|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INFRA-ESTRUTURA
Negócios para a venda de energia "velha" das geradoras podem movimentar até R$ 130 bi, estimam analistas
Megaleilão testa modelo do setor elétrico
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O novo modelo do setor elétrico
terá seu primeiro teste hoje, às
10h, quando for dado início ao
megaleilão de energia "velha" no
Gran Meliá World Trade Center.
Serão ofertados 50.000 MWh
(megawatts-hora), equivalentes a
75% da energia produzida pelas
geradoras -exceto Itaipu.
Analistas ouvidos pela Folha estimam entre R$ 120 bilhões e R$
130 bilhões, a serem pagos nos
próximos oito anos, o valor total
dos negócios a serem fechados.
Trata-se de um leilão de oferta
em que as geradoras tentarão
vender o maior volume de energia a um "pool" comprador pelo
melhor preço. "Todas as geradoras estarão competindo no preço
para poder vender o maior volume possível", diz Cláudio Delbrueck, analista do Unibanco.
A sintonia entre preço e volume
de vendas exigirá prudência dos
vendedores. "Do sucesso das vendas dependerá a geração de caixa
futura das geradoras de energia,
quase 80% delas estatais, e sua capacidade de fazer novos investimentos", diz Pedro Batista, analista do banco Pactual.
Se o preço sair muito baixo, as
geradoras perderão receitas e o
setor não atrairá novos investimentos -e nem elas terão como
investir em expansão. Se ficar
muito alto, haverá pressão sobre o
preço final que as distribuidoras
cobrarão dos consumidores e sobre a inflação.
Batista, do Pactual, cita o exemplo de Furnas, a maior vendedora
do leilão de hoje. "Furnas compra
40% da energia que vende, se errar a mão no preço no leilão poderá ficar numa situação difícil", diz.
Segundo estudo feito pelo Pactual, o preço médio dos contratos
da geradora com seus fornecedores é de R$ 92,50 o MWh. "Se vender muito abaixo disso no leilão,
ficará com dificuldades de caixa",
observa Batista.
A sintonia fina que o novo modelo preconiza baseia-se na competição na oferta, pois há mais
energia disponível que demanda.
Segundo o ONS -Operador Nacional do Sistema Elétrico - a demanda atual é de 45.000 MWh,
mas parte disso já está contratada
pelas distribuidoras. Assim, apenas 25.000 MWh da demanda
atual será preenchida por meio do
leilão, calculam analistas.
Os analistas acreditam que haverá uma "calibragem" nos preços do leilão, pois apesar de agora
haver sobra de energia, a demanda está crescendo 8% neste ano,
em relação a 2003. Se no ano que
vem a demanda aumentar 5%, a
sobra de energia acabará em 2006
e exigirá novos investimentos.
Preços
Os contratos que serão firmados
no leilão serão válidos por oito
anos, com início em 2005, 2006 e
2007. Embora os preços só sejam
definidos hoje durante o pregão,
analistas já calculam que sairão
entre R$ 70 e R$ 80, em média, o
MWh. Isso porque o preço atual
da energia, nos contratos que estão se encerrando, é de R$ 65 o
MWh, em média.
Como o leilão venderá energia
para entrega futura, os preços médios serão maiores que o atual.
"Acredito que num patamar de
R$ 70 o MWh dá para rentabilizar
a geradora sem onerar o consumidor", diz Delbrueck.
Segundo analistas, mesmo que
o preço médio chegue a R$ 80 o
MWh nos novos contratos a se
iniciarem em 2005, o impacto para o consumidor ao longo do tempo seria irrisório.
Mudança
O megaleilão de energia velha
-aquela produzida por geradoras que já amortizaram seus investimentos- marca a mudança
estrutural do setor elétrico, desenhada pelo Ministério de Minas e
Energia. Antes, cada geradora comercializava energia diretamente
com uma ou mais distribuidoras.
Isso permitia, desequilíbrios,
como por exemplo, por exemplo,
as distribuidoras do Nordeste pagarem mais caro pela energia -
adquirida das termelétricas. Agora, com o leilão tenta-se equalizar
as tarifas pois todas as distribuidoras comprarão do "pool" a um
preço médio.
Também permitia que geradoras e distribuidoras do mesmo
grupo negociassem diretamente
-ao preço que lhes conviesse. Os
aumentos de custo eram repassados ao consumidor pela distribuidora. Também garantia a colocação de toda a energia gerada, dentro do próprio grupo.
A Copel Geradora, por exemplo, vende 100% de sua produção
à Copel Distribuidora ao preço de
R$ 64 o MWh. Agora, ela venderá
a um "pool" - o mercado onde
se organizam as compras e vendas em leilão. E todas as distribuidoras comprarão energia a um
preço médio desse "pool". Segundo analistas, na nova modelagem
dificilmente a Copel venderá toda
a energia disponível se buscar o
maior preço.
Texto Anterior: Telefonia 2: Justiça mantém cobrança de assinatura Próximo Texto: Leilão contará com segurança reforçada em SP Índice
|