São Paulo, terça-feira, 07 de dezembro de 2004

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POLÍTICA CAMBIAL

Banco age após cotação cair abaixo de R$ 2,70, mas nega intervenção; mercado vê compra de até US$ 20 mi

BC compra dólar e contém queda da moeda

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após uma seqüência de declarações de integrantes do governo de que o real estaria sobrevalorizado, o Banco Central decidiu intervir no mercado ontem em operação de compra de dólar. A ação do BC foi anunciada pela manhã, logo que a cotação da moeda americana caiu abaixo de R$ 2,70. A intervenção anterior havia sido em fevereiro.
Para profissionais do mercado financeiro ouvidos pela Folha, a operação realizada pela autoridade monetária teria dois significados: 1) que a taxa de R$ 2,70 seria um piso abaixo do qual começaria a causar riscos no médio prazo para as exportações; 2) seria um sinal para que bancos e investidores passassem a se desfazer de suas "apostas" na queda do dólar, o que iniciaria um movimento de depreciação do real.
Depois da divulgação do comunicado do BC, a cotação do dólar saiu de R$ 2,695 para R$ 2,715, taxa pela qual o banco teria adquirido a moeda americana. Segundo operadores de câmbio consultados pela Folha, a compra teria sido pequena, algo entre US$ 10 milhões e US$ 20 milhões. No final do dia, a moeda fechou cotada a R$ 2,719. O BC anuncia a intervenção, mas não divulga os valores da operação.
No Rio, o presidente da instituição, Henrique Meirelles, disse que o motivo seria reforçar as reservas em moeda estrangeira do país e negou que tenha atuado para afetar a taxa de câmbio. Disse que a única meta do BC é a de inflação.
Essa foi a terceira vez em que o BC interveio no mercado de dólar neste ano. Em janeiro, ocorreram 16 intervenções, totalizando um valor expressivo para um único mês: US$ 2,620 bilhões. Em fevereiro, o valor foi pequeno, de apenas US$ 7 milhões. Segundo o último dado oficial do BC, as reservas internacionais líquidas estavam em US$ 24,170 bilhões em outubro. Desses números estão excluídos os empréstimos concedidos por instituições multilaterais de crédito, como o Fundo Monetário Internacional. Naquele mesmo mês, as reservas brutas estavam em US$ 49,416 bilhões.
Apesar da persistente queda do dólar nas últimas semanas, o fluxo cambial em novembro foi negativo em US$ 1,056 bilhão -ou seja, mais dólares foram enviados para o exterior (ou contratos de remessa foram fechados) do que entraram na economia.
Esse número pode ser explicado, entre outros fatores, pela ação do Tesouro Nacional, anunciada em novembro, de compra de US$ 3 bilhões para o pagamento da dívida externa até junho de 2005.
Nesse caso, o agente do Tesouro é o Banco do Brasil. Mesmo que o Tesouro não remeta imediatamente os dólares para o exterior, a contratação da operação é contabilizada automaticamente pelo BC como saída. Ao contrário do BC, o BB não informa sequer as datas de compra de moeda em nome do Tesouro.
Uma das razões para a contínua depreciação do dólar em relação ao real é a ação de especuladores (como bancos e investidores) no mercado. Por acreditar que a moeda americana cairá mais, especuladores fecham contratos na Bolsa de Mercadorias & Futuros pelos quais se comprometem a vender (posição "vendida") dólar em determinada data por valor previamente combinado. Se a moeda realmente se deprecia, eles ganham, pois a vendem por um valor mais alto do que o negociado no mercado no momento do vencimento do contrato. As cotações embutidas nos contratos futuros influenciam o dólar no mercado à vista.
Em novembro, havia US$ 948,6 milhões em posições vendidas de câmbio fechadas por bancos, e nada em posição comprada (aposta na alta do dólar).

Pressão política
Depois de meses de valorização do real, integrantes do governo começaram a pressionar nas últimas semanas, publicamente, para que o BC agisse no sentido de contar a queda do dólar. O movimento se intensificou quando a moeda americana chegou perto de R$ 2,70.
Tanto o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) quanto o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), chegaram a dizer que o dólar barato poderia comprometer o desempenho das exportações brasileiras -que ficam mais caras no exterior.
Ontem de manhã, questionado sobre a queda do dólar, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) disse que uma resposta sobre o assunto seria "complicada".
Já o vice-presidente, José Alencar, afirmou: "No Brasil, o câmbio é flutuante".


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