São Paulo, quarta-feira, 07 de julho de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Presidente diz não entender por que consumidor toma empréstimos a taxas "escorchantes" do sistema financeiro

Lula sugere "boicote" a crédito para juro cair

Bruno Stuckert/Folha Imagem
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante evento na sede da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), ontem, em Brasília


EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recomendou que os brasileiros evitem tomar empréstimos como forma de pressionar pela queda dos juros cobrados por bancos e administradoras de cartão de crédito. Lula já criticou em outros momentos os juros adotados pelas instituições financeiras.
"Eu não consigo compreender por que alguém vai ao banco tirar dinheiro com o cartão de crédito para pagar 12% de juro ao mês, ou seja, eu não consigo compreender por que vai. Não deveria ir, e, se não fosse, acabaria isso", disse, durante evento na sede da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), em Brasília.
Em seguida, durante discurso improvisado, Lula afirmou que não consegue "compreender" a carência de adesões às cooperativas de crédito, estimuladas no ano passado por meio de medida do governo para ampliar o microcrédito no país.
"Da mesma forma, não consigo compreender por que as pessoas não se organizam em cooperativas de crédito para sair do sistema financeiro a juros escorchantes", disse. Segundo a OCB, o Brasil tem hoje 7.355 cooperativas.
De acordo com o presidente, que falou por 30 minutos, as questões dos juros e das cooperativas não se resolvem por meio leis, e sim por ações. "Quando a pessoa vai trocar uma duplicata, paga uma exorbitância, ou seja, o que vai resolver isso? Isso não vai se resolver com uma lei, isso vai se resolver com uma ação [...] Nós haveremos de transformar o Brasil num país cooperativista."
No início do ano, Lula já havia criticado publicamente o valor dos juros cobrados pelos bancos para cartão de crédito e cheque especial. À época, ele afirmou que as taxas são altas por causa do risco de inadimplência. "Os honestos pagam pelos desonestos, e os que pagam se sacrificam pelos que não pagam", afirmou.
Com o objetivo de estimular a cobrança de juros menores dos bons pagadores, começou a funcionar em junho o chamado cadastro positivo de crédito, sistema criado pelo Banco Central com informações das operações de crédito realizadas pelos clientes dos bancos. O acesso aos dados terá de ser autorizado pelo cliente.
Quem estiver em dia com seus compromissos poderá comprovar que é um bom pagador e, com isso, negociar juros mais baixos em seus empréstimos. O sistema terá informações sobre as operações de crédito acima de R$ 5.000 feitas nos 13 meses anteriores à consulta, incluindo valor dos empréstimos, eventuais atrasos no pagamento, juros cobrados pelos bancos e prazo de vencimento.
Outra iniciativa foi a permissão do desconto de empréstimos diretamente na folha de pagamento. O governo também obrigou os bancos a destinar 2% dos depósitos à vista para operações de microcrédito. Esses empréstimos, com taxas menores, são uma opção para fugir dos juros do cheque especial e do cartão de crédito.
No final de maio, segundo pesquisa da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), os juros médios cobrados ao mês das pessoas físicas estavam em 7,65%. A taxa era de 10,12% para cartão de crédito, de 8,29% para cheque especial e de 5,89% no crédito pessoal.


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