São Paulo, terça-feira, 07 de julho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

G8 começa com alerta contra o otimismo

Sinais de recuperação são ainda incipientes, e possibilidade de ganhos recentes desaparecerem preocupa autoridades

À medida que o G20 vira a nova diretoria informal da economia mundial, cúpula do G8 perde força e não terá caráter deliberativo

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Os líderes das sete maiores economias do mundo mais a Rússia iniciam amanhã o seu 35º encontro de cúpula, na cidade italiana de L'Aquila, precedido de advertências sobre o precário estado da economia mundial, que contrariam algumas avaliações otimistas sobre o que se passou a chamar de "brotos verdes", incipientes sinais de recuperação.
Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, advertiu em carta ao anfitrião do G8 deste ano, o premiê italiano Silvio Berlusconi, que "2009 permanece um ano perigoso. Ganhos recentes podem ser facilmente revertidos, e o ritmo de recuperação em 2010 está longe de ser certo". Ecoa o primeiro-ministro britânico Gordon Brown: há "sinais de alerta em todo o mundo" avisando que a recuperação está em perigo.
Por isso, o premiê britânico espera que o encontro de L'Aquila seja "um segundo brado de despertar para a economia mundial", depois da cúpula de abril do G20, que está claramente assumindo o papel de diretoria informal da economia e das finanças do planeta.
É pouco provável, no entanto, que haja de fato na Itália um brado de alerta, exatamente porque o G8 tornou-se virtualmente irrelevante. Até os anfitriões, que teriam óbvio interesse em fazer da cúpula de L'Aquila um êxito forte, já admitem que, em matéria de finanças, o show é todo do G20.
Diz, por exemplo, o chanceler italiano Franco Fratini: "Temas estritamente financeiros serão discutidos no G20 de Pittsburgh", em alusão à cúpula já convocada para essa cidade dos EUA, em setembro.
Há funcionários internacionais de peso que acham que nem o G20 basta, caso de Jean-Claude Trichet, o presidente do Banco Central Europeu.
"A transformação do G8 em G20 não basta. É preciso organizar uma vigilância sobre as políticas econômicas dos grandes países de importância sistêmica", diz Trichet.
É exatamente o que o G20 discutiu em Londres, na sua cúpula de abril, e que está sendo montado no Fundo Monetário Internacional.
O presidente do BCE, como é próprio de banqueiros centrais, não esconde no entanto uma preocupação com o que chama de "derrapagens orçamentárias de certos países" que podem "minar a confiança, absolutamente essencial para sair de um período tão difícil".
Tradução: o BCE, guardião da estabilidade monetária europeia, teme que o gasto público excessivo, para sair da crise, gere inflação e, por extensão, "mine a confiança".
Zoellick, que preside um banco de desenvolvimento, e não de controle monetário, defende o oposto: "Reconheço que certos países desenvolvidos estão agora considerando um "mix" político que assume que a recuperação está ao alcance das mãos. Mas, para o mundo em desenvolvimento, é excessivamente cedo para pensar em tais medidas".
Zoellick referia-se à Alemanha, que tem no seu DNA rejeição visceral ao risco de inflação e, por isso, começa timidamente a insinuar a necessidade de estratégias de saída para os pacotes de gasto público.
Como o G8 de L'Aquila não terá caráter deliberativo, segundo autoridades dos Estados Unidos, esses temas podem e devem surgir nas conversas entre os chefes de governo, mas deliberações mesmo, como antecipa o anfitrião Fratini, ficam para setembro no G20.
É o que o Brasil também defende já há algum tempo. Ontem, o chanceler Celso Amorim reafirmou o atestado de óbito do G8, que ele emitira há 15 dias também em Paris: "O G8 morreu em legitimidade e eficácia".


Texto Anterior: Mercado: Vale capta US$ 1 bi em títulos lastreados em ação
Próximo Texto: Economistas cobram novas reformas na AL
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.