São Paulo, terça-feira, 07 de dezembro de 2004

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INFRA-ESTRUTURA

Negócios para a venda de energia "velha" das geradoras podem movimentar até R$ 130 bi, estimam analistas

Megaleilão testa modelo do setor elétrico

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O novo modelo do setor elétrico terá seu primeiro teste hoje, às 10h, quando for dado início ao megaleilão de energia "velha" no Gran Meliá World Trade Center. Serão ofertados 50.000 MWh (megawatts-hora), equivalentes a 75% da energia produzida pelas geradoras -exceto Itaipu.
Analistas ouvidos pela Folha estimam entre R$ 120 bilhões e R$ 130 bilhões, a serem pagos nos próximos oito anos, o valor total dos negócios a serem fechados.
Trata-se de um leilão de oferta em que as geradoras tentarão vender o maior volume de energia a um "pool" comprador pelo melhor preço. "Todas as geradoras estarão competindo no preço para poder vender o maior volume possível", diz Cláudio Delbrueck, analista do Unibanco.
A sintonia entre preço e volume de vendas exigirá prudência dos vendedores. "Do sucesso das vendas dependerá a geração de caixa futura das geradoras de energia, quase 80% delas estatais, e sua capacidade de fazer novos investimentos", diz Pedro Batista, analista do banco Pactual.
Se o preço sair muito baixo, as geradoras perderão receitas e o setor não atrairá novos investimentos -e nem elas terão como investir em expansão. Se ficar muito alto, haverá pressão sobre o preço final que as distribuidoras cobrarão dos consumidores e sobre a inflação.
Batista, do Pactual, cita o exemplo de Furnas, a maior vendedora do leilão de hoje. "Furnas compra 40% da energia que vende, se errar a mão no preço no leilão poderá ficar numa situação difícil", diz. Segundo estudo feito pelo Pactual, o preço médio dos contratos da geradora com seus fornecedores é de R$ 92,50 o MWh. "Se vender muito abaixo disso no leilão, ficará com dificuldades de caixa", observa Batista.
A sintonia fina que o novo modelo preconiza baseia-se na competição na oferta, pois há mais energia disponível que demanda. Segundo o ONS -Operador Nacional do Sistema Elétrico - a demanda atual é de 45.000 MWh, mas parte disso já está contratada pelas distribuidoras. Assim, apenas 25.000 MWh da demanda atual será preenchida por meio do leilão, calculam analistas.
Os analistas acreditam que haverá uma "calibragem" nos preços do leilão, pois apesar de agora haver sobra de energia, a demanda está crescendo 8% neste ano, em relação a 2003. Se no ano que vem a demanda aumentar 5%, a sobra de energia acabará em 2006 e exigirá novos investimentos.

Preços
Os contratos que serão firmados no leilão serão válidos por oito anos, com início em 2005, 2006 e 2007. Embora os preços só sejam definidos hoje durante o pregão, analistas já calculam que sairão entre R$ 70 e R$ 80, em média, o MWh. Isso porque o preço atual da energia, nos contratos que estão se encerrando, é de R$ 65 o MWh, em média.
Como o leilão venderá energia para entrega futura, os preços médios serão maiores que o atual. "Acredito que num patamar de R$ 70 o MWh dá para rentabilizar a geradora sem onerar o consumidor", diz Delbrueck.
Segundo analistas, mesmo que o preço médio chegue a R$ 80 o MWh nos novos contratos a se iniciarem em 2005, o impacto para o consumidor ao longo do tempo seria irrisório.

Mudança
O megaleilão de energia velha -aquela produzida por geradoras que já amortizaram seus investimentos- marca a mudança estrutural do setor elétrico, desenhada pelo Ministério de Minas e Energia. Antes, cada geradora comercializava energia diretamente com uma ou mais distribuidoras.
Isso permitia, desequilíbrios, como por exemplo, por exemplo, as distribuidoras do Nordeste pagarem mais caro pela energia - adquirida das termelétricas. Agora, com o leilão tenta-se equalizar as tarifas pois todas as distribuidoras comprarão do "pool" a um preço médio.
Também permitia que geradoras e distribuidoras do mesmo grupo negociassem diretamente -ao preço que lhes conviesse. Os aumentos de custo eram repassados ao consumidor pela distribuidora. Também garantia a colocação de toda a energia gerada, dentro do próprio grupo.
A Copel Geradora, por exemplo, vende 100% de sua produção à Copel Distribuidora ao preço de R$ 64 o MWh. Agora, ela venderá a um "pool" - o mercado onde se organizam as compras e vendas em leilão. E todas as distribuidoras comprarão energia a um preço médio desse "pool". Segundo analistas, na nova modelagem dificilmente a Copel venderá toda a energia disponível se buscar o maior preço.


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