosos- de funcionários que gerem bons lucros.
Um dos casos mais famosos de
comportamento impróprio em
Wall Street durante os anos 90 envolveu o escritório da Smith Barney em Long Island. Funcionárias
alegaram que foram submetidas a
comentários e gestos obscenos e
sugestivos, alguns feitos em festas
numa parte do escritório conhecida como "Boom-Boom Room".
Outro caso ligado a sexo envolveu James McDermott, o ex-presidente da Keefe, Bruyette &
Woods, um banco de investimentos de Nova York. McDermott foi
condenado em 2000 por ter dado
dicas para sua amante -uma estrela pornô- sobre futuras aquisições de companhias financeiras.
Mais recentemente, os e-mails de
Jack Grubman, um antigo analista da Salomon Smith Barney,
apreendidos como parte de uma
investigação no setor de pesquisas, incluíam francas conversas
sobre sexo.
Mas os tempos estão mudando.
Hoje os bancos retêm os e-mails e
gravam telefonemas para atender
aos reguladores, assim incentivando uma linguagem mais limpa entre seus empregados. Os
executivos-chefes sabem que
muitos tomadores de decisão nas
companhias que eles atendem são
mulheres ou gays, por isso precisam promover pessoas capazes de
se conectar a eles.
A Lehman Brothers chegou a
criar o cargo de "executivo-chefe
de diversidade global". Anne Erni, que foi escolhida para o cargo
em 2001, tem a missão de tornar
mais aberto o local de trabalho da
Lehman. Ela cria redes de funcionários ensinando-lhes a se mover
através das divisões, a ser promovidos e a captar negócios.
A Lehman está levando a sério a
tarefa. Em vez de contratar alguém de fora, que conhecesse
questões sociais, mas não os negócios, selecionou Erni, que passou dez anos em equipes de venda
de renda fixa e ações e outros cinco anos em finanças corporativas.
Tradução de Luiz Roberto Gonçalves
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