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Europa barra aumento do poder dos emergentes no FMI
Estratégia do Bric será manter o Fundo "a reboque" do G20 até ganhar mais voz
Apesar do apoio de EUA e Japão, emergentes não conseguem emplacar proposta de aumentar seu peso nas decisões do Fundo
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL
Brasil e demais emergentes
tiveram mais uma vez suas ambições de poder barradas pela
resistência das maiores potências da Europa no encontro
anual do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Bird
(Banco Mundial), em Istambul,
na Turquia.
Desta vez, mesmo o apoio direto de Estados Unidos e Japão
para dar mais voz aos emergentes não foi suficiente para aprofundar mudanças.
Agora, embora o FMI fale em
se "reinventar" e "voltar ao
centro das decisões", países como Brasil, China e Índia procurarão deixar o Fundo "a reboque" do G20 até conseguirem
mais participação.
O G20, que reúne as maiores
economias do mundo, foi
quem, na prática, ditou a agenda do FMI nos últimos meses.
Brasil e os emergentes reunidos no Bric (Rússia, Índia e
China são os demais) sofreram
duas derrotas na reunião de Istambul, que termina hoje.
Não conseguiram levar
adiante proposta de aumentar
em cinco para sete pontos percentuais o peso dos emergentes
nas decisões do FMI. E em três
para seis pontos no Bird.
Isso faria com que ficasse
equilibrado o peso dos países
avançados e em desenvolvimento nos dois órgãos.
Enquanto emergentes, EUA
e Japão falam em aumento de
participação de "pelo menos"
cinco pontos, os europeus se fixam em um "até" cinco pontos.
O mesmo vale para o Bird.
O prazo para a revisão das cotas é janeiro de 2011, mas os
emergentes não têm segurança
se ele será cumprido.
A resistência é encabeçada
por Alemanha, França e Reino
Unido e apoiada por outros europeus. A razão: embora esses
países tenham peso maior no
FMI, o tamanho de suas economias vai ficando para trás.
Os PIBs (Produto Interno
Bruto) de França, Reino Unido
e Alemanha já são menores do
que o da China. Mas os chineses têm um poder no Fundo
bem menor do que cada um dos
três. O PIB do Brasil é três vezes maior que o da Bélgica, mas
o poder de influência é 37%
menor do que o dos belgas.
O Bric também não conseguiu fazer vingar sua proposta
de ter votos equivalentes a 16%
(que lhe garantiria poder de veto) sobre como será usado um
novo fundo do FMI que pode
chegar a US$ 500 bilhões.
Do total desse fundo, Brasil,
Rússia, Índia e China poderiam
participar com US$ 80 bilhões
(16%). Como não há consenso
com os europeus a respeito do
direito a veto, os quatro países
não devem participar desse
fundo.
De qualquer maneira, vão injetar o dinheiro no FMI, mas
que só poderá ser usado de modo bem menos flexível.
Em discurso ontem, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, reconheceu
o peso do G20 e afirmou que os
países-membros do FMI devem "acelerar" as mudanças
para tornar o Fundo mais "representativo".
Do ponto de vista de países
como China e Brasil, hoje protegidos por bilhões de dólares
acumulados em reservas internacionais, interessa ampliar
poder e caixa do Fundo apenas
se eles obtiverem uma fatia
maior nas decisões.
O Fundo lançou nesta reunião a ideia de se tornar uma
espécie de banco central global,
acumulando caixa suficiente
para que se torne desnecessário aos países acumular tantas
reservas. Nos últimos anos, as
proteções individuais dos países saltaram de US$ 2 trilhões
para US$ 8 trilhões.
A proposta dificilmente irá
adiante sem a China, que é a recordista em reservas, com mais
de US$ 2 trilhões.
Para os EUA, interessa atrair
os asiáticos para a ideia do BC
global, já que eles poderiam utilizar parte das reservas para
consumir mais e rebalancear o
crescimento mundial.
Até o colapso de 2008, o
mundo crescia largamente dependente do consumo e endividamento norte-americanos. Isso não sustenta mais, daí a necessidade de migrar o principal
motor global para asiáticos e
demais emergentes.
Exortado pelos EUA, seu
maior sócio, o FMI prometeu
ontem perseguir esse objetivo,
"supervisionar com mais rigor
o quadro global" e "levar adiante a reforma na estrutura de representatividade" do Fundo.
Embora a economia global
continue frágil, uma mudança
mais profunda no FMI pode ficar mais distante à medida que
a crise vai fica para trás.
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