São Paulo, sábado, 07 de setembro de 2002

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LUÍS NASSIF

O financiamento às exportações

Na coluna de ontem apresentei as razões do Banco Central, em resposta às críticas aqui formuladas, de que o modelo de leilão de divisas para financiamento à exportação chegava apenas aos grandes exportadores, favorecendo arbitragens financeiras, mas não o aumento das exportações.
Na resposta, os diretores Beny Parnes e Luiz Fernando Figueiredo rebatem os argumentos levantados, de que prazos de cinco dias não seriam suficientes para permitir aos exportadores montar suas operações. Sustentam os diretores que, "dos US$ 488,5 milhões vendidos até agora pelo BC, US$ 457 milhões foram repassados aos exportadores antes do prazo dado pelas regras dos leilões".
O fato de US$ 457 milhões terem sido repassados aos exportadores em menos de cinco dias seria sinal de que se trata de poucos exportadores financiando grandes operações. Segundo informações do mercado, aliás, a maior parte desse valor teria ido para a Vale do Rio Doce, que tem como um dos controladores a Bradespar, do grupo Bradesco.
A visão do BC é que, vendendo os dólares por meio de "dealers", se evitariam favorecimentos. Ocorre que até "dealers" não operam com financiamento às exportações. Indaga-se: para que essa intermediação? Não seria mais lógico o banco interessado participar diretamente do leilão?
Para irrigar as exportações, a questão central a ser respondida é se existe algum canal específico para essas linhas chegarem ao pequeno e médio exportador -o mais necessitado de financiamento. Esse exportador não tem acesso a esse mecanismo baseado no circuito "dealer"-grande banco-grande exportador.
Nos anos 70 e 80 foi essa estrutura pulverizada que alimentou o grande salto de exportações de manufaturados brasileiros. Com esse mecanismo -observam consultores-, o BC brasileiro está utilizando as reservas cambiais do país para financiar a siderúrgica européia que compra o minério da Vale e irá pagar em um ano.
A explicação de Beny Parnes, no entanto, tem lógica, embora demonstre a fragilidade institucional do governo para questões estruturais, como o financiamento às exportações. Segundo ele, apenas na próxima semana haverá a divulgação de dados tabulados, para saber para onde foi o dinheiro. Mas não teria havido concentração. Mesmo assim, segundo ele, o papel do BC foi identificar um problema de liquidez do mercado e trabalhar para corrigir e irrigar o mercado. Mais, não caberia em suas atribuições.
Pelos dados preliminares, as linhas de financiamento vinham caindo em taxas decrescentes. Nesta semana houve um movimento de manutenção das linhas e até de uma pequena subida, prova de que as medidas teriam tido efeito.
Agora é evidente que essa linha de irrigação é um instrumento limitado, que tem apenas alcance macroeconômico.

Crime organizado
O caso da execução de adversários, diretamente comandada por Fernandinho Beira-Mar do presídio em que está hospedado, é um escândalo dentro de outro. Como é que se grampeia o bandido, se identifica a ordem e se permite a execução?

Paulinho e Anadyr
O presidente da Força Sindical, Paulinho, é um sujeito civilizado, por quem tenho apreço pessoal. Mas seus ataques à controladora-geral da União, Anadyr Rodrigues -tratando-a por "mal amada"-, são de uma grosseria indesculpável.
Anadyr é uma grande funcionária pública, que está desvendando uma área malcheirosa -a aplicação dos recursos do FAT-, atendo-se aos procedimentos jurídicos, sem atropelar prazos e colidindo de frente com um aliado incondicional de José Serra, o ex-ministro Francisco Dornelles.

E-mail - LNassif@uol.com.br


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