São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2008

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Em pânico, Bolsas européias despencam

Falta de confiança dos investidores nos bancos e nos governos tomou conta dos principais mercados financeiros da UE

Medidas adotadas não foram suficientes para conter sangria; Bolsas têm quedas de 9,04% na França e de 7,07% na Alemanha

Thierry Roge/Reuters
Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, durante reunião dos ministros de Economia ontem em Luxemburgo

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

Pânico. É a única palavra capaz de descrever o terremoto nos mercados financeiros ocorrido ontem no mundo todo, com quedas espetaculares nas Bolsas, enquanto os governos corriam desorientados atrás de medidas que pudessem estancar a sangria.
Até o usualmente sóbrio "Financial Times", na sua edição em alemão, admitiu: "Os mercados financeiros estão dominados pelo medo, e o medo pode rapidamente transformar-se em pânico".
Transformou-se, do que dá prova o que aconteceu na Alemanha. O governo até que agiu rapidamente, costurando em pleno domingo um socorro emergencial de 50 bilhões para salvar da quebra o Hypo Real Estate, empresa hipotecária com base em Munique e que empresta para construtoras e prefeituras erguerem hotéis e escritórios ou fazer estradas e aeroportos.
O movimento destinava-se claramente a evitar que, ontem, ao se abrirem os mercados, o HRE fosse destroçado.
Se os 35 bilhões inicialmente oferecidos à hipotecária não bastaram, o pânico fez com que tampouco funcionassem os 15 bilhões adicionais.
As ações do HRE caíram 35%, cinco vezes os já estrondosos 7,07% de perda registrada pela Bolsa alemã. Nem foi, aliás, o maior desastre: a França, que nem tem bancos sob ameaça de quebra, teve a maior queda de sua história (9,04%).
O ministro alemão das Finanças, Peer Steinbrueck, já diz que tem um "plano B no armário" (na verdade, o plano B foi o aumento para 50 bilhões do socorro ao HRE), para assegurar que "o setor bancário não sofra um colapso". Mas ele próprio diz estar ciente de que "não se irá muito longe com soluções caso a caso".
Remédios pontuais, no entanto, são tudo o que os governos europeus estão fazendo, um após o outro. Na semana passada, Irlanda e Grécia resolveram garantir a totalidade dos depósitos em bancos.
No domingo, a Alemanha anunciou que faria o mesmo, depois de, na sexta-feira, ter criticado a Irlanda por adotar uma medida que, em tese, suga depósitos de bancos de países que não oferecem garantia total. Ontem, Portugal, Suécia, Áustria, Islândia e Dinamarca anunciaram a garantia total.
O presidente do governo espanhol, José Luiz Rodríguez Zapatero, reuniu os líderes dos seis maiores bancos espanhóis e disse que também aumentaria as garantias, hoje de 20 mil. Mas não disse para quanto.
"O importante agora é ganhar confiança", diz Angela Merkel, a chanceler alemã (primeira-ministra).
Frases, no entanto, não têm sido suficientes para controlar o pânico. O caso do espanhol Santander é ilustrativo. Seu economista-chefe, Juan José Ruiz, diz que "o mercado vê o Santander como comprador não como comprável", o que deveria ser verdade. Afinal, o banco está ganhando fatias de outras instituições em dificuldades, fora da Espanha.
Na reunião de ontem com os banqueiros, Zapatero disse que o sistema bancário espanhol é "forte e potente".
Mesmo assim, as ações do Santander caíram 6%, exatamente a mesma porcentagem de queda da Bolsa espanhola.
Para tentar conter o pânico, os governos injetam, além de palavras, dinheiro em pacotes que vão se tornando colossais. Palavras: comunicado conjunto dos 27 países da UE garantiu que cada um deles adotará todas as medidas para proteger o sistema e os depositantes.
Dinheiro: o BCE (Banco Central Europeu) voltou a irrigar o sistema com algo em torno de 72 bilhões.
Parece uma ninharia ante os cálculos sobre o quanto custará ao governo alemão garantir todos os depósitos: 1,6 trilhão.
Claro que não significa que o governo alemão gastará tudo isso. O dinheiro só será usado se e quando quebrarem bancos.
A garantia serve, portanto, como remédio antipânico.
Resta ver se funciona também para lubrificar o emperrado mecanismo de crédito, sem o qual a economia não funciona. Os movimentos nas Bolsas também têm a ver com a perspectiva de que, em vez de uma desaceleração global, já em marcha, ocorra uma recessão planetária.
Aí entra também a especulação: na expectativa de que a demanda cairá, por conta de recessão, os mercados já derrubaram o preço do petróleo, antes mesmo de a demanda cair tanto quanto o preço.


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