São Paulo, sexta, 8 de janeiro de 1999

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PREÇOS
Economia desaquecida faz IPC da Fipe ter a primeira queda em ano completo desde 1939
SP fecha ano com deflação de 1,79%

MAURO ZAFALON
da Redação

São Paulo registrou em 1998 a primeira taxa anual de deflação de sua história. Pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) mostra que os preços caíram, em média, 1,79%.
Para Juarez Rizzieri, presidente da entidade, a deflação poderia estar sendo comemorada. Acontece, acrescenta, que boa parte dela reflete as altas taxas de juros e a queda de ritmo na atividade econômica.
Parte desta deflação é saudável, afirma Rizzieri, pois se deve à recente abertura da economia, que gerou maior concorrência no país e maior produtividade. Com isso, os preços caíram. As privatizações, principalmente na área de telecomunicações, também foram favoráveis. O custo da linha de telefone caiu 23,57% no ano passado.
Mas Rizzieri admite que a deflação pode ter seu lado amargo. É o que ocorreu no último semestre do ano passado. As crises econômicas internacionais forçaram o Brasil a elevar muito os juros, provocando menor ritmo da atividade econômica, desemprego e queda de vendas.
No último semestre, São Paulo viveu cinco meses de deflação e apenas um de preços estáveis (0,02% em outubro). Ou seja, a Fipe registrou deflação acumulada de 2,94% no período. Ocorreu deflação até em meses em que tradicionalmente os preços sobem, como novembro e dezembro. Esse ritmo acentuado de deflação mostra os desarranjos da economia nos últimos meses.
Prever o que vai ocorrer em 1999 é difícil, reconhece o presidente da Fipe. A inflação vai depender de dois cenários básicos. Se o país conseguir fazer um ajuste adequado, os riscos econômicos diminuem, os juros caem e o consumo aumenta. A intensidade da recessão diminui e haverá espaço até para aumentos de preços. A taxa de inflação poderia ser de 1%.
Mas, se o país não conseguir fazer um bom ajuste, os riscos econômicos aumentam, os juros se mantêm elevados, o desemprego sobe e o consumo cai ainda mais. Nesse caso, a recessão será forte, as empresas diminuirão ainda mais suas margens para sobreviver e a queda de preços se aprofundará. "Teríamos uma deflação amarga", diz Rizzieri.
O economista não concorda que o país já esteja vivendo um quadro recessivo, mas diz que em 99 a recessão poderá ser forte.

Como foi 98
É a primeira vez, em 59 anos de sua existência, que o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe registra deflação anual. A menor taxa anual registrada até então tinha sido em 1948 (+3,27%).
O IPC da Fipe foi idealizado pelo escritor Mário de Andrade, quando era diretor do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo, na década de 30.
A deflação de 98 surpreendeu até os mais experientes em análises econômicas. A própria Fipe iniciou o ano prevendo uma taxa de inflação pouco inferior a 3%. No final do primeiro trimestre, ainda esperava uma inflação de 2,5%.
A taxa de inflação da Fipe, que acumula alta de 65,07% no Plano Real, recuou de 23,16%, em 95, para 10,03% em 96. No ano seguinte caiu para 4,82%, fechando 98 com deflação de 1,79%.
A queda de demanda e os ajustes de preços em alguns setores, ainda devido à abertura econômica, foram os principais fatores da deflação em 98.
Os preços dos alimentos, por exemplo, recuaram 0,57% no ano passado. Juarez Rizzieri atribui essa queda às altas taxas de juros e ao aumento do desemprego.
Já o setor de vestuário continua se ajustando à abertura econômica iniciada nos anos 90. Pelos cálculos da Fipe, os preços recuaram 9,30% nos últimos 12 meses, acumulando queda de 11,94% no Plano Real.
Os aluguéis, líderes de aumentos durante o Real, se mantiveram em queda no ano passado (3,26%).
Outro item que intensificou a taxa de deflação foi o de bebidas: queda de 7% em 98.
Entre as altas, estiveram os gastos com saúde e educação.



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