São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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ABRAM SZAJMAN

Brasil: potência ambiental


Nosso país pode se credenciar a receber créditos de carbono que poluidores têm que pagar para compensar seus estragos

QUAL O futuro da espécie humana na Terra? Essa pergunta começa a ser feita por um número cada vez maior de pessoas, especialmente políticos e empresários.
Os modernos meios de comunicação e transporte e a construção de cidades com residências dotadas de todos os confortos oferecidos por aparelhos cada vez mais automatizados ameaçam exaurir os recursos naturais. E provocam os problemas de poluição global, regional e local que transformaram as questões ambientais em um dilema crucial: ou a degradação é detida ou a vida no planeta estará ameaçada.
O problema ambiental, porém, não pode ser corretamente entendido nem solucionado de forma isolada dos aspectos econômicos e sociais que condicionam a história da humanidade e da civilização. Quando o homem se fixou na terra gerando um excedente na produção agrícola, surgiu ao mesmo tempo o comércio, em seguida o dinheiro e, mais recentemente, a produção industrial e o capital financeiro. Esses fatores nunca foram distribuídos de maneira eqüitativa e a desigualdade provocou abissais diferenças não apenas entre classes sociais mas também entre os povos.
O padrão de acumulação individual que privilegiou uma elite social e de países, excluindo amplas maiorias da população mundial dos benefícios do desenvolvimento econômico e dos avanços tecnológicos, mostra-se hoje tão esgotado como a utilização predatória dos cada vez mais escassos recursos naturais.
Mesmo as classes mais favorecidas dos diferentes países adquirem a consciência de que sua tranqüilidade não estará assegurada enquanto milhões de seres humanos forem privados dos meios básicos de sobrevivência.
Para romper esse círculo vicioso em que desigualdade social e destruição ambiental encontram-se e alimentam-se de modo recíproco, a ação dos governos e de organismos como a ONU é fundamental, mas não é o bastante. A responsabilidade ambiental e social tornou-se um dever de todos e, sobretudo, daqueles que estão à frente dos processos econômicos: os empresários, de todos os portes e setores.
É nessa encruzilhada da humanidade, entre preservação ou destruição do planeta e entre civilização ou barbárie, que o Brasil e os empresários brasileiros precisam assumir suas responsabilidades e proceder a uma dupla escolha.
Acredito que nosso país pode reencontrar o rumo do crescimento econômico transformando-se numa potência ecológica e ambiental que se credencie, por meio de projetos de desenvolvimento sustentável, a receber os créditos de carbono que os países e as empresas poluidoras têm que pagar para compensar o estrago que fazem.
Essa opção deve ser acompanhada por outra: responsabilidade social.
Além do respeito aos direitos dos trabalhadores urbanos, não é mais possível ignorar, por exemplo, a função social da propriedade da terra. O latifúndio improdutivo está na raiz de metrópoles ingovernáveis e de nossa triste liderança na desigualdade da distribuição de renda.
Finalmente, o Brasil potência ambiental e social que vislumbramos pode apresentar taxas de crescimento menores, mas certamente serão mais sustentadas.
Grandes empresas já descobriram que responsabilidade ambiental e social pode ser um diferencial competitivo. Em breve, aquelas que persistirem em desrespeitar a natureza ou seus próprios trabalhadores sofrerão a mais severa das punições: o desprezo do consumidor.


ABRAM SZAJMAN é presidente da Fecomercio SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo) e dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac. Excepcionalmente hoje não é publicado o artigo de JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN .


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