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Congresso aprova novo parcelamento
Dívidas com a Receita Federal, vencidas até novembro de 2008, poderão ser pagas em até 180 meses
Tamanho dos benefícios ainda vai depender do presidente Lula, que pode vetar juros pela TJLP e restabelecer o uso da Selic
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Palácio do Planalto conseguiu reduzir a generosidade do
novo programa de parcelamento geral de dívidas de empresas
e pessoas físicas com a Receita
Federal, aprovado ontem em
definitivo pela Câmara dos Deputados.
No entanto, a extensão dos
benefícios ainda depende do
lobby parlamentar e empresarial que tentará convencer o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva a não vetar o parágrafo do
texto que prevê a correção das
dívidas por taxas inferiores aos
juros do Banco Central.
O programa se tornará lei a
partir da esperada sanção presidencial, que, pela legislação,
acontecerá em até 15 dias úteis.
Depois disso, o Ministério da
Fazenda tem 60 dias para detalhar os procedimentos a serem
seguidos pelos contribuintes.
Em votação simbólica, sem
contagem nominal, os partidos
aliados e oposicionistas concordaram em retirar parte das
alterações feitas pelo Senado
que acrescentavam benesses ao
projeto. No caso mais importante para o governo, foi restabelecida a regra derrubada pelos senadores que fixava, para
os participantes de algum dos
três programas anteriores de
parcelamento criados desde
2000, uma prestação mínima
equivalente a 85% da atual ou,
no caso dos inadimplentes, da
mais recente.
"Sem esse piso, não estamos
certos de que não haveria perda
de arrecadação", afirmou o relator, deputado Tadeu Filippel
li (PMDB-DF). Em cálculos
não detalhados que circularam
entre parlamentares governistas, o prejuízo para o erário variaria de R$ 2 bilhões a R$ 6 bilhões anuais -a crise econômica já levou o governo a reduzir a
previsão de arrecadação deste
ano de R$ 805 bilhões para R$
757 bilhões.
Não estava em discussão o
desenho básico do novo programa, proposto e aprovado pelos deputados e ratificado pelos
senadores: qualquer dívida
com o fisco vencida até novembro do ano passado poderá ser
paga em até 180 meses, com
abatimento de multas e juros
de mora e correção pela TJLP
(Taxa de Juros de Longo Prazo,
adotada nos financiamentos do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Contra, mas...
Embora a Receita tenha trabalhado contra o novo parcelamento, o governo Lula preferiu
não sofrer o desgaste político
de se opor à proposta, apresentada desde o ano passado pelo
aliado PMDB, maior partido do
Congresso. Há o compromisso
de sancionar a maior parte do
texto, mas os governistas afirmam que deverá ser vetada a
correção pela TJLP.
Fixada atualmente em 6,25%
ao ano, a taxa representa um
subsídio se comparada aos
10,25% da Selic, taxa do BC que
serve de referência para os juros de mercado e é aplicada nos
parcelamentos ordinários de
até 60 meses oferecidos pelo
fisco. Na argumentação governista, a correção pela TJLP torna vantajoso suspender o pagamento de impostos e aplicar o
dinheiro nos fundos de renda
fixa oferecidos pelos bancos.
Uma conta grosseira dá ideia
da diferença prática entre as taxas: na hipótese de uma prestação inicial de R$ 100 -o valor
mínimo estabelecido para as
empresas no novo programa-
e um parcelamento de 180 meses, a prestação final chegará a
R$ 428,69, se considerada uma
Selic constante durante todo o
período; com a TJLP de hoje, o
valor seria de R$ 247,02.
Ao todo, a Receita estimou
uma renúncia fiscal de R$ 30
bilhões ao ano com o novo programa, mas nem os governistas
levaram o cálculo a sério: o valor, aponta-se, é apurado a partir da comparação entre as vantagens oferecidas e um cenário
teórico em que todos os contribuintes estivessem pagando
seus tributos em dia pelas regras normais.
Na prática, como a inadimplência cresceu com a recessão,
o parcelamento deverá produzir um aumento momentâneo
da receita.
Penduricalhos
O programa foi incluído pelos parlamentares no texto de
uma medida provisória editada
em 2008 (nº 449), cujo objetivo
inicial era perdoar ou parcelar
apenas dívidas com o erário até
R$ 10 mil. No Senado, a MP ganhou outros penduricalhos que
foram mantidos ontem.
Foi o caso de um artigo que livra funcionários e autoridades
do governo de responderem individualmente em processos
que questionem medidas extraordinárias tomadas em tempos de crise. A regra agradou
tanto aos governistas como aos
principais partidos de oposição. Só o PSOL protestou. "É a
impunidade para agentes públicos que, sob a justificativa de
crise, ocasionam prejuízos aos
cofres públicos para salvar os
interesses de investidores",
disse Ivan Valente (SP).
Aprovou-se ainda a prorrogação até 2014 da isenção do
Imposto sobre Produtos Industrializados na aquisição de
automóveis por taxistas e por
portadores de deficiência.
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