São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Companhias anunciam suspensão de aquisições

VCP e Aracruz postergam acordo, enquanto a Cyrela desiste de comprar a Agra

Crise de liquidez afeta mais profundamente economia não-financeira, valor de ações despenca, e Leco e Vigor cancelam oferta inicial


CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Além de transformar em pó o valor das empresas na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), a crise do crédito tem feito outras vítimas na economia real. Na noite de sexta-feira, VCP e Aracruz informaram o adiamento do acordo que criaria a maior fabricante de celulose do mundo, com a fusão das duas empresas. A Cyrela comunicou ontem que não comprará mais a Agra, conforme anunciara em junho.
Apesar de VCP e Aracruz não esclarecerem os motivos do adiamento, analistas acreditam que o negócio tenha sido postergado em razão das perdas reconhecidas pela Aracruz. Na sexta, a empresa reconheceu que poderá ter prejuízo de R$ 1,950 bilhão por causa de operações financeiras com câmbio.
Caso as condições de volatilidade, taxa de juros e cotação do câmbio sejam piores do que as do dia 30 de setembro, o prejuízo poderá ser maior. "Certamente a postergação do negócio foi causada pelas perdas da Aracruz", diz Luiz Otávio Broad, analista da Ágora Corretora. "A fusão faz todo o sentido, só que, agora, o valor da empresa é outro."
Com o anúncio, as ações da Aracruz sem direito a voto caíram 15,46%. As com direito a voto perderam 8,77% de seu valor. Já os papéis da VCP tiveram perdas de 1,04%.
A Cyrela anunciou ontem a rescisão do contrato de aquisição da Agra. Segundo a construtora, o motivo foram incompatibilidades entre os sócios. Mesmo assim, a Cyrela comprará SPEs (sociedades de propósito específico) e suas dívidas da Agra, no valor de R$ 120 milhões. "A não-realização do negócio não teve a ver com problemas de crédito", diz Luiz Largman, diretor de relações com investidores da Cyrela. "O que houve foi incompatibilidade entre os sócios, com relação a alguns projetos."
Analistas de mercado, no entanto, dizem que é possível ter havido uma nova renegociação durante o processo de auditoria. "Na época da compra, falou-se que o valor pago pela Agra era justo", diz Eduardo Silveira, analista do banco Fator. "Só que, depois da venda da Tenda, da Company e da crise de crédito, o cenário é outro."
De todo modo, o mercado gostou da mudança. As ações da Cyrela subiram 2,35%, num dia em que o Ibovespa caiu 5,43%. Já as da Agra foram praticamente fulminadas: caíram nada menos do que 81,55%.
Elas não foram as únicas. Levantamento da consultoria Economática mostra que, das 10 ações que mais recuaram no último ano, 7 são do setor de construção civil. A retração do mercado de capitais fez com que a Vigor e a Leco cancelassem ontem a oferta de papéis.
Durante a conferência realizada pela MMX Mineração ontem, as principais perguntas dos analistas diziam respeito a crédito. A mineradora afirmou que conseguirá sustentar sua expansão a curto e médio prazos com seu próprio caixa.


Texto Anterior: Crise do crédito deverá reduzir ritmo da construção em 2009
Próximo Texto: Ex-ministro Luiz Furlan volta a presidir o conselho da Sadia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.