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Cypriano e Meirelles discordam sobre juros
Presidente do Bradesco pede reunião extra para cortar taxa, e chefe do BC diz que mais importante que a Selic é o "spread" dos bancos
Mantega e Meirelles se reúnem com empresários, que pedem queda de imposto e respaldo para acordos
entre patrões e empregados
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Num clima descrito como civilizado, os presidentes do Bradesco, Marcio Cypriano, e do
Banco Central, Henrique Meirelles, discordaram a respeito
das taxas de juros. A discussão
ocorreu durante reunião ontem promovida pelo ministro
da Fazenda, Guido Mantega,
com dez associações empresariais para a criação do grupo de
acompanhamento da crise.
A discussão entre Cypriano e
Meirelles se deu logo no início
do encontro. Cypriano pediu a
Meirelles que o Banco Central
promovesse uma reunião extraordinária do Copom na semana que vem para reduzir a
Selic (a taxa básica de juros), já
que todos os analistas estão
prevendo uma queda de pelo
menos 0,5 ponto.
Para espanto de todos os presentes na reunião, Meirelles
respondeu de imediato à provocação de Cypriano. Disse
simplesmente que, mais importante do que a Selic, é o
"spread" (diferença entre a taxa
de captação e a cobrada pelos
bancos nos empréstimos) cobrado pelos bancos.
Apesar de o Banco Central
não ter subido a taxa Selic desde setembro, que continua estacionada em 13,75%, os
"spreads" bancários aumentaram significativamente nesses
últimos meses, com o agravamento da crise que secou o crédito.
Só em outubro, segundo números do Banco Central, o
"spread" cobrado em todas as
operações de crédito aumentou
para 36,26%, 1,96 ponto percentual acima do registrado em
setembro.
Meirelles afirmou que, normalmente, os "spreads" acompanham a trajetória das taxas
de juros de longo prazo e agora,
pela primeira vez, os dois estavam descolados. O juro de longo prazo caiu para o menor nível da história, mas mesmo assim os "spreads" subiram.
O presidente do BC chegou a
dizer que era importante que
não se jogasse uma cortina de
fumaça na discussão. Cypriano
preferiu não responder para
não elevar o tom da discussão.
De acordo com o que a Folha
apurou, a equipe econômica do
governo não conseguiu disfarçar uma certa alegria com a discussão entre os dois. O presidente da Abimaq (de máquinas
e equipamentos), Luiz Aubert,
chegou a dizer que a reunião tinha produzido um milagre, que
foi o de Cypriano ter pedido a
redução antecipada dos juros.
A reunião de ontem em Brasília de Mantega e Meirelles
com os empresários se estendeu por mais de três horas.
Participaram dez líderes empresariais das seguintes associações: Abia (alimentação),
Cbic (construção civil), Anfavea (automóveis), Abdib (infraestrutura), IBS (siderurgia),
CNI (indústria), Abimaq (máquinas e equipamentos), Sindipeças (autopeças), Anamaco
(material de construção) e Febraban (bancos).
A redução da Selic nem foi a
maior reivindicação dos empresários. Os maiores pedidos
foram por redução de impostos, restituição de créditos tributários (ICMS) e respaldo jurídico para os os acordos que
estão sendo acertados entre
patrões e empregados para evitar demissões em massa.
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