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FMI vai vender 400 t de ouro e demitir 380
Objetivo é reduzir déficit de US$ 400 mi previsto para os próximos dois anos; estimativa é que metal renda até US$ 11 bi
Nos últimos anos, Fundo perdeu receita provenientes dos juros cobrados dos empréstimos, após a quitação de dívidas de emergentes
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O comitê executivo do FMI
(Fundo Monetário Internacional) aprovou ontem a maior reforma financeira da história da
instituição, criada em julho de
1944. Agora, será a vez de o próprio Fundo se ajustar.
O FMI recebeu sinal verde
para vender até 403,3 toneladas de suas reservas em ouro
(de 3.217 toneladas) e anunciou
a intenção de cortar US$ 100
milhões em despesas administrativas em três anos.
O objetivo das medidas é reduzir ou zerar um déficit de
US$ 400 milhões previsto nas
contas do FMI para daqui a
dois anos. A decisão foi tomada
durante a discussão do orçamento para o período 2009-2011. No atual ano fiscal, que
acaba no dia 30, o déficit projetado é de US$ 140 milhões.
Com a venda de parte das reservas em ouro (que precisará
da aprovação do Congresso dos
EUA) e economia de gastos, o
FMI pretende realizar investimentos no mercado que garantam a geração de US$ 300 milhões nos próximos anos.
Os cortes de gastos se tornaram imperiosos após brusca diminuição, nos últimos cinco
anos, do número de países
emergentes que precisam da
ajuda do FMI e que quitaram
suas dívidas. Boa parte das contas do Fundo, visto por críticos
como perdulária, era bancada
com os juros dos empréstimos
que a instituição fazia.
A venda das reservas em ouro
chegou a ser criticada em outras ocasiões. O FMI estaria recorrendo à venda da "prataria
da casa" para se financiar, evitando tomar medidas amargas
como as que exige dos países a
quem empresta seu dinheiro.
O FMI funciona em dois
enormes edifícios no centro de
Washington -um dos quais
construído recentemente, justamente no período em que
minguavam os países que necessitavam da ajuda do Fundo.
O corte de gastos deve atingir
até 380 empregos de um total
de 2.635.
O Fundo já criou um plano de
demissões voluntárias para
atingir essa meta durante os
próximos três anos e tentar, até
2011, limitar seu orçamento
anual a US$ 800 milhões.
O FMI possui a terceira
maior reserva de ouro do mundo, atrás apenas dos bancos
centrais dos EUA (Federal Reserve) e da Alemanha (Bundesbank). O momento atual é bastante propício para a venda, já
que o preço da onça-troy do
metal ronda os US$ 900, perto
de seu nível recorde.
A venda será feita de modo
gradual para não causar impacto de oferta demasiada no mercado. O Fundo não falou em valores, mas estimativas apontam
que possam ser arrecadados até
US$ 11 bilhões com a venda do
metal. A venda do ouro requer
85% dos votos dos 185 países-membros do FMI, mas cada
país tem um peso diferente.
Com uma participação de quase 17%, os EUA têm poder para
vetar a operação, mas o governo George W. Bush a apóia.
O diretor-gerente do FMI, o
francês Dominique Strauss-Kahn, afirmou que as medidas
vão "substituir um modelo obsoleto e inviável de financiamento por outro mais moderno, previsível e em consonância
com outras instituições internacionais".
O anúncio das medidas ocorre dias antes da reunião de primavera (no hemisfério Norte)
do FMI e alguns dias depois de
o Fundo anunciar uma reforma
no seu sistema de cotas.
O Brasil foi um dos quatro
países mais beneficiados pelo
realinhamento da divisão de
cotas e de votação. O país passará a ter uma cota de 1,78% no
Fundo -alta de 40%. E um poder de voto de 1,72% (+22%).
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