São Paulo, sábado, 08 de março de 2008

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Bush diz que a economia "claramente" se desacelerou

Após perda de 63 mil vagas em fevereiro, governo americano admite retração

Mercado de trabalho tem o seu pior resultado desde março de 2003; setor privado eliminou 101 mil postos no mês passado

DA REDAÇÃO

Com o mercado de trabalho dos EUA apresentando seu pior resultado em quase cinco anos, o governo americano agora já começa a falar em retração.
O presidente do conselho econômico da Casa Branca, Edward Lazear, disse que não descarta um resultado negativo para o PIB deste trimestre. E o presidente americano, George W. Bush, afirmou que a economia "claramente se desacelerou" -um tom mais pessimista que seus discursos anteriores.
"Nós realmente não sabemos se [o PIB] será negativo ou não. E, para ser honesto, mesmo que seja positivo, mas baixo, será uma preocupação para nós", afirmou Lazear. Ele disse ainda que a Casa Branca revisou para baixo a sua previsão de crescimento para os três primeiros meses do ano e que este será o trimestre mais fraco. "Realisticamente, a economia está menos forte do que esperávamos."
Sobre a possibilidade de recessão, Lazear disse que levará vários meses para saber se isso vai ocorrer -a definição padrão de recessão nos Estados Unidos envolve dois trimestres consecutivos de crescimento econômico negativo. No último trimestre do ano passado, o PIB americano se expandiu em 0,6%, o menor avanço desde o mesmo período de 2002.
Momentos depois da declaração da Lazear, Bush, em discurso que não estava agendado, disse que a economia se desacelerou, mas que terá um impulso com o pacote de estímulo aprovado no mês passado. O plano prevê a injeção de cerca de US$ 170 bilhões na economia por meio de restituição do Imposto de Renda para contribuintes e isenção fiscal na compra de equipamentos por empresas.
"Quando esse dinheiro chegar ao povo americano, esperamos que ele o use para aumentar os gastos com consumo e que isso faça crescer também a criação de empregos", afirmou Bush em um discurso de pouco mais de dois minutos. Ele não usou o termo "resiliente" para classificar a economia, como já havia se tornado tradicional em suas declarações.
O tom mais pessimista das autoridades foi antecedido pelos resultados do mercado de trabalho dos EUA, que perdeu 63 mil vagas no mês passado -o pior resultado desde março de 2003, quando foram eliminados 212 mil postos-, aumentando ainda mais o temor de recessão, que seria a primeira em sete anos. "A perda de emprego é dolorosa, e eu sei que os americanos estão preocupados com a nossa economia -eu também estou", afirmou Bush.

Eliminação de vagas
O quadro foi negativo para a maioria dos setores. A indústria eliminou 52 mil postos de trabalho, o mercado de construção (epicentro da crise atual), 39 mil, e as vendas ao varejo, mais 34 mil. O mercado financeiro, que também foi fortemente atingido pela crise, perdeu 12 mil vagas. Educação e serviços de saúde e lazer e hospedagem foram algumas das raras áreas em que houve geração de emprego.
No total, o setor privado perdeu 101 mil vagas em fevereiro, o terceiro mês consecutivo de cortes -um sinal de que as empresas estão temerosas com a economia. Já o setor público contratou mais 38 mil, o que impediu um resultado mais negativo. "Eu não via um relatório de trabalho tão recessivo desde a última recessão [em 2001]", disse ao "New York Times" o economista Jared Bernstein, do Economic Policy Institute.
Para piorar, o Departamento de Trabalho revisou de 17 mil para 22 mil o número de vagas eliminadas em janeiro, o primeiro resultado negativo desde agosto de 2003. E, em dezembro, a economia criou metade dos 82 mil postos inicialmente previstos. Os Estados Unidos precisam gerar cerca de 100 mil postos por mês apenas para atender à população que entra no mercado de trabalho.
Já a taxa de desemprego, que leva em conta outros dados, retrocedeu de 4,9%, em janeiro, para 4,8%, mas a queda não serviu para acalmar os temores quanto a uma recessão no país.


Com agências internacionais

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