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PREÇOS
Economia desaquecida faz IPC da Fipe ter a primeira queda em ano completo desde 1939
SP fecha ano com deflação de 1,79%
MAURO ZAFALON
da Redação
São Paulo registrou em 1998 a
primeira taxa anual de deflação de
sua história. Pesquisa da Fipe
(Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas) mostra que os preços
caíram, em média, 1,79%.
Para Juarez Rizzieri, presidente
da entidade, a deflação poderia estar sendo comemorada. Acontece,
acrescenta, que boa parte dela reflete as altas taxas de juros e a queda de ritmo na atividade econômica.
Parte desta deflação é saudável,
afirma Rizzieri, pois se deve à recente abertura da economia, que
gerou maior concorrência no país
e maior produtividade. Com isso,
os preços caíram. As privatizações,
principalmente na área de telecomunicações, também foram favoráveis. O custo da linha de telefone
caiu 23,57% no ano passado.
Mas Rizzieri admite que a deflação pode ter seu lado amargo. É o
que ocorreu no último semestre do
ano passado. As crises econômicas
internacionais forçaram o Brasil a
elevar muito os juros, provocando
menor ritmo da atividade econômica, desemprego e queda de vendas.
No último semestre, São Paulo
viveu cinco meses de deflação e
apenas um de preços estáveis
(0,02% em outubro). Ou seja, a Fipe registrou deflação acumulada
de 2,94% no período. Ocorreu deflação até em meses em que tradicionalmente os preços sobem, como novembro e dezembro. Esse
ritmo acentuado de deflação mostra os desarranjos da economia
nos últimos meses.
Prever o que vai ocorrer em 1999
é difícil, reconhece o presidente da
Fipe. A inflação vai depender de
dois cenários básicos. Se o país
conseguir fazer um ajuste adequado, os riscos econômicos diminuem, os juros caem e o consumo
aumenta. A intensidade da recessão diminui e haverá espaço até
para aumentos de preços. A taxa
de inflação poderia ser de 1%.
Mas, se o país não conseguir fazer um bom ajuste, os riscos econômicos aumentam, os juros se
mantêm elevados, o desemprego
sobe e o consumo cai ainda mais.
Nesse caso, a recessão será forte, as
empresas diminuirão ainda mais
suas margens para sobreviver e a
queda de preços se aprofundará.
"Teríamos uma deflação amarga",
diz Rizzieri.
O economista não concorda que
o país já esteja vivendo um quadro
recessivo, mas diz que em 99 a recessão poderá ser forte.
Como foi 98
É a primeira vez, em 59 anos de
sua existência, que o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe
registra deflação anual. A menor
taxa anual registrada até então tinha sido em 1948 (+3,27%).
O IPC da Fipe foi idealizado pelo
escritor Mário de Andrade, quando era diretor do Departamento
Municipal de Cultura de São Paulo, na década de 30.
A deflação de 98 surpreendeu até
os mais experientes em análises
econômicas. A própria Fipe iniciou o ano prevendo uma taxa de
inflação pouco inferior a 3%. No final do primeiro trimestre, ainda
esperava uma inflação de 2,5%.
A taxa de inflação da Fipe, que
acumula alta de 65,07% no Plano
Real, recuou de 23,16%, em 95, para 10,03% em 96. No ano seguinte
caiu para 4,82%, fechando 98 com
deflação de 1,79%.
A queda de demanda e os ajustes
de preços em alguns setores, ainda
devido à abertura econômica, foram os principais fatores da deflação em 98.
Os preços dos alimentos, por
exemplo, recuaram 0,57% no ano
passado. Juarez Rizzieri atribui essa queda às altas taxas de juros e ao
aumento do desemprego.
Já o setor de vestuário continua
se ajustando à abertura econômica
iniciada nos anos 90. Pelos cálculos
da Fipe, os preços recuaram 9,30%
nos últimos 12 meses, acumulando
queda de 11,94% no Plano Real.
Os aluguéis, líderes de aumentos
durante o Real, se mantiveram em
queda no ano passado (3,26%).
Outro item que intensificou a taxa de deflação foi o de bebidas:
queda de 7% em 98.
Entre as altas, estiveram os gastos com saúde e educação.
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