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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
O Copom no caminho certo
A manutenção do juro acima
de 10% não tem mais sentido
econômico, e o corte de meio
ponto é reconhecimento disso
FINALMENTE o Copom voltou a
acelerar o corte da taxa Selic
para 0,5 ponto percentual. O
interessante é que os argumentos
que certamente levaram a essa decisão são os mesmos que existiam há
alguns meses. Talvez a informação
nova disponível seja a clara consolidação da curva de juros a termo no
mercado. Com uma inclinação negativa, isto é, com os juros mais longos na faixa dos 10,3% ao ano, não fazia mais sentido insistir em uma taxa Selic tão elevada.
Por trás dos preços dos principais
ativos financeiros negociados no
Brasil e no exterior está uma mensagem clara: o mercado tem hoje
uma confiança muito grande na
capacidade do Banco Central de
manter a inflação ancorada abaixo do centro da meta de 4,5% ao
ano. A prova disso é que os contratos futuros negociados na BM&F
apontam para um número estável e
ligeiramente abaixo dos 4% ao ano
para o IGP-M nos próximos anos.
Uma leitura correta da mensagem embutida nesses preços precisa ser feita, pois o mercado não costuma ser irracional em questões de
dinheiro. O que os preços futuros
do IGP-M nos dizem é que, se houver alguma mudança na dinâmica
de preços na economia brasileira, o
Banco Central vai aumentar os juros com objetivo de trazer a inflação para o centro da meta. E vai
conseguir. Havia muito não víamos
esse tipo de confiança de longo prazo no controle dos preços no Brasil.
E por isso a curva de juros está tão
negativamente inclinada.
Em razão dessa leitura do mercado, os juros que influenciam as decisões de empresas e consumidores
já estão muito abaixo da taxa Selic.
Portanto a manutenção de juros
acima de 10% ao ano -nível que
me parece correto para a Selic-
não tem mais sentido econômico, e
a volta dos cortes de 0,5 ponto nas
reuniões do Copom é apenas um
reconhecimento disso, inclusive na
questão da confiança na ação de
nossa autoridade monetária.
Eu não tenho medo de dizer hoje
que os juros não são mais um limitador importante de nosso
crescimento. Se algo precisa ser
feito pelo governo para consolidar
esse bom momento que estamos
vivendo, isso está no campo fiscal.
Observamos um aumento expressivo da arrecadação real de tributos
em razão de um crescimento mais
acelerado da atividade. Esse maior
volume de recursos no caixa do governo, com a economia de juros em
razão do novo equilíbrio do mercado, precisa agora ser usado com
maior sabedoria e menos populismo. Uma parte dessa folga em nossas contas fiscais precisa ser canalizada para investimentos em infra-estrutura, e a outra, para dar início
a uma redução de nossa carga fiscal, principalmente nos impostos
mais agressivos à racionalidade de
uma economia de mercado.
Os dados mais recentes sobre o
nível de investimentos no Brasil
mostram uma situação interessante. Com base nos últimos dados do
IBGE, Fábio Ramos, economista
que trabalha também na Quest,
calculou a relação formação bruta
de capital sobre PIB para alguns
MACROSSETORES. Se considerarmos só o setor privado, menos a
indústria da construção civil, essa
relação já é hoje compatível com a
das economias européias. Já é um
passo de gigante em relação ao passado. É nos setores da construção
civil residencial e na infra-estrutura econômica que os investimentos
são ainda baixos. Avanços nesses
dois setores dependem de uma
ação mais eficaz do governo. No caso da construção civil, volto a discutir neste espaço possíveis medidas para acelerar os investimentos.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 64, engenheiro e
economista, é economista-chefe da Quest Investimentos.
Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações
(governo FHC).
lcmb2@terra.com.br
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