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Governo tenta salvar disputa em Belo Monte
Após desistência de Odebrecht e Camargo Corrêa, Planalto articula formação emergencial de novo consórcio para concorrer no leilão
Construtoras discordam de condições de preço e prazo para o projeto da usina; novo grupo poderá ser formado por Alupar, Bertin e OAS
MARCIO AITH
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um forte obstáculo surgiu
ontem à possibilidade de competição no leilão da usina hidrelétrica de Belo Monte, no
rio Xingu, principal vitrine de
obras da pré-candidata do PT à
Presidência, Dilma Rousseff.
O consórcio liderado pelas
construtoras Camargo Corrêa
e Odebrecht desistiu de participar do leilão, previsto para o
próximo dia 20, por não concordar com as condições de
preço e prazo estipuladas pela
Aneel (Agência Nacional de
Energia Elétrica) -a desistência foi antecipada pela Folha
Online na tarde de ontem.
Nota divulgada pelo consórcio informa: "Após análise detalhada do edital de licitação da
concessão, assim como dos esclarecimentos posteriores fornecidos pela Aneel, as empresas não encontraram condições
econômico-financeiras que
permitissem sua participação
na disputa".
Até ontem, com a saída das
duas construtoras, restava apenas um único consórcio na disputa daquela que será a terceira
maior hidrelétrica do mundo
(depois de Três Gargantas, na
China, e de Itaipu).
O consórcio remanescente é
formado por Andrade Gutierrez, Neoenergia (associação entre a Iberdrola, a Previ e o Banco do Brasil) e dois autoprodutores de energia: a Vale e a Votorantim. A desistência dos
grupos Odebrecht e Camargo
Corrêa gerou uma correria ontem dentro do governo a fim de
viabilizar, de qualquer forma,
um segundo concorrente para
o leilão do próximo dia 20.
Segundo a Folha apurou,
uma alternativa era a de estimular a formação de um consórcio integrado pela Alupar,
pela Bertin e pela construtora
OAS. A Folha tentou ontem,
sem sucesso, contato com a direção das três empresas.
O mercado tem dúvidas sobre a capacidade financeira
desse eventual consórcio de
disputar o projeto da hidrelétrica de Belo Monte, estimado
em R$ 19 bilhões.
Outra alternativa do governo
para liderar um terceiro consórcio, o grupo Suez também
não apresentou proposta para
se associar à Eletrobras, embora não descarte futura participação, "apesar de ser um projeto muito grande e ainda sem
garantias de viabilidade", disse
à Folha o presidente da empresa no Brasil, Maurício Bahr.
A saída da Camargo e da
Odebrecht deu-se no momento
em que elas desistiram de aderir à convocação da Eletronorte, subsidiária da Eletrobras,
que seria sócia com até 49%.
A convocação da Eletronorte
foi a forma de a holding Eletrobras dividir as subsidiárias para
a composição com os grupos
privados interessados no leilão.
Sem uma parceria com as estatais, é praticamente descartada
a participação de consórcios
100% privados.
A rigor, Camargo e Odebrecht até poderiam vir a participar do leilão sem aderir à Eletronorte. Mas concluíram que,
sem a estatal, não existe oxigênio financeiro para tanto.
O motivo final que levou as
duas empreiteiras a desistir do
negócio foi a negativa da Aneel,
divulgada ontem, aos últimos
pleitos feitos para melhorar as
condições do edital.
O primeiro pleito dizia respeito à correção monetária, de
dezembro de 2008 até a data
do leilão, do preço-teto previsto no edital, de R$ 83,00 por
megawatt-hora.
O outro pedido era criar mecanismo para reduzir o risco da
diferença de preço de energia
entre o mercado do Norte, onde a usina será instalada, e o do
Sudeste, onde há mais demanda. Sem esse mecanismo, o risco financeiro do negócio se ampliava sensivelmente, dizem as
construtoras.
A existência de apenas um
grupo interessado torna extremamente comprometido o ambiente de forte competição que
a ex-ministra Dilma Rousseff
desejava dar ao processo licitatório de Belo Monte.
No "mundo ideal" de Dilma,
ao menos três consórcios entrariam na disputa pelo projeto, o que forçaria para baixo o
preço-teto da energia negociada e também sinalizaria um benefício ao consumidor em pleno ano eleitoral.
Colaborou LEILA COIMBRA ,
da Sucursal de Brasília
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