São Paulo, sexta-feira, 08 de maio de 2009

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Dez bancos dos EUA precisarão de US$ 75 bi

Resultado do "teste de estresse" feito pelo governo em 19 instituições mostra que parte delas terá de obter recursos para continuar viável

Citi decide incorporar ao capital boa parte dos US$ 45 bi em dinheiro estatal que recebeu, e governo pode se tornar seu maior acionista


Scott Applewhite/Associated Press
Tim Geithner (Tesouro) e Ben Bernanke (Fed) antes da divulgação dos resultados do "testes de estresse", em Washington

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Dez entre os 19 maiores bancos dos EUA terão de obter pelo menos US$ 74,6 bilhões até novembro para continuar viáveis, segundo resultado do chamado "teste de estresse" realizado pelo Departamento do Tesouro dos EUA nos últimos dois meses e meio.
O valor pode ser muito maior se considerado que o Citigroup decidiu incorporar a seu capital boa parte dos US$ 45 bilhões em dinheiro estatal que recebeu nos últimos meses.
Outros bancos também podem tomar a mesma decisão do Citigroup caso não consigam levantar no mercado o dinheiro necessário apontado nos "testes de estresse".
No caso do Citi, isso será feito por meio da conversão das chamadas "preferred stocks" (ações preferenciais) que o governo dos EUA tem no banco em ações comuns. Com isso, estima-se que o governo dos EUA será individualmente o maior acionista do Citi, com participação de cerca de 35%.
Segundo os resultados dos "testes de estresse" nos bancos, o Citigroup precisará levantar US$ 5,5 bilhões adicionais (além dos até US$ 45 bilhões com a conversão das ações), o Bank of America (BofA), US$ 34 bilhões; o Wells Fargo, US$ 13,7 bilhões; e a Gmac, braço financeiro da General Motors, US$ 11,5 bilhões.
Em teleconferência ontem em Nova York, o presidente do Citigroup, Vikram Pandit, foi questionado se não seria um sinal de "fragilidade" o fato de o banco ter optado por converter a ajuda estatal em ações comuns para reforçar o capital.
Pandit disse que não. Ele afirmou que o banco tem essa opção (de converter as ações) e que continuará competitivo perante a concorrência.
O concorrente BofA afirmou que espera levantar os US$ 34 bilhões vendendo partes do negócio ou emitindo novas ações -aproveitando a onda de recuperação dos papéis do setor bancário nos EUA, que tiveram valorização de mais de 90% desde março.
Após o anúncio, quase todos os bancos apontados pelo Departamento do Tesouro como passíveis de ter de levantar mais capital emitiram comunicados afirmando que pretendem fazê-lo por meio do mercado, e não pela conversão das "preferred stocks".
O Departamento do Tesouro americano chegou aos valores anunciados ontem a partir das seguintes premissas sobre a economia norte-americana, aplicadas sobre a situação atual dos bancos: que o desemprego alcance 10,3% neste ano (está em 8,5%, mas a nova taxa sai hoje); que os preços dos imóveis caiam mais 22% em 2009; que o PIB tenha contração de 3,3% neste ano; e que o "crescimento" seja zero em 2010.
Os "testes de estresse" revelaram ainda que, com base nesse cenário econômico, os bancos americanos poderão acumular perdas de US$ 600 bilhões neste ano e no próximo, o equivalente a 9,1% do total de empréstimos que têm na praça.
O secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, afirmou que os resultados dos "testes de estresse" levantam "o nevoeiro" que existia sobre a saúde dos bancos e tornam mais fácil às instituições obter capital no mercado.
O Tesouro deixou claro que, se necessário, não hesitará em injetar mais dinheiro nos bancos que precisarem de reforço.
A ação do governo dos EUA, que já injetou mais de US$ 200 bilhões nos bancos por meio das "preferred stocks", visa garantir que o mercado de crédito continue funcionando para empresas e consumidores. O consumo nos EUA responde por 70% do PIB e é largamente dependente de crédito.
Ontem, porém, o Fed (o banco central dos EUA) anunciou que o volume de crédito concedido pelos bancos na economia recuou em US$ 11,1 bilhões em março (para US$ 2,55 trilhões), a maior retração desde 1943, quando essas estatísticas começaram a ser levantadas. Em fevereiro, a contração já havia sido de US$ 8,1 bilhões.


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