São Paulo, terça-feira, 08 de janeiro de 2008

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Cesta básica tem maior alta desde 2002 em SP

Quem ganha mínimo encarou mais oito horas de jornada para comprar a cesta

Para 2008, previsão é que os alimentos continuem caros, mas que não subam com a mesma intensidade por conta de seca e safra menor

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O choque no preço de alimentos como leite, feijão e carne, associado a uma recuperação na renda, levou o custo da cesta básica à sua maior inflação desde 2002, época de aceleração nos preços por conta do aumento do dólar. Pesquisa do Dieese mostra que a cesta básica subiu 17,89% no ano passado e atingiu R$ 214,63 em São Paulo, a maior variação desde os 23,43% de 2002. A alta da cesta básica ficou acima da inflação de 7,75% do IGP-M, mas abaixo dos 4,38% do IPC da Fipe.
Para comprar a cesta, um trabalhador que ganha salário mínimo de R$ 380 teve de trabalhar oito horas a mais em dezembro para comprar os mesmos produtos adquiridos no final de 2006, na média das 16 capitais pesquisadas. Para 2008, a proposta de Orçamento, sob revisão, prevê o mínimo em R$ 408,90, um reajuste de 7,6%.
Avaliada em R$ 214,63, a cesta básica da capital paulista foi a mais cara do país. No final do ano passado, a cesta mais barata nas 16 cidades pesquisadas foi comprada em Recife, por R$ 158. A menor variação no ano foi de 11,46%, em Curitiba, e a maior, de 24,38% em Aracaju. Em todas as localidades, a elevação superou o reajuste de 8,57% do mínimo, em abril.
Apesar da alta da cesta básica em todo o país, a jornada média que o trabalhador paulistano que ganha salário mínimo precisou cumprir para adquirir a cesta básica foi de 114 horas e 17 minutos, a menor desde 1971 -equivalente a 61,16% do mínimo descontada a Previdência.
José Graziano, representante na América Latina e Caribe da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), interpreta a melhora como conseqüência da recuperação do salário mínimo que, segundo ele, fez com que as famílias pobres tenham condições de reagir ao aumento no preço dos alimentos. "Os trabalhadores têm um menor índice de comprometimento do salário com a cesta básica. Apesar de o feijão estar mais caro, as famílias continuam comendo porque podem pagar."

Vilões
No ano passado, os vilões da inflação foram os preços de carne, leite, feijão, café e óleo de soja, que subiram em todas as 16 cidades pesquisadas pelo Dieese. No final de 2007, a maior elevação foi no preço do feijão, com alta superior a 100% em dez capitais. Houve quebra na safra de maio do feijão e atraso no plantio da safra de setembro por conta da seca e da redução da área plantada, perdida para cana e soja. "Com o aumento do preço, produtores que plantaram soja já dizem que voltarão a se dedicar ao feijão", disse José Maurício Soares, coordenador da pesquisa da cesta básica do Dieese.
Em Natal, o feijão subiu 222,84%; em Fortaleza, 214,25%. No Rio, a alta foi de 41,09% porque o feijão-preto, mais consumido, subiu menos.
O mesmo aconteceu com a carne bovina, item de maior peso na cesta, que teve alta de até 36,64% no ano em Belém. Além da seca, as carnes subiram devido às festas de final de ano e ao maior volume exportado.
No caso do leite e derivados, o pico aconteceu no início do segundo semestre, época da entressafra. A alta foi conseqüência da diminuição de matrizes leiteiras e da quebra na safra da Nova Zelândia e Austrália, que elevou os preços no mundo.
Por outro lado, o tomate recuou até 34,42% em Salvador, e o açúcar, 40,17% em Goiânia. No caso do açúcar, a baixa se deve ao aumento do plantio de cana por conta do álcool.

Previsões
Para 2008, a previsão é que os alimentos continuem caros, mas que o aumento não se repita com a mesma intensidade. "O mundo está comendo mais. Devemos ter uma trégua de alimentos em 2008. Houve uma pressão grande em 2007, que não se propaga em 2008", disse André Braz, da FGV (Fundação Getulio Vargas).


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