São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

Um teste para os candidatos


O que Serra e Dilma têm a dizer sobre o reajuste das aposentadorias, que vai respingar no futuro governo?

SERIA UM teste interessante perguntar aos candidatos favoritos a presidente o que acham das avacalhações que seus partidos e aliados andam promovendo no Congresso. Não é um questionário a respeito das bandalheiras históricas. Trata-se apenas de indagar o que José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT) ou Marina Silva (PV) pensam sobre, por exemplo, o aumento do valor das aposentadorias, que o Congresso quer extrapolar.
Melhor ainda, além da resposta, os candidatos deveriam dar uma recomendação às bancadas de seus partidos e aliados. Afinal, Serra e Dilma, entre outros, pretendem começar a governar o país daqui a menos de nove meses. Já devem ser capazes de assumir atitudes de presidente.
Enfim: Serra, Dilma e Marina diriam hoje, aos senadores e deputados federais de seus partidos e aliados, que deve ser aprovado um reajuste real ainda maior para os aposentados? É o que está em discussão no Congresso. A mudança pode ser aprovada nas próximas semanas.
O governo federal havia concedido reajuste de 6,14% às aposentadorias do INSS com valor superior a um salário mínimo. O reajuste está em vigor desde janeiro. Foi baixado via medida provisória. Alguns parlamentares querem aumentar o reajuste -que já embute aumento real, ou seja, superior à inflação. O governo diz agora aceitar 7%.
Apesar de os parlamentares temerem perder votos com a recusa do reajuste extra (o que, aliás, é discutível), na Câmara parece que a coisa vai. A hipótese de reajuste agora assanha o Senado (que ontem propôs reajuste de 7,71%), Casa em que a oposição dispõe de mais capacidade (votos) para causar estragos ao governo. Mas de qual governo se trata?
Reajustar demais as aposentadorias já seria bastante ruim para as contas deste governo que sai, contas estressadas pelos aumentos de gastos anticrise e outros, apenas perdulários. Porém o reajuste dos aposentados e outros aumentos permanentes de despesa vão afetar em especial o próximo governo. Provavelmente, o governo de Serra ou de Dilma, pelo que dizem hoje as pesquisas.
A situação hoje é ainda mais vergonhosa para os parlamentares da oposição, que tanto fala em "herança maldita" e "gastança", mas votou animadamente os reajustes de salários propostos pelo governo Lula.
Vai ocorrer um desastre? Vai ser deixada uma "herança maldita" por causa de um ou outro ponto percentual de reajuste extra? Não, embora cada ponto extra custe mais de R$ 1 bilhão (os 7,71% custariam R$ 1,8 bilhão). O problema é a sucessão de pontos percentuais extras de gastos que vão sendo somados à despesa enorme do governo com o argumento de que "as contas públicas brasileiras não vão tão mal assim", se comparadas ao resto do mundo.
Não vão tão mal, de fato, se levarmos em conta apenas os números do ano passado para cá. Mas o Brasil viveu, nos anos 1990, uma elevação de carga tributária vista comumente apenas em períodos de guerra. Temos um passivo grande, investimentos parcos e impostos altos.
O assunto é um tédio, reconheça-se. Mas saber o que os candidatos vão dizer a seus partidos sobre o tema é um teste muito imediato e prático de responsabilidade administrativa e política.

vinit@uol.com.br


Texto Anterior: Paulo Nogueira Batista Jr.: O FMI precisa de competição
Próximo Texto: Arrecadação do FGTS surpreende e chega a R$ 3,75 bi em 3 meses
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.