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LUÍS NASSIF
Caixa eleitoral e hipocrisia
Há tempos o jogo político
brasileiro passou a ter um
componente desestabilizador
terrível, não devido às posições
políticas dos partidos favoritos,
mas à mistura explosiva de interesses de grupos rivais utilizando
a mídia por meio de dossiês variados, e da falta de regras mais
claras na questão das contribuições de campanha.
Contribuem para essa história
a falta de fiscalização mais intensa das contribuições e a leniência dos diversos partidos em
aceitar contribuições de caixa
dois de empresas.
O caixa dois interessa ao empresário por várias razões. A
mais evidente é não se expor, em
caso de derrota do beneficiário.
A mais relevante é ficar no anonimato para facilitar as barganhas posteriores. Há dois tipos
de barganha em jogo: a do empresário com contratos com
quem é governo e a do empresário que ambiciona o contrato depois da eleição do seu candidato.
A revelação do seu nome inviabilizaria a barganha. A classe
política aceitou esse jogo de maneira ampla. Ficar fora dele significaria abrir mão da parte
mais substanciosa das contribuições de campanha.
Na campanha passada, um
empresário organizou reunião
de seu setor com a pessoa escolhida para arrecadar os recursos
para determinado candidato.
Começou a reunião, a pessoa diz
que seu partido só aceitaria contribuições oficiais. Saiu de mãos
abanando e teve que aceitar as
regras do jogo.
E aí se entra em um terreno
pantanoso. Como não existe
contabilização desses recursos, o
partido fica duplamente exposto: comete uma ilegalidade e fica
nas mãos dos arrecadadores e/
ou chantagistas.
Dia desses, um empresário do
setor de telecomunicações, sob
compromisso de "off" absoluto,
exemplificava: "O sujeito vem,
pede R$ 45 para o partido, repassa R$ 5 e embolsa R$ 40. E quem
vai reclamar para quem?".
A situação é absolutamente hipócrita porque todos os partidos
com chance de vitória recorrem
a esse expediente ilegal, a mídia
sabe, as notícias circulam, mas
só são utilizadas como ferramentas de disputa de poder dos
políticos para fuzilar os adversários, da mídia para competir no
mercado ou mostrar poder. E o
país, como fica nessa?
Cria-se uma situação institucionalmente insustentável, na
qual o país inteiro fica refém dessa promiscuidade. Roseana Sarney foi fuzilada com a mão na
cumbuca. Agora se tenta fuzilar
José Serra por episódios de 1998,
quando sua última campanha
eleitoral foi em 1996. Mas pouco
importa: o que é relevante é a
disputa pelo poder.
Na hora em que se quiser, também se fuzilará Lula. É só utilizar, no momento apropriado,
com a ênfase adequada, as licitações de lixo da prefeitura de
São Paulo, ou a atuação de Roberto Teixeira. Todos os fatos estão aí, como estavam no ar desde 1998 os fatos que envolviam
Ricardo Sérgio.
Não se tente isentar o governo
de culpa. Desde os primeiros rumores, Ricardo Sérgio deveria
ter sido demitido da diretoria do
Banco do Brasil. O próprio processo de privatização, ainda que
sob a capa legítima de estimular
a disputa e permitir melhorar o
preço das estatais, abriu espaço
para um personalismo incompatível com a coisa pública, além
de sujeitar o governo à ação de
chantagistas.
Mas não se tente encontrar virtudes públicas nas denúncias.
Tudo faz parte do jogo.
Analistas e bancos
Na coluna de ontem, sobre a manipulação de análises pelos bancos de investimento, incorri em generalizações. Evidentemente há inúmeros analistas sérios no mercado, atuando tecnicamente, inclusive na avaliação
da piora dos fundamentos da economia brasileira, cuja atuação acaba sendo comprometida por picaretas.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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