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Ricos terão 1ª recessão desde 1945, diz FMI
Previsão é que maioria das economias avançadas terá contração de ao menos um ano e que EUA devem estar entre os mais atingidos
Segundo o FMI, a recessão
global será mais forte que o
desaquecimento dos anos
1990, no entanto, mais
amena que a dos anos 1980
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O FMI (Fundo Monetário
Internacional) previu ontem
que quase a totalidade das economias desenvolvidas entrará
em uma recessão com duração
mínima de um ano. Será a primeira vez que isso ocorrerá
com o conjunto das economias
avançadas desde o final da Segunda Guerra, em 1945.
A recessão atingirá com mais
força os Estados Unidos, o Reino Unido, a Alemanha e a Espanha. Mas todo o mundo sofrerá
os seus efeitos, cortando o crescimento global do ano que vem
para pouco mais de 2%.
A última vez em que o mundo
cresceu tão pouco foi em 2001,
principalmente por causa do
fraco desempenho, à época, dos
países emergentes. Desta vez,
será o contrário: os países menos desenvolvidos é que vão
manter à tona o crescimento
global, enquanto os desenvolvidos devem afundar.
A única exceção entre os países avançados será o Canadá,
cujo crescimento no ano que
vem pode ficar levemente acima de zero, em 0,3%.
Entre os demais desenvolvidos, a queda no PIB (Produto
Interno Bruto) deve variar de
1,3% (Reino Unido) a 0,2% (Japão). No caso dos Estados Unidos, a maior economia do planeta, a previsão é de uma queda
de 0,7% no ano que vem.
O FMI divulgou ontem em
caráter extraordinário um novo relatório "Panorama da Economia Mundial", em que traça
essas previsões. De acordo com
Olivier Blanchard, economista-chefe do Fundo, as projeções já
levam em conta todas as medidas adotadas até aqui pelos Estados Unidos e por outros países para combater a atual crise.
No relatório, o FMI informa
um corte de 0,8 ponto percentual na previsão, feita há menos
de um mês, para o crescimento
global no ano que vem. Ela caiu
de 3% para 2,2% agora.
"Estamos vendo uma queda
dramática nos índices de confiança de consumidores e empresas. Seus níveis de riqueza
despencaram. Já os níveis de
incerteza crescem a cada dia.
Depois de terem se mantido firmes por um longo período, eles
[consumidores e empresários]
simplesmente ficaram com
medo e agora decidiram gastar
menos", afirmou Blanchard em
entrevista coletiva.
"Apesar das medidas recentes adotadas para mitigar os
problemas, ainda não sabemos
se existem outras "minas" enterradas e prontas para explodir. Uma piora no mercado financeiro certamente contrairá
ainda mais a economia como
um todo", acrescentou o economista-chefe do Fundo.
A recessão que se avizinha,
segundo o Fundo, será mais
forte do que o desaquecimento
registrado nos anos 1990, porém mais amena do que a vista
nos ano 1980, mais precisamente em 1982.
De acordo com Jörg Decressin, chefe da divisão de Estudos
Econômicos Mundiais do FMI,
a diferença agora em relação à
parada dos anos 1980 é que, à
época, os países desenvolvidos
tinham um potencial de crescimento maior devido a uma taxa
de aumento populacional mais
elevada.
"Hoje, por crescerem menos
em termos demográficos, os
países desenvolvidos têm um
potencial de crescimento menor. Nos anos 1980, quando a
população ainda aumentava
com certo ritmo, eles ficaram
muito abaixo do potencial",
afirmou Decressin.
Blanchard, por sua vez, afirmou que alguns dos países desenvolvidos ainda têm um certo fôlego para estimular suas
economias com medidas de caráter fiscal, aumentando os
gastos públicos. "Os estímulos
monetários (redução de juros)
estão chegando perto do limite,
e algumas economias devem
começar a pensar em outras
ferramentas", disse.
Entre os países que ainda teriam espaço para novos estímulos fiscais, ele citou os Estados Unidos e a Alemanha. Entre os emergentes, a China.
Embora seja uma preocupação constante "no radar", os
economistas do FMI afirmaram ser " ainda muito pequeno" o risco de o mundo sofrer
um processo de deflação, quando os preços caem, desestimulando ainda mais os investimentos e o consumo.
"O mundo deve se recuperar
antes que isso aconteça", disse
acreditar Blanchard.
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