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G8 começa com alerta contra o otimismo
Sinais de recuperação são ainda incipientes, e possibilidade de ganhos recentes desaparecerem preocupa autoridades
À medida que o G20 vira a nova diretoria informal da economia mundial, cúpula do G8 perde força e não
terá caráter deliberativo
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
Os líderes das sete maiores
economias do mundo mais a
Rússia iniciam amanhã o seu
35º encontro de cúpula, na cidade italiana de L'Aquila, precedido de advertências sobre o
precário estado da economia
mundial, que contrariam algumas avaliações otimistas sobre
o que se passou a chamar de
"brotos verdes", incipientes sinais de recuperação.
Robert Zoellick, presidente
do Banco Mundial, advertiu em
carta ao anfitrião do G8 deste
ano, o premiê italiano Silvio
Berlusconi, que "2009 permanece um ano perigoso. Ganhos
recentes podem ser facilmente
revertidos, e o ritmo de recuperação em 2010 está longe de ser
certo". Ecoa o primeiro-ministro britânico Gordon Brown: há
"sinais de alerta em todo o
mundo" avisando que a recuperação está em perigo.
Por isso, o premiê britânico
espera que o encontro de L'Aquila seja "um segundo brado
de despertar para a economia
mundial", depois da cúpula de
abril do G20, que está claramente assumindo o papel de diretoria informal da economia e
das finanças do planeta.
É pouco provável, no entanto, que haja de fato na Itália um
brado de alerta, exatamente
porque o G8 tornou-se virtualmente irrelevante. Até os anfitriões, que teriam óbvio interesse em fazer da cúpula de
L'Aquila um êxito forte, já admitem que, em matéria de finanças, o show é todo do G20.
Diz, por exemplo, o chanceler italiano Franco Fratini: "Temas estritamente financeiros
serão discutidos no G20 de
Pittsburgh", em alusão à cúpula
já convocada para essa cidade
dos EUA, em setembro.
Há funcionários internacionais de peso que acham que
nem o G20 basta, caso de Jean-Claude Trichet, o presidente do
Banco Central Europeu.
"A transformação do G8 em
G20 não basta. É preciso organizar uma vigilância sobre as
políticas econômicas dos grandes países de importância sistêmica", diz Trichet.
É exatamente o que o G20
discutiu em Londres, na sua cúpula de abril, e que está sendo
montado no Fundo Monetário
Internacional.
O presidente do BCE, como é
próprio de banqueiros centrais,
não esconde no entanto uma
preocupação com o que chama
de "derrapagens orçamentárias
de certos países" que podem
"minar a confiança, absolutamente essencial para sair de
um período tão difícil".
Tradução: o BCE, guardião
da estabilidade monetária europeia, teme que o gasto público excessivo, para sair da crise,
gere inflação e, por extensão,
"mine a confiança".
Zoellick, que preside um
banco de desenvolvimento, e
não de controle monetário, defende o oposto: "Reconheço
que certos países desenvolvidos estão agora considerando
um "mix" político que assume
que a recuperação está ao alcance das mãos. Mas, para o
mundo em desenvolvimento, é
excessivamente cedo para pensar em tais medidas".
Zoellick referia-se à Alemanha, que tem no seu DNA rejeição visceral ao risco de inflação
e, por isso, começa timidamente a insinuar a necessidade de
estratégias de saída para os pacotes de gasto público.
Como o G8 de L'Aquila não
terá caráter deliberativo, segundo autoridades dos Estados
Unidos, esses temas podem e
devem surgir nas conversas entre os chefes de governo, mas
deliberações mesmo, como antecipa o anfitrião Fratini, ficam
para setembro no G20.
É o que o Brasil também defende já há algum tempo. Ontem, o chanceler Celso Amorim
reafirmou o atestado de óbito
do G8, que ele emitira há 15 dias
também em Paris: "O G8 morreu em legitimidade e eficácia".
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