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VINICIUS TORRES FREIRE
O sonho da bonança produz inércia
Otimismo para 2008 é grande,
mas governo parece incapaz
de antecipar problemas, da
politiquinha à infra-estrutura
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INDIFERENTES, OU quase isso, à
corrida de obstáculos de 2008,
financistas, empresários e, claro, o governo continuam a acreditar
num ano econômico ainda muito
bom -quer dizer, bom se considerado o crescimento de 2,5% anual no
último quarto de século. Sim, parecem razoáveis os bons prognósticos,
pois o embalo de 2007 deve contaminar positivamente pelo menos o
primeiro semestre deste ano.
O excelente resultado do investimento industrial, divulgado ontem,
reforçou o otimismo. Há investimentos anunciados e já iniciados
em aumento da capacidade produtiva de matérias-primas "chinesas"
(grãos, aço, ferro e outros produtos
básicos) que seriam sustados apenas
em caso de queda de um meteorito
em Xangai. O BNDES tem pedidos
na fila. A indústria começa janeiro
com estoques baixos. Os reajustes
salariais do trimestre final do ano foram bons. As contas externas estão
em muito boa ordem e, apesar dos
esforços do governo, as contas fiscais ainda estão em nível aceitável
-embora tendendo a piorar, os estragos apareceriam mais adiante.
Mesmo com juros básicos estacionados desde setembro, até onde é
possível calcular nunca tivemos juros reais entre 7% e 8%, indecência,
mas taxa que parece "natural" e convidativa num país tão esquisito como o Brasil. As estimativas do mercado são meio estranhas, prevendo
queda da Selic (nas pesquisas feitas
pelo Banco Central), mas cobrando
um alta de pelo menos um ponto
nos juros de fato da praça -ainda assim, não é nada catastrófico.
Há previsões setoriais de crescimento menor na indústria, o que ora
tem mais jeito de pausa para respirar do que arrefecimento. Mesmo o
BC, pessimista por dever de ofício,
prevê o PIB em alta de 4,5%.
Começamos 2001 assim também,
após o bom ano de 2000, com PIB
em alta de 4,3%. 2001 acabou com a
economia em alta de 1,3%, quase zero de aumento da renda (PIB) per
capita. Houve uma sucessão de desastres: apagão, colapso argentino,
reflexos da bolha da internet estourada em 2000 e o 11 de Setembro.
Não há promessa de colapsos de
tamanha monta para 2008. O único
vulcão fumegante são os EUA, mas
seria preciso haver uma quebra espetacular nas finanças americanas
para que a economia deles afundasse na lava vermelha. Mas não há
consenso algum sobre nada disso.
Ainda assim, resta uma sensação
de perigo, menos devida ao ambiente global e mais em relação ao governo Lula, ao seu aparente descolamento da realidade presente e sua
indiferença quanto a providências
para o futuro. No varejo, a sucessão
de burradas no Congresso é o sinal
mais comezinho da incapacidade do
governo de aquilatar dificuldades
adiante. O descaso em relação à
questão fiscal e quanto a mudanças
institucionais indica que o governo
sonhava em 2007 ajeitar a máquina
para gastar, para se lambuzar como
um menino que ganhou uma caixa
de doces. É raro ver antecipação de
problemas, de conflitos no Congresso a mudanças estruturais na economia. Mas, para falar do curto prazo,
o investimento é insuficiente para a
infra-estrutura econômica e social
-está a brotar uma crise de energia.
Fica sempre a impressão de que o
país precisa de catástrofes para
acordar, e ainda assim lentamente.
vinit@uol.com.br
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