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Cesta básica tem maior alta desde 2002 em SP
Quem ganha mínimo encarou mais oito horas de jornada para comprar a cesta
Para 2008, previsão é que os alimentos continuem caros, mas que não subam com a mesma intensidade por conta de seca e safra menor
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O choque no preço de alimentos como leite, feijão e carne, associado a uma recuperação na renda, levou o custo da cesta básica à sua maior inflação desde 2002, época de aceleração nos preços por conta do
aumento do dólar. Pesquisa do
Dieese mostra que a cesta básica subiu 17,89% no ano passado
e atingiu R$ 214,63 em São Paulo, a maior variação desde os
23,43% de 2002. A alta da cesta
básica ficou acima da inflação
de 7,75% do IGP-M, mas abaixo
dos 4,38% do IPC da Fipe.
Para comprar a cesta, um trabalhador que ganha salário mínimo de R$ 380 teve de trabalhar oito horas a mais em dezembro para comprar os mesmos produtos adquiridos no final de 2006, na média das 16 capitais pesquisadas. Para 2008, a
proposta de Orçamento, sob revisão, prevê o mínimo em R$
408,90, um reajuste de 7,6%.
Avaliada em R$ 214,63, a cesta básica da capital paulista foi a
mais cara do país. No final do
ano passado, a cesta mais barata nas 16 cidades pesquisadas
foi comprada em Recife, por R$
158. A menor variação no ano
foi de 11,46%, em Curitiba, e a
maior, de 24,38% em Aracaju.
Em todas as localidades, a elevação superou o reajuste de
8,57% do mínimo, em abril.
Apesar da alta da cesta básica
em todo o país, a jornada média
que o trabalhador paulistano
que ganha salário mínimo precisou cumprir para adquirir a
cesta básica foi de 114 horas e 17
minutos, a menor desde 1971
-equivalente a 61,16% do mínimo descontada a Previdência.
José Graziano, representante na América Latina e Caribe
da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura
e a Alimentação), interpreta a
melhora como conseqüência
da recuperação do salário mínimo que, segundo ele, fez com
que as famílias pobres tenham
condições de reagir ao aumento no preço dos alimentos. "Os
trabalhadores têm um menor
índice de comprometimento
do salário com a cesta básica.
Apesar de o feijão estar mais caro, as famílias continuam comendo porque podem pagar."
Vilões
No ano passado, os vilões da
inflação foram os preços de carne, leite, feijão, café e óleo de
soja, que subiram em todas as
16 cidades pesquisadas pelo
Dieese. No final de 2007, a
maior elevação foi no preço do
feijão, com alta superior a 100%
em dez capitais. Houve quebra
na safra de maio do feijão e
atraso no plantio da safra de setembro por conta da seca e da
redução da área plantada, perdida para cana e soja. "Com o
aumento do preço, produtores
que plantaram soja já dizem
que voltarão a se dedicar ao feijão", disse José Maurício Soares, coordenador da pesquisa
da cesta básica do Dieese.
Em Natal, o feijão subiu
222,84%; em Fortaleza,
214,25%. No Rio, a alta foi de
41,09% porque o feijão-preto,
mais consumido, subiu menos.
O mesmo aconteceu com a
carne bovina, item de maior peso na cesta, que teve alta de até
36,64% no ano em Belém. Além
da seca, as carnes subiram devido às festas de final de ano e ao
maior volume exportado.
No caso do leite e derivados,
o pico aconteceu no início do
segundo semestre, época da entressafra. A alta foi conseqüência da diminuição de matrizes
leiteiras e da quebra na safra da
Nova Zelândia e Austrália, que
elevou os preços no mundo.
Por outro lado, o tomate recuou até 34,42% em Salvador, e
o açúcar, 40,17% em Goiânia.
No caso do açúcar, a baixa se
deve ao aumento do plantio de
cana por conta do álcool.
Previsões
Para 2008, a previsão é que
os alimentos continuem caros,
mas que o aumento não se repita com a mesma intensidade.
"O mundo está comendo mais.
Devemos ter uma trégua de alimentos em 2008. Houve uma
pressão grande em 2007, que
não se propaga em 2008", disse
André Braz, da FGV (Fundação
Getulio Vargas).
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