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EUA
Proposta de Orçamento reduz despesas para conter déficit, mas oposição vê "trote" por excluir gasto no Iraque e mudança na Previdência
Bush aumenta gasto militar e corta social
FABIANO MAISONNAVE
DE WASHINGTON
O presidente dos EUA, George
W. Bush, enviou ontem ao Congresso uma proposta de Orçamento apertada visando cumprir
a promessa de cortar o monstruoso déficit público pela metade até
2009. Os cortes para o ano fiscal
de 2006 atingirão mais de 150 programas, quase todos sociais, e
também subsídios agrícolas.
Por outro lado, os gastos para a
reorganização das Forças Armadas terão aumento estimado de
30% -o maior crescimento em
25 anos. O orçamento total do Departamento da Defesa crescerá
4,8%, excluídas aí as despesas no
Iraque e Afeganistão. Desde 2001,
o orçamento militar cresceu 41%.
Considerada a proposta orçamentária mais apertada de Bush,
deve provocar meses de debate no
Congresso. Várias bancadas de
setores organizados, como o agrícola, prometem forte resistência.
Algumas das propostas de corte já
foram rejeitadas antes.
Depois de quatro anos de superávit sob o governo Bill Clinton
(1993-2001), os EUA registraram
déficit em todos os anos de Bush.
O republicano atribui o rombo
aos gastos com segurança após o
11 de Setembro, em meio a um período de recessão econômica. A
chamada guerra ao terror também é a justificativa usada para o
aumento dos gastos com militares
e a segurança interna.
Ao todo Bush, previu US$ 2,57
trilhões para o ano fiscal de 2006,
que começa no dia 1º de outubro
deste ano e termina em 30 de setembro. O déficit previsto é de
US$ 390 bilhões (3% do PIB). A
estimativa do déficit para 2005 é
de US$ 427 bilhões (3,5% do PIB).
Para comparar: o Orçamento
brasileiro para 2004 ficou em US$
154,5 bilhões, o equivalente a apenas 7% da proposta de Bush.
O cálculo de Bush para 2006 está
baseado numa previsão otimista
da economia, com um crescimento de 6,1% na arrecadação.
Os cortes atingem 12 dos 23
principais órgãos do governo.
Projetos de moradia para trabalhadores de baixa renda sofrerão
redução de 11,5%. Já os Institutos
Nacionais de Saúde, responsáveis
por várias pesquisas em andamento, terão um aumento de
0,7%, o menor dos últimos anos.
Bush, no entanto, argumenta
que os cortes em áreas sociais virão com uma reforma administrativa, que prevê a fusão de vários programas já existentes, resultando em maior eficiência.
É o caso do treinamento profissional. A Casa Branca propôs juntar quatro programas, com um
corte dos US$ 4,1 bilhões atuais
para US$ 3,9 bilhões em 2006.
Mesmo assim, Bush promete dobrar para 400 mil o número de
trabalhadores treinados com ajuda federal em 2006.
"É um Orçamento que reduz e
elimina a redundância. É um Orçamento enxuto. Pessoas dos dois
partidos têm exortado o governo
a apresentar um Orçamento que
ajude a cumprir nosso objetivo de
reduzir o déficit pela metade em
cinco anos, e este Orçamento faz
exatamente isso", disse Bush ontem, após reunião de gabinete.
A proposta apresenta ontem, no
entanto, deixou de fora os gastos
militares extras com o Iraque e o
Afeganistão. No mês passado,
Bush já havia anunciado que formalizará em breve um pedido à
parte de US$ 81 bilhões.
A proposta de ontem também
não incluiu gastos com a eventual
reforma previdenciária que Bush
quer aprovar no Congresso.
O projeto, considerado prioritário para o recém-iniciado segundo mandato, prevê a privatização
parcial da Seguridade Social por
meio da criação de contas pessoais. Com elas, o contribuinte
poderia fazer investimentos em
ações e títulos. O próprio governo
estima que, para financiar a mudança, sejam necessários US$ 750
bilhões nos próximos dez anos.
Essas duas ausências foram duramente criticadas ontem pela
oposição. A líder democrata na
Câmara, Nancy Pelosi, chamou o
Orçamento de Bush de "um trote
no povo americano. Os dois temas que dominaram o Discurso
sobre o Estado da União [feito por
Bush na semana passada], Iraque
e Seguridade Social, não estão em
nenhum lugar deste Orçamento".
Para o diretor de Orçamento de
Bush, Joshua Bolten, a inclusão
do Iraque e do Afeganistão "não
seria responsável", porque ainda
não é possível prever quanto de
fato será necessário.
Sobre a exclusão da proposta de
reforma previdenciária, Bolten
disse que, mesmo se os custos de
transição da reforma fossem incluídos, o governo ainda seria capaz de reduzir o déficit pela metade até 2009.
Pesquisas de opinião mostram
que o déficit público é uma preocupação crescente entre os americanos. Segundo um levantamento
do Pew Research Center, 56% dos
eleitores afirmam que é um problema prioritário, contra 51% no
ano passado e 35% há três anos.
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