São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUIZ GONZAGA BELLUZZO

A controvérsia sobre desindustrialização

Há forte declínio da parcela da indústria manufatureira no PIB e no emprego, revelando "desindustrialização precoce"

AS RAZÕES e os efeitos da continuada valorização do real dividem os economistas. A rapaziada do "senta que o leão é manso" argumenta que a notória melhoria dos "fundamentos" vem instigando o apetite dos investidores por ativos brasileiros. Melhor ainda, submetida à concorrência externa, a indústria brasileira atirou ao mar as ineficiências e muitas empresas já flexionam os músculos para um novo período de expansão, os custos alinhados às exigência do mercado internacional. A comprovação da façanha é atestada pelo aumento das importações e da produção doméstica de bens de capital.
O jornal "Valor" do fim de semana, edição que foi às bancas na quinta-feira, dia 5, registra reparos à visão otimista do movimento cambial. A reportagem mostra que os setores intensivos em mão-de-obra já ganham a companhia dos segmentos industriais intensivos em tecnologia, como automóveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, na retaguarda da corrida competitiva.
Esquenta a controvérsia sobre a desindustrialização. Descontados os que acham que a indústria brasileira vai bem, obrigado, e está pronta para saltar na jugular dos competidores, não escasseiam os que sugerem ser até desejável, na nova divisão internacional do trabalho promovida pela liderança sino-americana, que o Brasil se (re) transforme num exportador de produtos intensivos em recursos naturais.
Primário-exportador, sim, mas de primeira classe. Aí está a febre do etanol para desmentir os pessimistas. A história do capitalismo já registrou períodos relativamente longos de termos de troca favoráveis aos produtores de commodities, mas não há notícia de que tenham sido sustentáveis.
O economista inglês Bob Rowthorn realizou um cuidadoso estudo sobre o fenômeno da "desindustrialização". Os testes realizados com um painel de 18 países, no período 1963-1994, revelam que os países em desenvolvimento apresentam tendência à queda da participação da indústria no emprego e no PIB (Produto Interno Bruto), a partir de US$ 9.000 de renda per capita (a preços constantes de 1986).
O Brasil ainda não atingiu essa marca. Os dados do PIB recentemente publicados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram uma estrutura setorial de economia madura. Há um forte declínio da participação da indústria manufatureira no PIB e no emprego, revelando o que se pode qualificar de "desindustrialização precoce". Há fortes indícios, ademais, de que a valorização do real está promovendo o rompimento dos nexos inter-industriais das principais cadeias de produção.
A estrutura industrial brasileira pode ser comparada a uma nebulosa em que sobressaem algumas grandes e médias empresas em cada setor. Elas têm conseguido resistir, até agora, graças à racionalização e à especialização, bem como à elevação do coeficiente de insumos importados. No futuro, alguém haverá de compreender por que a modernização empresarial dos últimos 15 anos levou ao enfraquecimento estrutural da indústria manufatureira.


LUIZ GONZAGA BELLUZZO, 64, é professor titular de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo Quércia).

Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Os pobres nunca estarão convosco
Próximo Texto: Entrevista - Edemar Cid Ferreira: Condenado, ex-banqueiro nega os crimes e ataca BC
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.