São Paulo, quinta-feira, 08 de janeiro de 2009

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Cypriano e Meirelles discordam sobre juros

Presidente do Bradesco pede reunião extra para cortar taxa, e chefe do BC diz que mais importante que a Selic é o "spread" dos bancos

Mantega e Meirelles se reúnem com empresários, que pedem queda de imposto e respaldo para acordos entre patrões e empregados


GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Num clima descrito como civilizado, os presidentes do Bradesco, Marcio Cypriano, e do Banco Central, Henrique Meirelles, discordaram a respeito das taxas de juros. A discussão ocorreu durante reunião ontem promovida pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, com dez associações empresariais para a criação do grupo de acompanhamento da crise.
A discussão entre Cypriano e Meirelles se deu logo no início do encontro. Cypriano pediu a Meirelles que o Banco Central promovesse uma reunião extraordinária do Copom na semana que vem para reduzir a Selic (a taxa básica de juros), já que todos os analistas estão prevendo uma queda de pelo menos 0,5 ponto.
Para espanto de todos os presentes na reunião, Meirelles respondeu de imediato à provocação de Cypriano. Disse simplesmente que, mais importante do que a Selic, é o "spread" (diferença entre a taxa de captação e a cobrada pelos bancos nos empréstimos) cobrado pelos bancos.
Apesar de o Banco Central não ter subido a taxa Selic desde setembro, que continua estacionada em 13,75%, os "spreads" bancários aumentaram significativamente nesses últimos meses, com o agravamento da crise que secou o crédito.
Só em outubro, segundo números do Banco Central, o "spread" cobrado em todas as operações de crédito aumentou para 36,26%, 1,96 ponto percentual acima do registrado em setembro.
Meirelles afirmou que, normalmente, os "spreads" acompanham a trajetória das taxas de juros de longo prazo e agora, pela primeira vez, os dois estavam descolados. O juro de longo prazo caiu para o menor nível da história, mas mesmo assim os "spreads" subiram.
O presidente do BC chegou a dizer que era importante que não se jogasse uma cortina de fumaça na discussão. Cypriano preferiu não responder para não elevar o tom da discussão.
De acordo com o que a Folha apurou, a equipe econômica do governo não conseguiu disfarçar uma certa alegria com a discussão entre os dois. O presidente da Abimaq (de máquinas e equipamentos), Luiz Aubert, chegou a dizer que a reunião tinha produzido um milagre, que foi o de Cypriano ter pedido a redução antecipada dos juros.
A reunião de ontem em Brasília de Mantega e Meirelles com os empresários se estendeu por mais de três horas. Participaram dez líderes empresariais das seguintes associações: Abia (alimentação), Cbic (construção civil), Anfavea (automóveis), Abdib (infraestrutura), IBS (siderurgia), CNI (indústria), Abimaq (máquinas e equipamentos), Sindipeças (autopeças), Anamaco (material de construção) e Febraban (bancos).
A redução da Selic nem foi a maior reivindicação dos empresários. Os maiores pedidos foram por redução de impostos, restituição de créditos tributários (ICMS) e respaldo jurídico para os os acordos que estão sendo acertados entre patrões e empregados para evitar demissões em massa.


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