FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL À BASILÉIA

Na contramão do belicismo de Carlos Lessa e de relatórios de inspeção emitidos por seus próprios subordinados, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, elogiou os procedimentos de concessão de crédito do BNDES.
Disse, no entanto, desconhecer o teor das críticas do BC ao BNDES, reveladas ontem pela Folha. "As inspeções são um trabalho rotineiro feito pelo BC em todas as instituições financeiras no país, isso acontece centenas de vezes por ano. Não posso opinar especificamente sobre esses relatórios inclusive porque não os li. Li hoje [ontem] no jornal. Não são algo que chega ao nível da presidência nem da diretoria", afirmou Meirelles na Basiléia (Suíça), onde participa de reunião do BIS (Banco de Compensações Internacionais, na sigla em inglês).
"O resultado geral dos trabalhos de julgamento de crédito do BNDES é positivo. Tem taxas de inadimplência dentro dos padrões aceitáveis internacionalmente", disse ele, repetindo argumentos do próprio BNDES.
Mas, diferentemente do que disse Meirelles, a troca de correspondências entre as duas instituições mostra que a diretoria do BC estava, sim, envolvida na questão -o diretor de Fiscalização, Paulo Cavalheiro, escreveu carta em setembro apontando que as medidas tomadas pelo BNDES para corrigir deficiências nos modelos de classificação de risco de crédito eram até ali insatisfatórias.
Meirelles acrescentou que, mesmo que venha a ler os relatórios, não poderá comentá-los. "É sigiloso. Em tese nem deveria estar no jornal." Crítico do crédito direcionado no país, por avaliar que os juros cobrados nesse tipo de empréstimo ajudam a explicar as altas taxas do país, ele negou relação entre o tema e as críticas do BC ao BNDES.

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