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Dólar tem maior alta em quase dez anos
Moeda americana dispara 7,42%, para R$ 2,198, enquanto estrangeiros tiram recursos do país para cobrir prejuízos
Incerteza paralisa mercado: exportador não vendeu, importador não comprou
e bancos hesitaram diante da intervenção do BC
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a intensificação do movimento de fuga de capitais observado no mercado financeiro
brasileiro há algumas semanas,
o dólar comercial chegou a R$
2,198 ontem, na sua maior valorização em um único dia desde
29 de janeiro de 1999: 7,42%. À
saída dos estrangeiros, que tiram seus recursos do país tanto
para cobrir perdas sofridas com
a crise em outras partes quanto
para colocá-los em ativos mais
seguros, somou-se a aposta, por
parte de alguns bancos e corretoras, em uma alta ainda maior
da moeda americana.
"A cada dia surgem novos
problemas em outros países, o
que gera uma insegurança generalizada e uma grande aversão ao risco", afirma Mário Paiva, analista de câmbio da corretora Liquidez.
Na cotação máxima do dia, o
dólar chegou a R$ 2,202, e o valor de fechamento é o maior
desde 22 de setembro de 2006.
A realização, pelo Banco
Central, de um leilão de "swap"
cambial no início da tarde não
foi suficiente para acalmar os
ânimos. A operação, que havia
dois anos e meio não era vista,
equivale a uma venda de dólares no mercado futuro. Consiste na oferta de contratos que
protegem contra a variação
cambial em determinado período -no caso, até 3 de novembro, quando os papéis vencem- em troca dos quais os
compradores pagam ao BC a
variação dos juros.
Foram colocados à disposição dos bancos US$ 2,1 bilhões
em 41,6 mil contratos. No entanto, somente 29,5 mil, totalizando US$ 1,468 bilhão, foram
vendidos.
Embora o mercado estivesse
faminto pela moeda americana, a oferta não foi totalmente
absorvida por causa da dificuldade em prever mesmo o cenário de curto prazo. Com medo
de assumir compromissos, os
bancos simplesmente preferiram não comprar os contratos
e analisar melhor as perspectivas, acreditando que o BC deve
continuar intervindo para garantir liquidez ao mercado de
câmbio. Uma outra parte dos
bancos pediu uma proteção
exagerada, e então o negócio
simplesmente não foi fechado.
"A única forma de resolver a
situação definitivamente é restabelecer a confiança dos investidores e agentes no sistema
financeiro internacional. Enquanto isso, o governo brasileiro vai ter de ser mais rápido em
tomar medidas para equilibrar
o mercado, oferecendo linhas
de crédito para os exportadores", afirma Miriam Tavares,
diretora de câmbio da corretora AGK.
"Uma outra providência interessante seria mandar operadores do próprio BC às mesas
dos bancos para conversar com
o pessoal, tentar entender o
que está acontecendo e fornecer a solução adequada."
O giro financeiro no câmbio à
vista ontem ficou perto dos
US$ 2 bilhões usuais. "Somente
as empresas que precisavam,
por vencimento, quitar alguma
obrigação ontem o fizeram",
diz João Medeiros, diretor da
corretora de câmbio Pioneer.
"As negociações ficaram paralisadas. A taxa subiu tanto que
quem precisa comprar não
compra e quem tem dólares para vender resolve esperar para
ver se consegue um valor melhor", afirma Francisco Gimenez Neto, diretor operacional
da corretora NGO.
O anúncio de que o BC vai
ajudar os exportadores utilizando dinheiro do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e
das reservas internacionais
saiu praticamente no final do
dia, sem tempo hábil para repercutir. A medida deve ajudar
a reduzir a pressão, mas as expectativas para os próximos
dias ainda é de nervosismo. "Os
fundamentos da economia brasileira seguem bons, então vamos esperar que o bom senso
prevaleça", diz Tavares.
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