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VINICIUS TORRES FREIRE
Menos álcool brasileiro nos EUA
Petróleo mais barato e tarifas de importação devem reduzir venda do combustível para os americanos em 2007
O BRASIL DEVE vender menos
álcool para os EUA neste
ano, estimam produtores e
grandes exportadores. Não, não é
por causa do toque de Midas invertido de George Bush. O álcool brasileiro ficou relativamente mais caro devido à queda do preço do petróleo.
Com as tarifas americanas (2,5% sobre o preço de importação mais 14
centavos de dólar por litro), é mais
barato usar gasolina. O Brasil exportou US$ 1,6 bilhão em álcool no ano
passado, metade para os EUA.
Em 2006, o petróleo fora a US$ 80
o barril. A preocupação ambiental
cresce, o álcool americano é insuficiente. Além do mais, as petroleiras
americanas passaram a adicionar
mais álcool à gasolina, em vez do
MTBE (éter metílico terc-butílico,
poluente de água e ar). As petroleiras largam o MTBE porque uma
mudança na lei americana facilitou
processos por danos ambientais.
A exportação brasileira direta de
álcool para os EUA cresceu quase sete vezes de 2005 para 2006. A "direta", pois 16% do álcool brasileiro que
chega aos EUA é exportado via América Central, onde é "reciclado" para
se beneficiar de isenção tarifária.
"Foi uma bolha de oportunidade,
dados esses fatores excepcionais",
diz Fernando Ribeiro, secretário-geral da Única (a associação da
agroindústria canavieira paulista).
Mas de 2004 para 2005 as vendas
brasileiras para os EUA haviam caído 39%. É, pois, um mercado volátil,
embora a chegada dos carros flex
(2003) e onda do biocombustível tenham tirado a indústria do álcool do
buraco.
Roberto Giannetti da Fonseca diz
que, apesar do lobby de produtores
de álcool e milho (de onde sai o combustível americano), senadores dos
EUA preparam uma lei de redução
gradativa da tarifa e a criação de uma
cota de importação isenta de taxa.
Giannetti é diretor de comércio exterior da Fiesp. Faz o lobby brasileiro do álcool nos EUA e é empresário
do setor. Sua Ethanol Trading exporta o combustível e implanta a indústria alcooleira na Nigéria.
"O lobby do álcool e do milho americanos é forte. Mas, com o aumento
da demanda por álcool, o milho ficou caro. Quem usa o milho como
insumo, o produtor de porcos, frango ou "corn flakes", perde e tem interesse na redução do preço do grão, o
que depende de uma oferta maior de
álcool", explica Giannetti. Mas essa
bola não está com Bush ou Lula.
Para Giannetti, é de interesse do
Brasil que produção e mercado de
álcool se internacionalizem, como
querem os EUA, embora avalie que a
visita de Bush não terá efeito nesse
aspecto além da promoção midiática. Ribeiro, da Única, é mais cético
sobre diplomacia de Bush. Acha que
é arriscado investir em álcool fora
do Brasil, dada a incerteza sobre a
regulação do mercado e das tarifas.
Importante, diz Giannetti, seria
um acordo de cooperação científica,
o resultado mais palpável e realista a
esperar do encontro Lula-Bush.
vinit@uol.com.br
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