|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RECEITA ORTODOXA
Valor do pagamento deve atingir o recorde de R$ 141,6 bilhões
Gastos com juros devem subir 24%
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os gastos do setor público
(União, Estados, municípios e estatais) com o pagamento de juros
da dívida devem atingir o valor
recorde de R$ 141,6 bilhões neste
ano, segundo estimativa feita por
técnicos do Banco Central. O número projetado é 24% maior do
que o registrado em 2002.
Para compensar o crescimento
nas despesas com juros, o governo precisou intensificar o ajuste
fiscal. A meta para o superávit primário (receitas menos despesas
do governo, sem contar os gastos
com juros) passou de 3,75% do
PIB para do 4,25% do PIB neste
ano. Sem esse esforço adicional,
ocorreria um crescimento indesejável da dívida pública.
De maneira simplificada, pode-se dividir os gastos do governo em
duas categorias: os gastos correntes se referem aos investimentos,
pagamento de servidores públicos e compra de materiais, entre
outros. Já as despesas financeiras
são os gastos com juros.
A diferença entre esses dois grupos está no fato de que as despesas financeiras não podem ser
controladas pelo governo. Elas
dependem das cláusulas dos contratos fechados no momento em
que foi efetuado o endividamento. Ou seja, para reduzir unilateralmente o total de juros pagos, o
governo teria que dar um calote
em seus credores.
A alternativa ao calote é o corte
nas despesas correntes. São esses
cortes que levam a um maior superávit primário. Portanto, quanto maiores os gastos com juros,
menos o governo pode gastar
com investimentos e programas
sociais, por exemplo.
Superávit primário
Segundo o planejamento da
equipe econômica, o setor público conseguirá um superávit primário de R$ 68 bilhões neste ano.
O dinheiro será usado para abater
parte dos R$ 140,6 bilhões em juros. Para quitar o restante, o governo terá de apelar a novos empréstimos e elevar a dívida pública. O aumento das despesas com
juros esperado para este ano é
consequência, em grande parte,
das elevações da Selic promovidas
pelo BC nos últimos meses.
Desde a implantação do Plano
Real, em 1994, o BC tem fixado a
taxa básica de juros em níveis elevados. Num primeiro momento,
isso serviu para frear a explosão
do consumo que poderia ocorrer
no início do Real devido aos ganhos de renda proporcionados à
população pelo fim da inflação.
Além disso, até 1999, os juros altos serviram para manter o regime de câmbio controlado. Nos últimos quatro anos, quando passou a vigorar no país o sistema de
metas de inflação, a taxa Selic
continuou elevada. Segundo o
BC, isso é necessário para evitar
uma disparada nos preços.
A estabilidade da inflação, porém, acabou criando um problema fiscal. Grande parte da dívida
do governo é corrigida pela Selic.
Assim, quanto maior a taxa,
maior a dívida. E, quanto maior a
dívida, mais juros o governo paga.
O problema foi agravado com as
últimas altas da Selic. Desde outubro, ela subiu de 18% para 26,5%.
A preocupação do governo é
evitar que esses gastos maiores
com juros levem a um aumento
na relação entre dívida pública e
PIB, um dos indicadores da solvência do país. Ao longo de 2002,
essa proporção subiu de 52,6%
para 55,9%. Nas contas do BC, o
maior esforço fiscal deste ano deve ser suficiente para estabilizar a
relação dívida/PIB nos atuais 56%
-desde que a taxa Selic não suba
mais até o final do ano.
Economia
A pedido do ministro Antonio
Palocci Filho, o Ministério da Fazenda informou ontem que neste
início de ano houve queda no custo da dívida pública em mercado
de R$ 240 milhões por causa da
redução dos descontos pedidos
pelos compradores de papéis.
Mas o valor leva em conta apenas os descontos. O próprio Tesouro Nacional informou que, em
janeiro, o custo total da dívida em
mercado subiu de 23,28% ao ano
para 25,22% por causa do aumento da taxa básica de juros.
Colaborou a Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Bird elogia Lula e prevê liberar mais US$ 1 bi Índice
|