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LUÍS NASSIF
Bravata perigosa
É uma bravata infantil e perigosa essa retaliação contra turistas norte-americanos.
Há no país clara falta de percepção sobre o que seja interesse nacional. Há uma longa caminhada nas relações Estados
Unidos-Brasil. Tem-se pela
frente a Alca, as questões em
torno da OMC (Organização
Mundial do Comércio) e outras relevantes. Por que se vai
gastar pólvora com essa questão menor?
Dia desses o "Jornal da Cultura" mostrou como são feitas
as identificações lá e aqui. Nos
EUA, por sistemas eletrônicos
de identificação digital, permitindo amplo manuseio de bancos de dados, e não levando
nem sequer dois minutos para
identificar o viajante.
No caso brasileiro, é um ridículo atroz de fotografar turistas com o número do passaporte escrito em um cartaz, como
se fossem bandidos fichados. E
para quê? Se não há nenhuma
justificativa de segurança nacional, se esse papelório gerado
vai para o lixo, não vai gerar
controle nenhum, pois a Polícia Federal não tem sistema
eletrônico de rastreamento de
digitais, como não convencer a
opinião pública norte-americana e o governo Bush de que
não se trata de mera retaliação?
O país gasta uma grana preta
para se mostrar "confiável",
salvando inclusive grupos norte-americanos aventureiros
que entraram na privatização,
para gastar esse saldo em bobagens contra cidadãos que
vêm gastar seu dinheiro aqui?
Onde está o ministro do Turismo, o da Justiça, o das Relações Exteriores, o da Casa Civil,
fazendo vista grossa a essa patacoada? Se a liminar manda
fotografar os americanos, à PF
caberia no mínimo responder
ao juiz que a decisão pode ser
cumprida a partir do seu aparelhamento.
Mas cumprir desse jeito, tomando como fetiche a decisão
do juiz, agride o direito e o bom
senso, porque vai contra o interesse do Estado que representa
a sociedade. É isso o que está
surpreendendo e deixando perplexos os diplomatas do Departamento de Estado e a embaixada em Brasília. A inércia do
Itamaraty e do Ministério da
Justiça está criando em Washington a sensação de que o
governo é conivente e apóia a
medida.
A medida vai causar prejuízos e retaliações mais do que se
pode imaginar, porque o conceito de proteção ao cidadão
comum quando no exterior é
um totem da cultura política
dos EUA, e qualquer americano que se sinta humilhado ou
ultrajado no exterior escreve
ao seu senador ou deputado e
ai se inicia um processo de
pressão sobre a administração
que é difícil parar e deixa cicatrizes por anos.
Depois da nota de ontem do
Departamento de Estado, a
próxima vai ser a recomendação para que os cidadãos americanos não venham mais ao
Brasil, na mesma linha do que
eles fazem com países com epidemias e terremotos.
Os prejuízos para as relações
bilaterais, e não só para o turismo, serão irreparáveis. Um assunto minúsculo desse vai azedar assuntos sérios, já chegou
ao secretário de Estado, Colin
Powell, que vai fazer uma reclamação formal ao Itamaraty
e logo vai chegar à Secretaria
do Tesouro, que será obrigada
a retaliar em algum lugar. Um
ridículo para ninguém botar
defeito, por nada e para nada.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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