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Crise não abala a confiança na economia
Pesquisa Datafolha mostra que 76% dos brasileiros mantiveram os planos de compra apesar da turbulência mundial
Na opinião de 68%, Brasil não sentirá impacto da crise ou será pouco afetado; para 20% dos entrevistados, país será muito prejudicado
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise financeira internacional ainda não bateu às portas da
população brasileira, que segue
confiante na economia e na
manutenção do emprego e
mantém praticamente intacta
a mesma disposição de gastar
nos próximos meses. Pesquisa
Datafolha mostra que 76% dos
brasileiros afirmam não ter desistido de comprar nenhum
bem ou produto por causa das
incertezas financeiras.
Na pesquisa, apenas 21% declaram ter desistido de algum
plano de aquisição por causa da
crise -6% deixaram de comprar automóveis; 2%, motocicletas; 3%, eletrodomésticos;
2%, computadores ou produtos
de informática; e 2%, imóveis,
por exemplo. O Datafolha ouviu 3.486 pessoas, com idade
acima de 16 anos, em 180 municípios, entre os dias 25 e 28 de
novembro. A margem de erro é
de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Segundo o Datafolha, 58%
acham que o Brasil será pouco
afetado pela crise e 10%, que o
país não sentirá nenhum impacto. Já 20% vêem que o país
será muito prejudicado.
O pessimismo é ligeiramente
superior entre as pessoas com
maior renda e escolaridade e as
que moram no Sudeste. O percentual dos que desistiram de
comprar algum item chega a
27% entre os que têm renda familiar mensal de cinco a dez salários mínimos e a 25% entre os
que têm curso superior ou que
moram na região Sudeste.
Segundo o Datafolha, a confiança do brasileiro em relação
à economia permanece parecida com a apurada até agosto,
antes da piora nos mercados.
Em agosto, 86% afirmavam que
pretendiam comprar roupas
nos próximos 12 meses -agora
a taxa é de 85%. O mesmo se repete com itens de consumo como telefone celular, aparelhos
de DVD e máquina de lavar
roupas (veja quadro acima).
A piora só aparece entre os
que pretendiam comprar móveis e eletrodomésticos -passou de 53% para 48% nessa
comparação, variação ainda
próxima da margem de erro.
"Mais do que não estar preocupada com a crise, a população demonstra um otimismo
impressionante. A população
está ignorando a crise e se mantém mais otimista do que antes
do noticiário econômico negativo", disse Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.
Na pesquisa, 39% afirmam
acreditar que a situação econômica do país vai, inclusive, melhorar -em março, esse percentual era de 34%. Já os que
prevêem piora na economia se
mantiveram em 20% de março
para o final de novembro.
Questionados sobre a perspectiva para a sua própria situação econômica, 60% afirmaram que ela deverá melhorar nos próximos meses -percentual maior do que os 53% de
março. Também diminuíram
os que estavam pessimistas em
relação a sua própria situação
financeira, passando de 11% para 8% os que dizem acreditar
em uma piora no quadro.
Para Paulino, uma série de
fatores ajuda a explicar o cenário róseo visto pelo brasileiro: o
fato de a crise não ser localizada
no Brasil, a avaliação positiva
do governo Lula e na forma como o presidente lida com as incertezas e o otimismo sazonal
com a chegada do 13º salário.
"Há um otimismo que, acredito, até ajuda o governo a administrar a crise. O [presidente] Lula tem uma legitimidade
e uma força política neste momento que permite que ele possa lidar com a crise de uma forma privilegiada", disse Paulino.
O otimismo apurado pelo
Datafolha destoa do de outros
levantamentos, encomendados
por associações do setor produtivo e por institutos de pesquisas econômicas, que focaram
sua atenção apenas nas capitais. "Essa é a amostra representativa da população adulta,
inclui os grandes e os pequenos
municípios e todas as faixas sociais. É um retrato mais abrangente, que não é comparável
com outras pesquisas", disse.
Segundo o diretor do Datafolha, o otimismo varia de acordo
com a renda e a escolaridade.
Entre os mais pobres, a maioria
acha que a vida melhorou e que
esse cenário deve continuar. Já
os de maior renda acreditam
que a situação econômica ou
permaneceu igual ou piorou e
que as perspectivas não são tão
favoráveis assim. "Isso tem
uma correlação direta com o
grau de informação, que são
pessoas com mais escolaridade
e com mais acesso à informação sobre a crise", afirmou.
Desemprego
Na pesquisa, 44% acham que
o desemprego vai aumentar, taxa semelhante aos 42% da pesquisa de março. Na região Sudeste, o pessimismo é maior:
51% acreditam que possam aumentar as demissões, sendo
que na cidade de São Paulo esse
contingente chega a 52%.
Entre os entrevistados, 30%
dizem acreditar que o desemprego vai diminuir, e 23%, que
ficará no mesmo patamar -em
março, os que esperavam queda no desemprego eram 24%, e
os que viam estabilidade, 30%.
Entre os empregados, a
maioria (71%) acredita que não
corre risco de demissão, 17%
dizem que correm algum risco
e apenas 7% vêem um grande
risco de perderem o trabalho.
Para Paulino, o otimismo do
brasileiro passa pela manutenção do atual nível de emprego e
do poder aquisitivo do brasileiro. "A chave aí é o desemprego.
Se o governo não conseguir
manter os níveis de emprego e
o poder aquisitivo, aí acredito
que a ficha cairá e que a população começará a perceber o problema. Mas acredito que o lastro de confiança que o governo
tem demora para cair. Precisamos de uma crise bem mais forte para fazer com que a população perca a confiança", disse.
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