São Paulo, sábado, 07 de julho de 2007

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ROBERTO RODRIGUES

Tecnologia e competitividade


Com a inflação dominada, quem tiver produtividade abaixo da média por dois anos é eliminado do sistema


EM QUALQUER setor da economia, o que alavanca a competitividade das empresas é a tecnologia. Sem isso, não adianta gestão profissional, nem foco, nem volume de produção. É a tecnologia que reduz os custos, aumentando a qualidade e a produtividade, colocando os produtos ao alcance do gosto e do bolso do consumidor de dentro e de fora do país.
Na agricultura também é assim. Mas, nesse setor, há uma curiosidade instigante. É sabido que o preço de um produto é o resultado da relação entre sua oferta e sua demanda. Também se sabe que a oferta depende do volume da produção, que, por sua vez, é uma função da produtividade por área.
Com essas premissas, pode-se dizer que o preço médio de um produto agrícola depende da sua produtividade média. Quem tem uma produtividade acima da média ganha dinheiro. E quem tem uma produtividade abaixo da média perde dinheiro. Quando a inflação era alta, esse fato era camuflado, dando condições para produtores ineficientes continuarem na atividade. Agora isso acabou: com a inflação dominada, aquele que tiver uma produtividade abaixo da média por dois anos é eliminado do sistema. Não consegue pagar suas contas, quebra e tem que vender sua terra. E aqui vem o primeiro drama: a agricultura nunca quebra; os agricultores quebram. É por isso que se diz às vezes que a agricultura vai bem, mas os agricultores vão mal.
O segundo drama: se aqueles que têm uma produtividade abaixo da média são eliminados, a média sobe, puxada por aqueles que estão acima dela. Se a produtividade média sobe, a oferta cresce; e se a demanda não aumenta paralelamente, os preços caem. Como conseqüência, quem se beneficia da melhor tecnologia no campo é o consumidor, porque vai comprar mais barato seus alimentos e fibras.
Então, por que o agricultor vai gastar seu dinheiro "comprando" novas e melhores tecnologias, se o beneficiário do seu investimento não será ele, e sim o consumidor? Melhor ficar parado? Não, porque, se não investir, ficará abaixo da média e acabará excluído.
É uma perversidade: "Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega...". Mas o fato é que ele precisa melhorar sua tecnologia para se manter competitivo e continuar na atividade, em um círculo virtuoso que beneficia o país -porque exporta mais e importa menos- e a sociedade em geral, com menor custo de vida.
Por isso, tecnologia agrícola é um tema que interessa à nação toda, e não apenas ao produtor rural.
No Brasil temos a melhor tecnologia tropical do planeta, o que nos transformou nos maiores exportadores mundiais de café, suco de laranja, açúcar, carne bovina, carne de frango, do complexo soja, etanol e tabaco. Mas tecnologia agrícola é uma questão dinâmica.
Se não investirmos, acabaremos ficando para trás, perderemos mercados, empregos, renda e saldo comercial.
E, infelizmente, nossos orçamentos -federal e estaduais- para pesquisa agrícola estão aquém do necessário.
Estamos agora caminhando na direção da criação de Empresas de Propósitos Específicos -as EPEs-, em que empresas privadas podem se associar a órgãos estatais para desenvolver tecnologias necessárias para seu setor de atividade.
Precisamos alavancar isso. O Brasil tem vantagens comparativas formidáveis no campo. Não pode perdê-las por atraso tecnológico, inclusive na biotecnologia, que reduz custos e aumenta competitividade.


ROBERTO RODRIGUES , 64, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura. Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.


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