São Paulo, quarta-feira, 07 de outubro de 2009

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Austrália é 1ª grande economia a elevar juro

Decisão cita crescimento chinês e mercado de commodities e aumenta otimismo sobre a recuperação da economia global

Para analistas, outros BCs podem não aumentar juros temendo valorização de suas moedas, o que derruba competitividade no exterior


DA REDAÇÃO

Com os sinais de que o pior da crise já passou, a Austrália (um dos raros países que conseguiram evitar a recessão) foi a primeira das grandes economias que voltou a elevar juros.
Em uma decisão surpreendente, o banco central australiano aumentou os juros em 0,25 ponto percentual, para 3,25% anuais, interrompendo o ciclo de corte que iniciou em setembro do ano passado, quando a taxa estava em 7,25%. Os juros até então estavam no seu menor nível desde 1960.
De acordo com o organismo, é "prudente agora começar a diminuir gradativamente o estímulo" concedido pela redução nos juros, já que o crescimento da economia no ano que vem deve ficar perto da média, a inflação está próxima da meta e o risco "de séria contração econômica já passou".
A decisão australiana foi bem recebida pelos mercados globais, já que indica que a economia está se recuperando em algumas partes do mundo. O próprio BC da Austrália diz que o avanço da China está sendo bastante forte, o que provoca um impacto positivo significativo na região e nos mercados de commodities -o país da Oceania e o Brasil são grandes exportadores de minérios e alimentos.
A recuperação da Ásia, puxada pela China, está sendo tão forte que analistas temem que seja criada uma bolha nas Bolsas e ocorra um aumento brusco na inflação na região caso os governos não comecem a desarmar logo as medidas de estímulo (ou seja, planos econômicos e cortes nos juros).
Apesar de ter evitado a recessão (ou seja, dois trimestres consecutivos de retração no PIB), a economia australiana não passou sem arranhões pela crise global: ela se retraiu em 0,7% de outubro a dezembro de 2008. Para ter uma ideia, o PIB do Brasil caiu 3,4% no quarto trimestre de 2008 e se contraiu novamente nos três meses seguintes, antes de voltar a se expandir entre abril e junho.
Apesar da boa recepção, a medida australiana não deve ser copiada rapidamente pelos principais BCs globais, ainda que isso não seja descartado. O Fed (EUA), por exemplo, disse recentemente que não pretende mudar sua política monetária neste ano. Os juros americanos (perto de zero) estão no seu menor nível histórico.
Analistas cogitam que a decisão australiana pode ser seguida por Coreia do Sul e Indonésia -esses três países conseguiram escapar da recessão global, com suas economias se retraindo apenas no quarto trimestre de 2008 e voltando a crescer no início deste ano.
O BC israelense aumentou os juros em agosto e foi o primeiro dos países desenvolvidos a elevar a taxa desde que a crise mundial se agravou, em setembro do ano passado.
Um dos motivos que, segundo analistas, podem impedir os BCs globais de aumentar os juros é o impacto nas suas moedas. Caso as taxas fiquem muito distantes das estabelecidas pelo BC dos EUA, as suas moedas podem se valorizar em relação ao dólar, já que os investidores procuram aplicar em países com juros mais altos. Com isso, suas exportações ficarão menos competitivas, afetando a recuperação da economia.

Com agências internacionais



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