São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2008

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Inflação se acelera e sinaliza alta dos juros

Taxa do IGP-DI foi de 0,70% em março e acumula 9,18% em 12 meses; com isso, mais analistas prevêem juros maiores

Destacaram-se neste ano os reajustes em setores como siderurgia, papel e celulose, química e mineração, segundo a FGV

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) subiu para 0,70% em março -em fevereiro, 0,38%- e reforçou a perspectiva de aumento da taxa básica de juros. No acumulado em 12 meses, o índice está em 9,18% -a maior taxa desde abril de 2005 (10,22%).
Os dados mostram que estão ainda mais nítidos os sinais de que o consumo está aquecido, sem a contrapartida do aumento da produção no mesmo ritmo, dizem especialistas. Com o receio de que a situação se converta em pressões inflacionárias futuras, cresceu no mercado o número de analistas que apostam no IPCA mais alto e na taxa Selic maior neste ano, segundo o Boletim Focus, do Banco Central.
A maior parte dos analistas já aposta em alta de 0,25 ponto percentual na reunião do Copom na próxima semana. O maior temor do BC é que a alta que está hoje mais circunscrita ao atacado chegue ao varejo. Maior fonte de pressão do índice geral, o IPA (Índice de Preços por Atacado) passou de 0,52% em fevereiro para 0,80% em março, segundo a FGV. Já o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) teve alta de 0,45%, após estabilidade em fevereiro.
O IGP-DI subiu na esteira dos produtos industriais no atacado. Os preços industriais saltaram de 0,79% para 0,94%. Destacaram-se neste ano os reajustes em setores como siderurgia, papel e celulose, química e mineração. "Infelizmente, os dados mostram que a produção não acompanha o aumento do consumo neste momento de economia aquecida. Esse movimento é bem espalhado e deve levar o BC a subir a taxa de juros", diz Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista-chefe da corretora SLW.
O economista Luiz Roberto Cunha avalia que o país está longe de um cenário de descontrole inflacionário. Diz, porém, que é prudente elevar os juros para conter o consumo, que cresce com vigor graças à explosão do crédito.
Para Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV, a inflação "não se desgovernou" e "talvez esteja até se acomodando", depois de ter dado "um susto no final de 2007". Para ele, não há indicação de que a taxa supere o centro da meta (4,5%) deste ano, apesar das recentes pressões.
A inflação no Brasil responde ainda ao forte aumento dos preços das commodities agrícolas e metálicas no mundo, segundo Cunha. Tal efeito pressionou os preços agrícolas no atacado, cuja alta chegou a 0,46% em março (em fevereiro, houve queda de 0,19%).
"Vivemos um momento de desequilíbrio que não tem só a ver com a alta das commodities, mas principalmente em razão do forte ritmo de aceleração do consumo, impulsionado pelo crédito", diz Cunha. Para ele, elevar a Selic é a medida mais eficaz para sinalizar aos bancos que está na hora de conter a expansão do crédito.
Mas há uma corrente de economistas que acredita que a expansão do investimento consegue atender a demanda. "As decisões de investir vêm tendo forte aceleração nos últimos seis meses, originando uma fonte de dinamismo para a economia associada à estabilidade de preços poucas vezes encontrada na economia brasileira", diz relatório do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Para Rafael Castro, a preocupação do BC com o aumento do preço dos insumos se justifica, mas tais reajustes ainda não chegaram com intensidade aos preços ao consumidor.


Colaborou CIRILO JUNIOR , da Folha Online


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