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País paga menos para captar no exterior
Na 1ª emissão desde grau de investimento, título da dívida pública paga 5,3% ao ano, a menor taxa para esse tipo de papel
Analista diz que Tesouro quis testar o mercado e
que empresas agora devem seguir o governo nas captações externas
LUCIANA OTONI
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma semana após ser classificado como grau de investimento pela agência de classificação de risco Standard &
Poor's, o Brasil conseguiu ontem emitir nos mercados financeiros dos EUA e da Europa
US$ 500 milhões em títulos da
dívida pública pagando juros de
5,299% ao ano, a menor taxa já
paga por um papel brasileiro.
Em abril do ano passado, o
Tesouro havia aceitado pagar
juros de 5,888% pelos mesmos
títulos, chamados de Global
2017, em referência ao ano de
vencimento.
Desde então, o agravamento
da crise financeira internacional reduziu o apetite do mercado por esse tipo de papel e o
Brasil obteve o grau de investimento -classificação dada pelas agências a países que apresentam baixa probabilidade de
dar calote em suas dívida.
A aceitação do papel nos
EUA e na Europa levou o governo a estender a operação também para o mercado asiático.
Na Ásia, a oferta foi de US$ 25
milhões, cujos resultados vão
ser divulgados na manhã desta
quinta-feira após o fechamentos dos mercados asiáticos.
A operação de venda no exterior de papel da dívida brasileira em dólar no montante integral de US$ 525 milhões foi a
primeira desde 19 de junho do
ano passado e teve o objetivo de
experimentar o humor dos
aplicadores estrangeiros diante
da melhora da avaliação de risco soberano do Brasil e em um
contexto de baixa liquidez dos
mercados financeiros.
A demanda foi maior que a
oferta e foi considerada pelo
Tesouro como um reconhecimento do mercado externo
após a melhora da classificação
de risco soberano. Havia quase
um ano o governo não emitia
papéis da dívida externa.
O papel brasileiro está pagando 1,4 ponto percentual (ou
140 pontos-base) a mais que os
bônus equivalentes emitidos
pelo governo dos EUA, considerados de risco zero. Esse tipo
de comparação serve de base
para o cálculo do risco-país
-que, no entanto, leva em conta outros títulos da dívida.
No ano passado, a diferença
paga pelo Tesouro brasileiro
para emitir o papel foi até mais
baixa, de 1,22 ponto percentual
acima daquela paga pelos EUA.
As condições do Global 2017
obtidas ontem foram as melhores já negociadas por esse papel
desde o seu lançamento, em novembro de 2006. Na primeira
vez em que o bônus foi vendido,
o governo captou US$ 1,5 bilhão,
pagando juros de 6,00% e taxa
de rendimento de 6,249%. Na
segunda operação, realizada em
abril de 2007, o montante vendido foi de US$ 525 milhões, com
taxa de juros de 6% ao ano e pagamento de retorno ao investidor de 5,888%.
No mercado, alguns analistas
não viram como uma contradição o fato de o Brasil estar fazendo captação em dólar em
um momento em que o grau de
investimento aumenta o risco
de maior ingresso de moeda estrangeira e de maior valorização do real. Para o economista
da LCA Consultores Francisco
Pessoa, a operação pode ser interpretada como uma intenção
do Tesouro de testar o mercado
após o grau de investimento.
"Na emissão de ontem, o governo pagou um "spread" de 140
pontos-base acima do título do
governo americano, e isso é um
bom sinal porque, considerando que o mundo está em uma
fase instável, esse nível de
"spread" mostra que os investidores têm uma percepção de
baixo risco de calote dos papéis
da dívida brasileira", comentou.
Já para Luiz Adriano Martinez, gestor de multimercados
do Unibanco Asset Management, a emissão feita pelo governo brasileiro ontem não foi
tão beneficiada pela melhor
classificação de risco do país
porque o mercado já antecipava essa notícia havia algum
tempo. "Grande parte desse
"investment grade" já estava
precificada", afirma.
Ou seja, as cotações praticadas no mercado já embutiam a
expectativa de que o Brasil receberia logo o grau de investimento. Um sinal disso, diz
Martinez, é o fato de o risco-país (indicador inversamente
proporcional à cotação dos títulos no exterior) ter se mantido em níveis historicamente
baixos nos últimos meses.
A economista-chefe do Banco Fibra, Maristela Ansanelli,
diz que, embora o governo não
tenha uma grande necessidade
de captar recursos no exterior,
operações como a de ontem são
importantes porque servem de
referência para lançamentos
que empresas brasileiras venham a fazer no exterior. "Entre os objetivos dessas captações não está apenas acumular
reservas, mas também abrir
portas para emissões privadas."
"O processo é esse: primeiro
vem o Tesouro, depois bancos,
e a seguir empresas não-financeiras", diz Martinez, referindo-se aos setores que devem
aproveitar o cenário externo
mais favorável para captar recursos.
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