São Paulo, sexta-feira, 08 de junho de 2007

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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

O Copom no caminho certo

A manutenção do juro acima de 10% não tem mais sentido econômico, e o corte de meio ponto é reconhecimento disso

FINALMENTE o Copom voltou a acelerar o corte da taxa Selic para 0,5 ponto percentual. O interessante é que os argumentos que certamente levaram a essa decisão são os mesmos que existiam há alguns meses. Talvez a informação nova disponível seja a clara consolidação da curva de juros a termo no mercado. Com uma inclinação negativa, isto é, com os juros mais longos na faixa dos 10,3% ao ano, não fazia mais sentido insistir em uma taxa Selic tão elevada.
Por trás dos preços dos principais ativos financeiros negociados no Brasil e no exterior está uma mensagem clara: o mercado tem hoje uma confiança muito grande na capacidade do Banco Central de manter a inflação ancorada abaixo do centro da meta de 4,5% ao ano. A prova disso é que os contratos futuros negociados na BM&F apontam para um número estável e ligeiramente abaixo dos 4% ao ano para o IGP-M nos próximos anos.
Uma leitura correta da mensagem embutida nesses preços precisa ser feita, pois o mercado não costuma ser irracional em questões de dinheiro. O que os preços futuros do IGP-M nos dizem é que, se houver alguma mudança na dinâmica de preços na economia brasileira, o Banco Central vai aumentar os juros com objetivo de trazer a inflação para o centro da meta. E vai conseguir. Havia muito não víamos esse tipo de confiança de longo prazo no controle dos preços no Brasil. E por isso a curva de juros está tão negativamente inclinada.
Em razão dessa leitura do mercado, os juros que influenciam as decisões de empresas e consumidores já estão muito abaixo da taxa Selic. Portanto a manutenção de juros acima de 10% ao ano -nível que me parece correto para a Selic- não tem mais sentido econômico, e a volta dos cortes de 0,5 ponto nas reuniões do Copom é apenas um reconhecimento disso, inclusive na questão da confiança na ação de nossa autoridade monetária.
Eu não tenho medo de dizer hoje que os juros não são mais um limitador importante de nosso crescimento. Se algo precisa ser feito pelo governo para consolidar esse bom momento que estamos vivendo, isso está no campo fiscal.
Observamos um aumento expressivo da arrecadação real de tributos em razão de um crescimento mais acelerado da atividade. Esse maior volume de recursos no caixa do governo, com a economia de juros em razão do novo equilíbrio do mercado, precisa agora ser usado com maior sabedoria e menos populismo. Uma parte dessa folga em nossas contas fiscais precisa ser canalizada para investimentos em infra-estrutura, e a outra, para dar início a uma redução de nossa carga fiscal, principalmente nos impostos mais agressivos à racionalidade de uma economia de mercado.
Os dados mais recentes sobre o nível de investimentos no Brasil mostram uma situação interessante. Com base nos últimos dados do IBGE, Fábio Ramos, economista que trabalha também na Quest, calculou a relação formação bruta de capital sobre PIB para alguns MACROSSETORES. Se considerarmos só o setor privado, menos a indústria da construção civil, essa relação já é hoje compatível com a das economias européias. Já é um passo de gigante em relação ao passado. É nos setores da construção civil residencial e na infra-estrutura econômica que os investimentos são ainda baixos. Avanços nesses dois setores dependem de uma ação mais eficaz do governo. No caso da construção civil, volto a discutir neste espaço possíveis medidas para acelerar os investimentos.


LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 64, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
lcmb2@terra.com.br


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