São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2008

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País paga menos para captar no exterior

Na 1ª emissão desde grau de investimento, título da dívida pública paga 5,3% ao ano, a menor taxa para esse tipo de papel

Analista diz que Tesouro quis testar o mercado e que empresas agora devem seguir o governo nas captações externas


LUCIANA OTONI
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma semana após ser classificado como grau de investimento pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, o Brasil conseguiu ontem emitir nos mercados financeiros dos EUA e da Europa US$ 500 milhões em títulos da dívida pública pagando juros de 5,299% ao ano, a menor taxa já paga por um papel brasileiro.
Em abril do ano passado, o Tesouro havia aceitado pagar juros de 5,888% pelos mesmos títulos, chamados de Global 2017, em referência ao ano de vencimento.
Desde então, o agravamento da crise financeira internacional reduziu o apetite do mercado por esse tipo de papel e o Brasil obteve o grau de investimento -classificação dada pelas agências a países que apresentam baixa probabilidade de dar calote em suas dívida.
A aceitação do papel nos EUA e na Europa levou o governo a estender a operação também para o mercado asiático. Na Ásia, a oferta foi de US$ 25 milhões, cujos resultados vão ser divulgados na manhã desta quinta-feira após o fechamentos dos mercados asiáticos.
A operação de venda no exterior de papel da dívida brasileira em dólar no montante integral de US$ 525 milhões foi a primeira desde 19 de junho do ano passado e teve o objetivo de experimentar o humor dos aplicadores estrangeiros diante da melhora da avaliação de risco soberano do Brasil e em um contexto de baixa liquidez dos mercados financeiros.
A demanda foi maior que a oferta e foi considerada pelo Tesouro como um reconhecimento do mercado externo após a melhora da classificação de risco soberano. Havia quase um ano o governo não emitia papéis da dívida externa.
O papel brasileiro está pagando 1,4 ponto percentual (ou 140 pontos-base) a mais que os bônus equivalentes emitidos pelo governo dos EUA, considerados de risco zero. Esse tipo de comparação serve de base para o cálculo do risco-país -que, no entanto, leva em conta outros títulos da dívida.
No ano passado, a diferença paga pelo Tesouro brasileiro para emitir o papel foi até mais baixa, de 1,22 ponto percentual acima daquela paga pelos EUA.
As condições do Global 2017 obtidas ontem foram as melhores já negociadas por esse papel desde o seu lançamento, em novembro de 2006. Na primeira vez em que o bônus foi vendido, o governo captou US$ 1,5 bilhão, pagando juros de 6,00% e taxa de rendimento de 6,249%. Na segunda operação, realizada em abril de 2007, o montante vendido foi de US$ 525 milhões, com taxa de juros de 6% ao ano e pagamento de retorno ao investidor de 5,888%.
No mercado, alguns analistas não viram como uma contradição o fato de o Brasil estar fazendo captação em dólar em um momento em que o grau de investimento aumenta o risco de maior ingresso de moeda estrangeira e de maior valorização do real. Para o economista da LCA Consultores Francisco Pessoa, a operação pode ser interpretada como uma intenção do Tesouro de testar o mercado após o grau de investimento.
"Na emissão de ontem, o governo pagou um "spread" de 140 pontos-base acima do título do governo americano, e isso é um bom sinal porque, considerando que o mundo está em uma fase instável, esse nível de "spread" mostra que os investidores têm uma percepção de baixo risco de calote dos papéis da dívida brasileira", comentou.
Já para Luiz Adriano Martinez, gestor de multimercados do Unibanco Asset Management, a emissão feita pelo governo brasileiro ontem não foi tão beneficiada pela melhor classificação de risco do país porque o mercado já antecipava essa notícia havia algum tempo. "Grande parte desse "investment grade" já estava precificada", afirma.
Ou seja, as cotações praticadas no mercado já embutiam a expectativa de que o Brasil receberia logo o grau de investimento. Um sinal disso, diz Martinez, é o fato de o risco-país (indicador inversamente proporcional à cotação dos títulos no exterior) ter se mantido em níveis historicamente baixos nos últimos meses.
A economista-chefe do Banco Fibra, Maristela Ansanelli, diz que, embora o governo não tenha uma grande necessidade de captar recursos no exterior, operações como a de ontem são importantes porque servem de referência para lançamentos que empresas brasileiras venham a fazer no exterior. "Entre os objetivos dessas captações não está apenas acumular reservas, mas também abrir portas para emissões privadas."
"O processo é esse: primeiro vem o Tesouro, depois bancos, e a seguir empresas não-financeiras", diz Martinez, referindo-se aos setores que devem aproveitar o cenário externo mais favorável para captar recursos.


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