|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Poder de compra maior diversifica gastos
Com deflação em alimentos como arroz, feijão e carne, famílias desembolsam menos em itens básicos e variam consumo
Trabalhadores com salário menor são os que mais transformam renda em consumo, pois poupam menos, diz especialista
VERENA FORNETTI
DA REDAÇÃO
A fatia do salário mínimo necessária para comprar a cesta
básica é uma das menores em
mais de uma década. Com isso,
o peso dos gastos com alimentação no orçamento das famílias de menor renda tem caído.
Segundo dados do Dieese, a
compra da cesta básica toma
44,99% da renda líquida (descontada a parcela da Previdência) do trabalhador que recebe
salário mínimo. O resultado é
melhor que o do ano passado,
quando eram necessários
50,25% do rendimento para fazer essa compra. Em 1995, os
produtos básicos comprometiam quase 89% da renda.
O aumento do poder de compra do salário mínimo ocorre
em razão dos reajustes acima
da inflação nos últimos anos e
porque os preços dos alimentos
se desaceleraram após dois
anos de altas significativas.
O feijão, o arroz e a carne, por
exemplo, ficaram mais baratos.
O preço do feijão carioquinha
caiu 47,39% nos últimos 12 meses, de acordo com o IPC (Índice de Preços ao Consumidor)
da Fundação Getulio Vargas.
Ovo, macarrão, óleo de soja,
músculo bovino e carne suína
também tiveram deflação.
Salomão Quadros, coordenador de Análises Econômicas da
FGV, afirma que os alimentos
subiram menos que a inflação
neste ano, ao contrário do que
aconteceu no ano passado. Como o reajuste do salário mínimo é calculado a partir do PIB e
da inflação média na economia,
a conta beneficia os mais pobres, que empregam uma parte
da renda maior que a dos mais
ricos nos gastos com alimentação. Com o poder de compra
ampliado, essas famílias podem
variar os itens consumidos.
"O salário está maior, e o gasto, menor. As famílias podem,
então, gastar com outras coisas,
como materiais de construção
para reformar a casa e vestuário", diz Clemente Ganz Lúcio,
diretor técnico do Dieese.
É o caso da dona de casa Lucinéia Macena da Silva Cruz,
39, que controla cada centavo
que entra em casa e notou a diferença deste ano em relação a
2008. O marido de Lucinéia ganha pouco mais de um salário
mínimo montando materiais
de escritório em São Paulo.
Moram com quatro filhos -só
um trabalha, mas quase não
ajuda nas compras da casa.
Mesmo com o orçamento
apertado, tem sobrado um pouco mais de dinheiro para incrementar o consumo da família.
No mês passado, depois de
quitar as contas e providenciar
os produtos para a alimentação, Lucinéia comprou três
blusinhas e uma saia. Em outubro, havia comprado um rádio,
que parcelou em seis vezes.
"O que eu uso mais em casa é
arroz e feijão porque a nossa família é grande. Como estão
mais em conta, às vezes eu
compro um iogurte para as
crianças, uma fruta ou uma bolachinha", diz ela, que mora em
uma casa de dois quartos equipada com micro-ondas, máquina de lavar, tanquinho, fogão,
geladeira, TV e um DVD queimado, a ser trocado assim que
sobrar dinheiro no fim do mês.
Efeito cascata
O diretor do Dieese destaca
que as famílias que ganham
menos são as que mais transformam renda em consumo,
pois tendem a poupar menos.
"Se o rendimento dessas famílias aumentar R$ 1, certamente
elas vão gastar R$ 1 a mais. Esse
é um mecanismo importante
para dinamizar a economia."
Lúcio ressalta que o salário
mínimo tem efeito cascata, pois
uma parte expressiva da população ocupada no Norte e no
Nordeste recebe salários próximos ao valor mínimo. Benefícios sociais -como o valor base
da aposentadoria -também estão atrelados ao piso salarial.
"No fundo, o brasileiro está
com mais dinheiro no bolso e
isso proporciona tanto bem-estar a curto prazo quanto mantém a economia girando", diz
Marcelo Neri, coordenador do
Centro de Políticas Sociais da
Fundação Getulio Vargas.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Consumo continuará aquecido em 2010, afirma especialista Índice
|