São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dólar tem maior alta em quase dez anos

Moeda americana dispara 7,42%, para R$ 2,198, enquanto estrangeiros tiram recursos do país para cobrir prejuízos

Incerteza paralisa mercado: exportador não vendeu, importador não comprou e bancos hesitaram diante da intervenção do BC

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a intensificação do movimento de fuga de capitais observado no mercado financeiro brasileiro há algumas semanas, o dólar comercial chegou a R$ 2,198 ontem, na sua maior valorização em um único dia desde 29 de janeiro de 1999: 7,42%. À saída dos estrangeiros, que tiram seus recursos do país tanto para cobrir perdas sofridas com a crise em outras partes quanto para colocá-los em ativos mais seguros, somou-se a aposta, por parte de alguns bancos e corretoras, em uma alta ainda maior da moeda americana.
"A cada dia surgem novos problemas em outros países, o que gera uma insegurança generalizada e uma grande aversão ao risco", afirma Mário Paiva, analista de câmbio da corretora Liquidez.
Na cotação máxima do dia, o dólar chegou a R$ 2,202, e o valor de fechamento é o maior desde 22 de setembro de 2006.
A realização, pelo Banco Central, de um leilão de "swap" cambial no início da tarde não foi suficiente para acalmar os ânimos. A operação, que havia dois anos e meio não era vista, equivale a uma venda de dólares no mercado futuro. Consiste na oferta de contratos que protegem contra a variação cambial em determinado período -no caso, até 3 de novembro, quando os papéis vencem- em troca dos quais os compradores pagam ao BC a variação dos juros.
Foram colocados à disposição dos bancos US$ 2,1 bilhões em 41,6 mil contratos. No entanto, somente 29,5 mil, totalizando US$ 1,468 bilhão, foram vendidos.
Embora o mercado estivesse faminto pela moeda americana, a oferta não foi totalmente absorvida por causa da dificuldade em prever mesmo o cenário de curto prazo. Com medo de assumir compromissos, os bancos simplesmente preferiram não comprar os contratos e analisar melhor as perspectivas, acreditando que o BC deve continuar intervindo para garantir liquidez ao mercado de câmbio. Uma outra parte dos bancos pediu uma proteção exagerada, e então o negócio simplesmente não foi fechado.
"A única forma de resolver a situação definitivamente é restabelecer a confiança dos investidores e agentes no sistema financeiro internacional. Enquanto isso, o governo brasileiro vai ter de ser mais rápido em tomar medidas para equilibrar o mercado, oferecendo linhas de crédito para os exportadores", afirma Miriam Tavares, diretora de câmbio da corretora AGK.
"Uma outra providência interessante seria mandar operadores do próprio BC às mesas dos bancos para conversar com o pessoal, tentar entender o que está acontecendo e fornecer a solução adequada."
O giro financeiro no câmbio à vista ontem ficou perto dos US$ 2 bilhões usuais. "Somente as empresas que precisavam, por vencimento, quitar alguma obrigação ontem o fizeram", diz João Medeiros, diretor da corretora de câmbio Pioneer. "As negociações ficaram paralisadas. A taxa subiu tanto que quem precisa comprar não compra e quem tem dólares para vender resolve esperar para ver se consegue um valor melhor", afirma Francisco Gimenez Neto, diretor operacional da corretora NGO.
O anúncio de que o BC vai ajudar os exportadores utilizando dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e das reservas internacionais saiu praticamente no final do dia, sem tempo hábil para repercutir. A medida deve ajudar a reduzir a pressão, mas as expectativas para os próximos dias ainda é de nervosismo. "Os fundamentos da economia brasileira seguem bons, então vamos esperar que o bom senso prevaleça", diz Tavares.


Texto Anterior: EUA: Com problemas financeiros, homem mata mulher, sogra e 3 filhos
Próximo Texto: Petróleo cai a US$ 87,8 em Nova York
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.