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INSS modifica regras para empréstimo consignado
Operações estão suspensas até início das mudanças, como limite menor de endividamento
Com restrição imposta ao
comprometimento da renda
e elevação do prazo para
pagar dívida, aposentado
deverá ter custos maiores
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo vai alterar as regras do crédito consignado para aposentados e poderá obrigá-los a pagar mais por esse tipo de empréstimo. Ainda nesta
semana, o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) deverá
editar uma medida para reduzir o limite que o segurado pode
comprometer da renda mensal
com esse tipo de operação e
ampliar o prazo de pagamento
da dívida.
Na prática, isso significa que
o aposentado poderá levar mais
tempo para quitar o empréstimo e, portanto, pagará mais juros aos bancos. Pelas regras
atuais, os segurados têm uma
margem de comprometimento
da renda mensal de até 30% do
seu benefício. O novo limite será de 20%. Já o prazo será estendido de 36 meses para 60
meses.
O governo vai permitir ainda
que 10% da renda do aposentado seja usada para pagar empréstimo consignado por meio
de cartão de crédito.
O ministro interino da Previdência, Carlos Gabas, nega que
haja aumento de custo para os
aposentados. "Isso já acontece
hoje porque o aposentado, assim que tem uma folga, renegocia o prazo do empréstimo de
novo com o banco", declarou.
Ele afirma que, em média, os
aposentados que recorreram
ao consignado já contrataram
2,5 operações.
Na opinião do presidente do
Sindicatos dos Aposentados da
Força Sindical, João Batista
Inocentini, os aposentados vão,
sim, pagar mais juros com as
mudanças.
"Vai pagar mais juros, mas
realmente muita gente já refinanciava o seu empréstimo."
Desde o dia 2, as operações
do consignado para os aposentados estão suspensas, à espera
da nova regulamentação. Em
20 de dezembro, o INSS editou
norma sobre o assunto, mas o
texto, segundo Gabas, foi mal
interpretado pelo mercado financeiro e precisa ser refeito.
Segundo ele, os bancos entenderam que havia um aumento do prazo, sem redução
do limite da renda que pode ser
comprometida com o empréstimo consignado. Por isso, o governo suspendeu as operações
e publicará um texto mais claro
sobre o assunto.
Para o superintendente da
Febraban (federação dos bancos), Jorge Higashino, a suspensão temporária não deverá
afetar muito a concessão dos
empréstimos. "Nesta época do
ano, a procura pelo crédito consignado é menor."
Lobby
As mudanças no crédito consignado ocorreram para atender a um lobby das entidades de
aposentados. Gabas relatou
que há muito tempo as entidades pedem mudanças nas regras no crédito consignado na
modalidade de cartão de crédito. Esse tipo de operação já
existe, mas nunca deslanchou
porque os bancos consideravam os custos altos e pediam
tratamento diferenciado para
esse tipo de transação.
Para contemplar tais alterações, afirma Gabas, foi preciso
alterar as normas do crédito
consignado tradicional a fim de
evitar um aumento de endividamento por parte dos segurados. Isso porque, ao limitar o
comprometimento da renda a
20%, o governo abriu espaço
para que 10% do benefício seja
destinado aos empréstimos
com cartão de crédito.
Com a redução do limite para
20% na modalidade tradicional, o governo se viu obrigado a
ampliar o prazo de pagamento
para permitir aos aposentados
a manutenção dos níveis de
empréstimos. Em contas feitas
pela Folha, no entanto, não há
como um aposentado tomar o
mesmo valor pelas regras
atuais e pagar a dívida em 60
meses. Com a alteração, isso só
seria possível em 94 meses.
Para Inocentini, as mudanças no cartão de crédito darão
"cidadania" aos aposentados
que ganham um salário mínimo. As entidades, no entanto,
também serão beneficiadas
com a possibilidade de massificação do cartão, pois muitas já
oferecem esse tipo de serviço,
pelo qual recebem uma receita,
ou estão em negociações para
passar a fazê-lo.
O sindicato da Força Sindical
já oferece o serviço pelo Banco
Cruzeiro do Sul e ganha R$ 20
por cartão emitido. "Temos 28
mil cartões em operação. Com
os grandes bancos entrando,
não tenho dúvida de que poderá crescer bastante esse número", declarou Inocentini.
A Cobap (Confederação Brasileira da Aposentados e Pensionistas), de acordo com Gabas, também pretende lançar um cartão via parceria com um
banco oficial.
Além de fixar o limite de 10%
para o cartão de crédito, o governo permitiu que os bancos
possam cobrar até R$ 15 pelo
produto e os juros serão superiores ao teto estipulado para o
consignado tradicional. Enquanto esse último tem taxa de
2,64% ao mês, os juros no cartão poderão chegar a 3,7% ao
mês.
O crédito consignado para
aposentados está em vigor desde maio de 2004 e mais de R$
30 bilhões já foram contratados. Segundo o Ministério da
Previdência, o número de operações já ultrapassa 23 milhões. Muitos aposentados têm
usado o consignado para que
parentes possam tomar os empréstimos.
Colaboraram NEY HAYASHI DA CRUZ,
da Sucursal de Brasília, e JUCA GUIMARÃES ,
do "Agora"
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