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TRABALHO
Força-tarefa vai verificar denúncias de trabalhadores e de sindicatos sobre práticas irregulares que lesariam demitidos
Ministério Público paulista investigará CCPs
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público do Trabalho de São Paulo vai abrir inquérito civil público na próxima semana para investigar práticas irregulares das Comissões de Conciliação Prévia -as CCPs.
Mesmo após a enxurrada de denúncias de fraudes envolvendo
essas comissões, e depois da criação de uma portaria do Ministério
do Trabalho para moralizá-las, algumas CCPs continuam lesando
os trabalhadores. Isto é, fazem homologações de contrato de trabalho, cobram taxas abusivas e parcelam o pagamento de férias e do
13º salário, o que não permitido
por lei, como mostrou a Folha em
reportagem publicada em maio.
Com o inquérito civil público
-que deverá ser instaurado na
próxima semana-, o ministério
pode convocar os responsáveis
pelas CCPs para depor. Fica preparado também para pedir a
abertura de processo judicial para
punir os envolvidos nas fraudes.
Duas procuradoras estão coordenando as investigações: Ana
Francisca Moreira de Souza Sanden e Almara Nogueira Mendes.
O Ministério Público do Trabalho de São Paulo montou uma
força-tarefa para investigar as denúncias de trabalhadores e de sindicatos que chegaram ao órgão
nos últimos meses. O MPT informa que está em fase avançada de
investigação de pelo menos cinco
CCPs -algumas das quais atuam
em todo o Estado de São Paulo.
A Folha apurou que o MPT
paulista vai entrar numa fase mais
detalhada de investigação das
CCPs porque viu que, pelas denúncias dos empregados, não há
transparência no recrutamento
de conciliadores, não há orientação para os trabalhadores, são
sempre as empresas que encaminham os empregados para as
CCPs (e não os trabalhadores que
optam pelas comissões) e há cobrança de taxas indevidas.
As CCPs -existem cerca de
1.200 no país, geralmente formadas por sindicatos de trabalhadores e de empresas- deveriam apenas resolver conflitos trabalhistas, como horas extras que o empregado tem direito.
Na Justiça
As fraudes cometidas nas CCPs
levaram a Justiça do Trabalho de
São Paulo a constatar um aumento nas reclamações de trabalhadores que estão pedindo a anulação
de acordos feitos nessas comissões. A informação é do juiz titular da 33ª Vara do Trabalho, Sérgio Pinto Martins.
"Não há estatísticas sobre o assunto, mas notamos que, nas varas do trabalho, já há uma demanda maior de ações pedindo a anulação de acordos feitos nas comissões."
Segundo o juiz, a maior parte
das reclamações envolve comissões criadas por sindicatos profissionais que fazem conciliações de
categorias que não representam.
Exemplo: a comissão criada pelo
sindicato dos metalúrgicos faz
conciliações para vigilantes.
As reclamações, de acordo com
o juiz, ainda envolvem a cobrança
de taxas irregulares. "Recebemos
denúncias de comissões que cobram de R$ 600 a R$ 1.200 da empresa que busca a comissão por
conciliação feita. É um abuso."
Para ele, essa é uma das falhas da
lei que criou as comissões: não estabelecer limites para cobrança.
Martins defende, como estabelece a nova portaria do governo,
que a cobrança não sirva de fonte
de arrecadação do sindicatos.
"Uma proposta para solucionar a
questão de custos seria mudar a
CLT, prevendo que parte do dinheiro arrecadado com a contribuição sindical, caso ela venha a
ser mantida, seja repassada para
manter as comissões de conciliação", disse o juiz.
Na avaliação do procurador
Raimundo Simão de Melo, do
MPT de Campinas, região que recebeu várias denúncias de fraudes
nas CCPs, apesar de a portaria
editada pelo governo estabelecer
a gratuidade para o trabalhador,
ela não tem força de lei.
"A portaria orienta, mas não
proíbe. A cobrança leva à mercantilização das comissões, o que
mancha as entidades envolvidas e
as próprias comissões", disse. Para o procurador, a lei deveria estabelecer punições claras para evitar abusos.
Na tentativa de diminuir os custos para as entidades sindicais que
queiram montar comissões, o delegado regional do Trabalho de
São Paulo, Antônio Funari Filho,
pôs à disposição 24 subdelegacias
e 118 postos da DRT no Estado para ajudar os sindicatos na montagem e evitar a cobrança de taxas.
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