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Agrofolha
Soja sobe e dá alívio a produtor brasileiro
Preço de vários grãos deixou de ser fixado só pela demanda de alimentos, mas também pelo volume à produção de etanol e biodiesel
Novos preços do mercado internacional já viabilizam ganhos até mesmo para regiões distantes de portos, como a de Sinop (MT)
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Deu a louca no mercado de
soja. Os Estados Unidos, líderes
mundiais na produção da oleaginosa, devem anunciar uma
safra recorde neste mês, próxima de 90 milhões de toneladas.
Os estoques por lá também são
os maiores de todos os tempos
e há equilíbrio confortável entre oferta e consumo mundiais.
Mesmo assim, em plena safra
norte-americana, e surpreendendo a todos, a soja passa por
um período de forte elevação
de preços na Bolsa de Chicago,
a meca da formação dos patamares de negociação da oleaginosa.
Bom para o Brasil. As nuvens
negras que rondavam a cultura
do produto começam a se dissipar, e os novos preços do mercado internacional já viabilizam ganhos até mesmo em regiões distantes, como a de Sinop (MT), onde antes a distância dos portos de exportação
tornava o produto pouco competitivo.
Enquanto nos Estados Unidos a colheita avança e já atinge
90% da área plantada no Brasil
o plantio cobre apenas 40% da
área destinada ao produto. O
cenário de preços bons dá novo
ânimo aos produtores brasileiros, que, pela primeira vez nos
últimos anos, têm clima favorável no período de plantio.
Por que sobe?
Mas por que a soja sobe se a
demanda e a oferta mundiais
estão equilibradas? É que a nova formação de preços dos
grãos deixou de ser determinada apenas pela demanda de alimentos, mas também pelo volume destinado à produção de
agroenergia: etanol e biodiesel,
principalmente.
E é essa interligação entre a
demanda de grãos para alimentos e para a agroenergia que está elevando os preços das commodities.
A soja sobe por falta de milho
e de trigo. Os dois últimos, com
os maiores preços em uma década, devem atrair os produtores na safra 2007/8, que vão aumentar a área plantada em busca de maior rentabilidade. A
opção dos produtores por milho e trigo, principalmente nos
Estados Unidos, deixa espaço
menor para a soja.
Os números são impressionantes, segundo Fernando Muraro, da Agência Rural, de Curitiba (PR). Os norte-americanos
vão colher 277 milhões de toneladas de milho neste ano, mas o
consumo já supera 300 milhões de toneladas. Os estoques
finais desta safra ficarão em
25,3 milhões de toneladas.
A relação de estoques e consumo cai para apenas 8%, ou
seja, o suficiente para apenas 31
dias de consumo nos Estados
Unidos. "Isso é muito perigoso", afirma Muraro. Há dois
anos, a relação era de 20%, e os
estoques garantiam 72 dias de
consumo.
Essa relação de estoques e
consumo cai perigosamente
também nos números mundiais. A safra mundial de milho
deste ano deverá ficar em 690
milhões de toneladas, com queda de 0,5%. Já o consumo sobe
para 722 milhões de toneladas,
com alta de 3%. Os estoques,
que eram de 125 milhões no
ano passado, recuam para 90
milhões, ou seja, apenas 12% do
consumo total.
Oferta e demanda
O equilíbrio entre oferta e
demanda de milho pode ficar
ainda mais complicado se não
houver aumento de produção
por expansão de área e elevação
da produtividade.
Leonardo Sologuren, da consultoria Céleres, de Uberaba
(MG), diz que em 2002 os Estados Unidos destinavam 21 milhões de toneladas de milho para a produção de etanol.
Em 2010, esse volume sobe
para 66 milhões de toneladas.
Essa demanda maior e a previsível melhor remuneração aos
produtores de milho vão exigir
aumento de área para o produto em detrimento da área destinada à cultura da soja.
Mas a demanda por soja também é crescente com os programas de agroenergia. José Pitoli,
da Coopermibra, diz que a produção de biodiesel vindo da soja cresce e que a demanda desse
óleo vegetal será de 4 milhões
de toneladas já nós próximos
anos. Para a obtenção desse volume de óleo, serão necessários
20 milhões de toneladas de
grãos de soja, acrescenta.
Trigo
Outro produto que deve
atrair a atenção dos produtores
é o trigo. A produção mundial
da safra 2006/7 recua para 600
milhões de toneladas, 3% abaixo do consumo. Os estoques
mundiais, que no ano passado
estavam em 147 milhões de toneladas, caem para 119 milhões.
Esse novo cenário de preços
pode provocar um rearranjo na
área de grãos. Nos últimos dez
anos, a soja ganhou 49% de novas áreas no mundo, passando
para 94 milhões de hectares. O
milho teve acréscimo de apenas 3%, e o trigo perdeu 7%.
Muraro diz que, na próxima
safra norte-americana, atraídos pela maior demanda e por
melhores preços, os produtores
vão incorporar mais 3 milhões
de hectares ao cultivo de milho.
A soja pode perder 2 milhões de
hectares.
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