São Paulo, terça-feira, 07 de dezembro de 2004

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POLÍTICA CAMBIAL

Avaliação é a de que interferência no mercado terá reflexos limitados devido ao contexto mundial de queda do dólar

Economistas minimizam atuação do BC

Luciana Whitaker/Folha Imagem
Marcos Lisboa (dir.), secretário de Política Econômica, durante evento no Banco Central no Rio


DA SUCURSAL DO RIO
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Economistas disseram que devem ser limitados os efeitos da atuação do Banco Central no mercado de câmbio, pois, neste momento, o dólar vive um processo de desvalorização em relação às principais moedas do mundo. O real, naturalmente, estaria seguindo tal movimento, afirmam.
O próprio presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, citou a queda do dólar em relação a outras moedas fortes -euro e iene, especialmente- como uma das razões para a valorização da moeda brasileira.
Segundo o presidente do BC, o mundo discute hoje "um problema de desvalorização internacional do dólar" e o real "é uma moeda que está extremamente estável em relação às principais moedas do mundo", cujas cotações estão em alta em relação à moeda norte-americana.
Na visão dele, o desequilíbrio fiscal nos EUA está na raiz desse processo. "Há um fenômeno global que temos que levar em consideração. Não há dúvida de que a economia internacional está passando por um processo de adaptação em razão de um ajuste da trajetória do déficit em conta corrente norte-americano, que parece estar caminhando para um processo de ajustamento [de alta, na verdade]", disse Meirelles, em entrevista após palestra no Ciclo de Debates Selic 25 Anos, no Rio.
Presente ao mesmo evento, o economista Paulo Leme, diretor de pesquisa de mercados emergentes do banco americano Goldman Sachs, concorda que a queda do dólar é um fenômeno mundial que afeta também o Brasil.
Leme afirmou que, ao observar a variação de outras moedas em relação ao dólar, o real está "se apreciando [subindo] muito menos do que outras moedas". Ou seja: em países com os quais o Brasil mantêm relações comerciais, como os da UE (União Européia), o dólar caiu ainda mais.
Por esse motivo, na opinião de Leme, a tese de que a valorização do real prejudica as exportações é "parcial". "A análise de que se perde competitividade nas exportações [com o dólar nesse nível de preço] é descuidada e muito parcial", afirmou Leme.
Ao falar sobre o câmbio, o economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, disse que "os números [positivos] atuais da economia brasileira cabem à valorização cambial", acrescentando que "os exportadores estão sofrendo um pouco mais, mas a sociedade está sofrendo um pouco menos" com a recente queda do dólar.
Sobre os efeitos positivos, Pastore citou que o recuo do dólar pode aumentar os investimentos realizados no país, ao baratear a compra de máquinas e equipamentos importados.

Calibragem
Para o ex-diretor de Política Monetária do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Gávea Investimentos, o BC é muito "gradualista" ao mexer na Selic, tanto na hora de baixar a taxa como na de subi-la.
Em geral, o BC altera os juros -para cima ou para baixo- em 0,25 ponto ou 0,5 ponto em cada mês. Figueiredo disse que o Banco Central deveria promover alterações mais fortes, quando necessário, para sinalizar de forma mais clara qual será a trajetória do juro. Com isso, diz, as taxas de longo prazo se reduziriam e haveria um efeito positivo sobre o endividamento público. (PEDRO SOARES E NEY HAYASHI DA CRUZ)

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