São Paulo, sábado, 08 de março de 2008

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Mau humor global faz Bovespa cair 1,76%

Dados sobre emprego nos EUA aumentam receio de recessão; analistas já prevêem um corte maior nos juros do Fed

Apesar das medidas anunciadas pelo governo Bush, mercado ainda teme mais estragos com a crise imobiliária norte-americana

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

A notícia de que foram fechados 63 mil postos de trabalho nos EUA no mês passado reacendeu o pessimismo no mercado financeiro em todo o mundo ontem, um dia após o surgimento de mais problemas de solvência entre instituições financeiras americanas que atuam no mercado de hipotecas de alto risco ("subprime").
O índice Dow Jones da Bolsa de Nova York recuou 1,22% no dia e fechou no menor nível desde outubro de 2006. A Nasdaq caiu 0,36%, para o patamar mais baixo desde setembro do ano retrasado.
Na segunda sessão consecutiva de baixa, a Bovespa perdeu 1,76%, aos 61.867 pontos -menor nível desde 15 de fevereiro. Na semana, a queda é de 2,56%. O dólar comercial avançou 0,23%, a R$ 1,684. Na máxima do dia, alcançou R$ 1,701.
As Bolsas asiáticas sofreram bastante, ontem, com as informações de que o grupo de investimentos Carlyle Capital não está conseguindo honrar seus compromissos, divulgadas na véspera. A Bolsa de Tóquio fechou em baixa de 3,3% e a de Hong Kong recuou 2,9%. Ainda nem tinha nascido o sol no lado ocidental e o clima já era ruim.
Logo cedo, diante da insegurança crescente no mercado de crédito -o receio é que as financeiras não tenham mais condições de emprestar para ninguém-, o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) anunciou que ofereceria aos bancos US$ 100 bilhões para garantir que não falte dinheiro no sistema. No entanto, uma medida que poderia acalmar os ânimos teve o seu efeito anulado pelos desanimadores números a respeito do mercado de trabalho americano, que saíram minutos depois.
Foi o maior número de cortes de vagas em cinco anos, o que alimentou os temores de que a maior potência do planeta esteja caminhando a passos largos para uma recessão. Os analistas também aumentaram suas apostas em um corte de juros ousado, quando o comitê de política monetária do Fed se reunir novamente, no dia 18 de março. A sua taxa básica, que está atualmente em 3% ao ano, pode ser reduzida em 0,75 ponto percentual, na opinião de muitos economistas.
Tão grande foi o mau humor que o presidente George W. Bush resolveu se pronunciar. Disse que está claro que a atividade se encontra em desaceleração, mas frisou que o cenário futuro continua positivo. "Sei que se trata de um momento difícil para a nossa economia, mas nós reconhecemos o problema cedo e providenciamos um pacote de estímulo", disse, referindo-se ao projeto de isenções e restituições de impostos proposto pela sua administração e aprovado pelo Congresso.
"Ainda existem muitas dúvidas a respeito do que está acontecendo na economia americana, e isso nos afeta", diz Gustav Penna Gorski, economista-chefe da corretora Geração Futuro. Gorski explica que o pior dos dados sobre emprego foi que houve perdas em todos os setores: 34 mil no varejo, 52 mil na indústria e 39 mil na construção civil. "O debate a respeito do grau de desaquecimento continua. A Bolsa brasileira certamente está sendo menos afetada do que a de outros países, o que não significa que podemos ficar tranqüilos. Turbulências vão ocorrer. Quando há incertezas, o risco cresce."
Aos pequenos investidores, ele lembra que aplicações no mercado acionário devem ser feitas de olho no longo prazo. Na sua opinião, as perspectivas para as empresas brasileiras seguem positivas, e seus papéis podem dar bons lucros.


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