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POLÍTICA CAMBIAL
Banco age após cotação cair abaixo de R$ 2,70, mas nega intervenção; mercado vê compra de até US$ 20 mi
BC compra dólar e contém queda da moeda
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após uma seqüência de declarações de integrantes do governo de
que o real estaria sobrevalorizado,
o Banco Central decidiu intervir
no mercado ontem em operação
de compra de dólar. A ação do BC
foi anunciada pela manhã, logo
que a cotação da moeda americana caiu abaixo de R$ 2,70. A intervenção anterior havia sido em fevereiro.
Para profissionais do mercado
financeiro ouvidos pela Folha, a
operação realizada pela autoridade monetária teria dois significados: 1) que a taxa de R$ 2,70 seria
um piso abaixo do qual começaria a causar riscos no médio prazo
para as exportações; 2) seria um
sinal para que bancos e investidores passassem a se desfazer de
suas "apostas" na queda do dólar,
o que iniciaria um movimento de
depreciação do real.
Depois da divulgação do comunicado do BC, a cotação do dólar
saiu de R$ 2,695 para R$ 2,715, taxa pela qual o banco teria adquirido a moeda americana. Segundo
operadores de câmbio consultados pela Folha, a compra teria sido pequena, algo entre US$ 10 milhões e US$ 20 milhões. No final
do dia, a moeda fechou cotada a
R$ 2,719. O BC anuncia a intervenção, mas não divulga os valores da operação.
No Rio, o presidente da instituição, Henrique Meirelles, disse que
o motivo seria reforçar as reservas
em moeda estrangeira do país e
negou que tenha atuado para afetar a taxa de câmbio. Disse que a
única meta do BC é a de inflação.
Essa foi a terceira vez em que o
BC interveio no mercado de dólar
neste ano. Em janeiro, ocorreram
16 intervenções, totalizando um
valor expressivo para um único
mês: US$ 2,620 bilhões. Em fevereiro, o valor foi pequeno, de apenas US$ 7 milhões. Segundo o último dado oficial do BC, as reservas internacionais líquidas estavam em US$ 24,170 bilhões em
outubro. Desses números estão
excluídos os empréstimos concedidos por instituições multilaterais de crédito, como o Fundo
Monetário Internacional. Naquele mesmo mês, as reservas brutas
estavam em US$ 49,416 bilhões.
Apesar da persistente queda do
dólar nas últimas semanas, o fluxo cambial em novembro foi negativo em US$ 1,056 bilhão -ou
seja, mais dólares foram enviados
para o exterior (ou contratos de
remessa foram fechados) do que
entraram na economia.
Esse número pode ser explicado, entre outros fatores, pela ação
do Tesouro Nacional, anunciada
em novembro, de compra de US$
3 bilhões para o pagamento da dívida externa até junho de 2005.
Nesse caso, o agente do Tesouro
é o Banco do Brasil. Mesmo que o
Tesouro não remeta imediatamente os dólares para o exterior, a
contratação da operação é contabilizada automaticamente pelo
BC como saída. Ao contrário do
BC, o BB não informa sequer as
datas de compra de moeda em
nome do Tesouro.
Uma das razões para a contínua
depreciação do dólar em relação
ao real é a ação de especuladores
(como bancos e investidores) no
mercado. Por acreditar que a
moeda americana cairá mais, especuladores fecham contratos na
Bolsa de Mercadorias & Futuros
pelos quais se comprometem a
vender (posição "vendida") dólar
em determinada data por valor
previamente combinado. Se a
moeda realmente se deprecia, eles
ganham, pois a vendem por um
valor mais alto do que o negociado no mercado no momento do
vencimento do contrato. As cotações embutidas nos contratos futuros influenciam o dólar no mercado à vista.
Em novembro, havia US$ 948,6
milhões em posições vendidas de
câmbio fechadas por bancos, e
nada em posição comprada
(aposta na alta do dólar).
Pressão política
Depois de meses de valorização
do real, integrantes do governo
começaram a pressionar nas últimas semanas, publicamente, para
que o BC agisse no sentido de
contar a queda do dólar. O movimento se intensificou quando a
moeda americana chegou perto
de R$ 2,70.
Tanto o ministro Luiz Fernando
Furlan (Desenvolvimento) quanto o líder do governo no Senado,
Aloizio Mercadante (PT-SP), chegaram a dizer que o dólar barato
poderia comprometer o desempenho das exportações brasileiras
-que ficam mais caras no exterior.
Ontem de manhã, questionado
sobre a queda do dólar, o ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda)
disse que uma resposta sobre o
assunto seria "complicada".
Já o vice-presidente, José Alencar, afirmou: "No Brasil, o câmbio
é flutuante".
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